Conhecendo Judaísmo pelos testemunhos de um religioso

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Numa palestra sobre Judaísmo numa escola pública municipal de minha cidade, Passo Fundo, a meu convite, aconteceram episódios que relatarei agora como forma de conhecimento e reconhecimento dos conteúdos essenciais do Judaísmo.

Conheço Berel Natan Engelman há mais de 10 anos. Ele é a liderança espiritual da Comunidade Judaica de Passo Fundo  por mais de 25 anos. Uma pessoa sempre disponível, aberta, paciente e que encoraja professores e professoras que tem a incumbência de trabalhar o conhecimento das diferentes religiões em sala de aula.

Engelman participa há mais de 10 anos do CONER – Seccional Passo Fundo. O Coner é uma entidade da sociedade civil, organizada por representantes das diferentes religiões, e que cumpre papel importante de orientar, fomentar e exigir das redes de ensino a implantação, a organização e a oferta do ensino religioso como área de conhecimento no ensino fundamental e no ensino médio (caso específico do RS).

O CONER-RS, fundado no ano de 2004, tem, entre outras finalidades: “articular a ação conjunta de todas as denominações associadas, com o objetivo de somar forças na busca de meios e condições que assegurem a tutela do direito à liberdade de consciência religiosa e do direito ao Ensino Religioso, como parte integrante da formação básica do cidadão”.

Numa das primeiras palestras sobre Judaísmo numa escola pública municipal de minha cidade, a meu convite, aconteceram episódios que relatarei agora como forma de conhecimento e reconhecimento dos conteúdos essenciais do Judaísmo.

“Chegando à escola, Berel foi recebido por alguém da direção. Eu estava com duas turmas de alunos de oitavo e nonos anos, aguardando sua presença.

Assim que adentrou na sala, me disse “Shalom”, que significa em hebraico paz, harmonia, bem-estar e pode ser usado idiomaticamente para significar olá e adeus como saudações.

Shalom



Engelman apresentou-se, organizou seu material, e expôs o seu conteúdo às turmas que demonstravam certo interesse, uma vez que já haviam sido preparados por seu professor em aulas anteriores. Mas revelava-se bastante tenso.

Dividiu a sua apresentação (palestra) em PowerPoint em Fundamentos da fé judaica e em conhecimentos sobre o Holocausto Nazista (genocídio ou assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus durante a II Guerra Mundial).

Quando passou da primeira meia hora de apresentações, a tensão do palestrante veio a tona. Berel contou para os mais de 35 alunos que, desde a entrada na escola, vira muitas suásticas (no pórtico da entrada, nas paredes e nas classes da sala). Perguntou se os alunos sabiam do seu significado. Eles responderam que não.

Os alunos ficaram estupefatos e chocados com as informações que receberam logo após este momento. Não faziam ideia e nem tinham a dimensão do que este símbolo nazista representa como sofrimento na memória recente do povo judeu no mundo. Claro que, alguns poucos, continuaram a não entender o porquê de tamanha ênfase a este conteúdo.

Foi uma grande aula de história e um grande depoimento de um judeu revelando sua indignação e sofrimento com relação a este símbolo tão emblemático usado por Hitler na Alemanha, durante a implantação do regime nazista.

Mas, o que eu aprendi, como professor, viria depois. No final, ao sair da sala, Berel Natan Engelman pediu para que eu o acompanhasse até a saída da escola. Quando chegamos na saída, mostrou-me um desenho do símbolo nazista desenhado numa das pilastras da entrada da escola. Pediu licença para segurar a minha mão. Neste momento, apagamos juntos o símbolo, que fora desenhado através de um giz. Este gesto marcou-me profundamente. Aproximou-me muito deste ser humano que, além de cumprir com suas tarefas religiosas, faz o possível para ajudar as gerações jovens entenderem a crueldade do nazismo e a importância do seu povo e de sua cultura no Brasil e no mundo.

Engelman continuou e continua generoso em sua missão de abrir a sinagoga para a “visita de conhecimentos” que passamos a realizar uma vez ao ano, com estudantes do nono ano do Ensino Fundamental.

Continua, também, disponível a dar palestras sobre Fundamentos da fé judaica. A visitação ao Cemitério Israelita também pode ser agendada clicando aqui, onde você encontrará os contatos e telefones das pessoas responsáveis.

Assim escreveu:

“Quero deixar meu depoimento em relação às diversas visitas realizadas pelo Professor Nei Alberto Pies e por outros Professores juntamente com seus alunos em nossa Sinagoga (Templo Judaico). A experiência vivida certamente é muito positiva para ambos os lados, mas ter convivido esses momentos, seguidos de várias perguntas formuladas pelos alunos, só vem reforçar o que nós como entidade religiosa pensamos em relação à proximidade com outras pessoas de culto e fé diferente da nossa. Parabenizo pela iniciativa das visitações junto aos locais sagrados tendo a certeza que esta juventude crescerá com mais informações, sabendo respeitar as culturas diversas existentes em nossos país. Parabéns e Shalom! (Berel Natan Engelman, Presidente e Líder Espiritual da Sociedade União Israelita de Passo Fundo)

Sua generosidade o fez sistematizar também um conjunto de perguntas de estudantes que são mais comuns sobre o judaísmo. Estas perguntas servem como subsídio das aulas, antes da visitação à Sinagoga.




JUDAÍSMO – PERGUNTAS:

COMO SE CHAMA O LIVRO SAGRADO DOS JUDEUS?

O QUE É SHABAT?

POR QUE SE ACENDEM DUAS VELAS NO SHABAT?

O QUE É SHALOM ALEICHEM?

O QUE SIGNIFICA KIDUSH?

COMO SE CHAMA OS PÃES DOS JUDEUS?

POR QUE OS MENINOS JUDEUS SÃO CIRCUNCIDADOS?

EXISTE ALGUMA CERIMÔNIA PARA AS MENINAS JUDIAS QUANDO NASCEM?

QUAL O SIGNIFICADO DO BAR-MITZVÁ?

QUAL O SIGNIFICADO DO BAT-MITZVÁ?

POR QUE O NOIVO QUEBRA UM COPO NO FINAL DA CERIMÔNIA DE CASAMENTO?

POR QUE É PROIBIDO AOS JUDEUS CASAREM-SE COM UMA PESSOA QUE NÃO SEJA DA MESMA RELIGIÃO?

POR QUE SE COBRE O CORPO LOGO APÓS O FALECIMENTO?

POR QUE SE COLOCAM VELAS ACESAS AO LADO DO CORPO DO FALECIDO?

COM QUAL ROUPA O FALECIDO SERÁ ENTERRADO?

POR QUE OS CAIXÕES NÃO SÃO ORNAMENTADOS E FLORES NOS ENTERROS JUDAICOS?

EXISTE UMA ORAÇÃO ESPECÍFICA PARA OS MORTOS?

POR QUE É COSTUME COLOCAR PEDRINHAS NOS TÚMULOS?

EXISTEM DATAS ESPECÍFICAS PARA LEMBRAR DOS FALECIDOS?

A LEI JUDAICA PERMITE A CREMAÇÃO?

POR QUE OS SUICIDAS SÃO ENTERRADOS SEPARADAMENTE?

UM JUDEU PODE SER ENTERRADO EM UM CEMITÉRIO ECUMÊNICO?

COMO O JUDAÍSMO ENTENDE A VIDA A PÓS A MORTE?

POR QUE OS HOMENS JUDEUS USAM UMA KIPÁ (SOLIDÉU)?

O QUE É TALIT?

O QUE É MEZUZA?

O QUE É TEFLIN?

O QUE É MAGUEN DAVID?

O QUE É MINYAN?

O QUE É SHAMÁ ISRAEL?

O QUE É SHOFAR?

O QUE É MITZVÁ?

EXISTE UMA ORAÇÃO ESPECÍFICA PARA VIAGENS?

A PALAVRA AMÉM É SIGNIFICANTE PARA OS JUDEUS?

POR QUE AS MULHERES SENTAM SEPARADAMENTE DOS HOMENS NA SINAGOGA?

O QUE SE FAZ COM OS LIVROS SAGRADOS QUE NÃO PODEM MAIS SER UTILIZADOS?

POR QUE OS JUDEUS ESCREVEM D’US COM APÓSTROFE?

UM CRISTÃO PODE ASSISTIR AO SERVIÇO RELIGIOSO NA SINAGOGA?

O QUE É COMIDA KASHER?

POR QUE OS JUDEUS NÃO COMEM CARNE DE PORCO E CAMARÃO?

OS JUDEUS COMEMORAM A PÁSCOA?

O QUE É MATZÁ?

COMO CHAMA O ANO NOVO JUDAICO?

O QUE É O DIA DO PERDÃO PARA OS JUDEUS?

QUAL A DIFERENÇA DE CHANUKÁ E CHANUKIÁ?

QUAL A DIFERENÇA ENTRE OS TERMOS HEBREUS, ISRAELITAS, JUDEUS E ISRAELENSES?

NA RELIGIÃO JUDAICA, O HOMEM VALE MAIS DO QUE A MULHER?

QUAL O LOCAL MAIS SAGRADO PARA OS JUDEUS?

JESUS ERA JUDEU?

POR QUE OS JUDEUS SE CUMPRIMENTAM COM A PALAVRA SHALOM?



Sugestões de uma prática pedagógica

Questões para aprofundar conhecimentos da cultura e da história dos judeus no Brasil.

Esta atividade pode ser aplicada a estudantes do sétimo ano, segundo trimestre, Unidade temática “Manifestações religiosas/crenças religiosas e filosofias de vida”, Objeto de Conhecimento: “Lideranças religiosas” e “Habilidades”: reconhecer papéis atribuídos às lideranças de diferentes tradições religiosas/identificar lideranças religiosas presentes no espaço municipal e suas contribuições à formação espiritual/exemplificar líderes religiosos que se destacam por contribuições à sociedade.

No nono ano, Unidade temática “Crenças religiosas e filosofias de vida”, Objeto de Conhecimento “Vida e morte”, habilidades “identificar sentidos de viver e morrer em diferentes tradições” e “caracterizar ritos fúnebres de diferentes tradições”.

Esta prática pedagógica também pode ser aplicada a estudantes do Ensino Médio.

  1. Acesse o material do CONIB(https://www.conib.org.br/historia/). Neste site descobrimos que a comunidade judaica no Brasil é a segunda mais importante da América Latina, atrás da Argentina e à frente do México, com 120 mil entre os 204 milhões de brasileiros, ou seja, 0,06% da população. Qual é a conclusão que podemos chegar sobre a importância dos judeus no Brasil, estudando conteúdo do link citado?
  •  Quais das questões listadas na parte final do texto acima por Berel Natan Engelman, Líder Espiritual da Sociedade União Israelita em Passo Fundo, correspondem às suas curiosidades sobre o judaísmo?
  • Que livros ou filmes você já viu sobre o Holocausto a que o povo judeu foi submetido na II Guerra Mundial? O que estes filmes ou livros demonstram?
  • Qual é o sentido e o cuidado que os judeus têm para com seus mortos, sobretudo quando tratam do Beit Kvarot (lugar dos sepulcros) ou (casa da eternidade), conforme matéria (https://www.sinagogapf.com.br/chevra_kadisha)?

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