Compreender o sentido do Natal

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Ao invés de alimentar o espírito comercial do Natal que muitas vezes aumenta o endividamento das famílias, deveríamos conceber o Natal como oportunidade de vida nova, marcada pelo bem querer, pela amizade autêntica, pelo convívio familiar fraterno, pelo senso de justiça, pela honestidade que constrói relações de confiabilidade.

Final de dezembro é marcado por duas grandes festas com intervalo de uma semana: Natal e Ano Novo. Em quase todos os lugares do mundo estas festas são celebradas de diversas formas: presentes, ceias especiais, árvore de Natal, fogos de Ano Novo, viagens, férias, encontros familiares, propósito renovados, programações especiais, corrida as lojas, promoções especiais são algumas das manifestações destas duas grandes festas que marcam o final de ano.

Mas o que esperar do novo ano? O que de fato celebramos no Natal? O que significa desejar “Feliz Natal” e “Feliz Ano Novo”? Será que ainda compreendemos o sentido destas festas? O que estamos ensinando as novas gerações sobre Natal e Ano Novo?

 Natal significa nascimento, renovação, vida nova. Os evangelhos de Mateus e Lucas descrevem os acontecimentos que marcaram o nascimento de Jesus em Belém, como sinal de esperança e de boa nova. De uma festa cristã, instituída pelo Papa Julio I no ano de 350 para marcar o nascimento de Jesus, tornou-se uma festa universal celebrada todos os anos.

Como não poderia deixar de ser, em tempos de globalização e de uma vida movida pelo comércio, o Natal de tornou um grande acontecimento comercial: as lojas mobilizam suas vendas, pois é a grande oportunidade de melhorar os lucros; os comerciais focalizam os holofotes para “o bom velhinho” que deve presentear a todos; as famílias correm as lojas para comprar seus presentes, porque afinal de conta “Natal é presentear quem se ama”. E assim se construiu uma cultura natalina que pouco lembra do sentido original do Natal.

Em tempos incertos, de crise ambiental, política, econômica, institucional e ética que tomou conta do Brasil, o Natal poderia se tornar a oportunidade de renovarmos nosso modo de vida, nossas condutas, nosso modo de nos relacionarmos, nossa percepção sobre as coisas.

Ao invés de alimentar o espírito comercial do Natal que muitas vezes aumenta o endividamento das famílias, deveríamos conceber o Natal como oportunidade de vida nova, marcada pelo bem querer, pela amizade autêntica, pelo convívio familiar fraterno, pelo senso de justiça, pela honestidade que constrói relações de confiabilidade.

Talvez seja o momento de ensinarmos as novas gerações que o Natal não se resume a dar presentes, enfeitar as vitrines das lojas para atrair consumidores, encher as casas com luzes ou preparar uma farta ceia.

Precisamos ensinar as novas gerações que o Natal é um momento de vivência interna de transformação que possibilita sermos melhores, mais autênticos, mais fraternos, mais tolerantes, mais amigos, mais honestos, mais solidários. Mas como o melhor ensinamento é o próprio exemplo, então não basta ensinar as novas gerações o sentido do Natal, pois precisamos testemunhar pelas nossas atitudes o Natal como renovação, esperança, vida nova. Assim, talvez, possamos compreender que a vida não se resume a ganhar dinheiro e a viver dia após dia nossa pobre existência de consumidores.

A vida é oportunidade de deixarmos nossa contribuição ao mundo, de ensinarmos aos outros que é possível construir um mundo melhor se vivermos coletivamente pautados pelo senso de justiça, do amor, da esperança e do bem querer. Talvez este seja um dos principais sentidos do Natal e é por isso que o Jesus Menino não nasceu em berço de ouro num palácio, junto aos poderosos, mas optou em nascer numa gruta fria de Belém, junto aos humildes.

O Natal pode nos ajudar a compreender que vida nova ou renovada não se materializa na troca de carro, na compra de presentes ou na ostentação dos enfeites natalinos.

A Boa Nova do nascimento de Jesus acontece quando somos capazes de sermos melhores seres humanos, quando adquirimos um senso de coletividade, quando somos capazes de compreender que nosso estar no mundo é finito, inacabado e limitado, não importando nossa condição social, nossa cor da pele, nossa crença religiosa ou nossa opção política.

O Natal de Jesus pode nos ajudar a compreender e a ensinar nossas crianças que fazer parte do mundo é responsabilizar-se por ele, para que possamos ter um lugar saudável e digno de viver para todos. Nesse sentido o Natal se torna pedagógico, formativo, educacional.

Como sabiamente nos diz Hannah Arendt, “a educação é o ponto em decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens”.

O nascimento dos novos que chegam são sempre sinal de renovação de esperança, de continuidade da espécie.

Ainda segundo Arendt, “a educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las do nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos”. Por isso Natal, significa também acolhida, responsabilidade, compartilhamento. “Renovar um mundo comum”, capaz de ser morada para todos, e não só para aqueles que se apossaram da riqueza e do poder, talvez seja o maior ensinamento do Natal e por isso precisa ser celebrado todos os anos.

Desejo a todos e todas um FELIZ NATAL!

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

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