Devemos honrar a quem tem sido desprezado, roubado em sua honra e dignidade, visto que os demais não necessitam disso.
Basta chegar a semana ou o mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra para nos depararmos com inúmeros protestos nas redes sociais apelando a uma frase atribuída ao ator negro americano Morgan Freeman: “O dia em que pararmos de nos preocupar com consciência negra, amarela ou branca e nos preocuparmos com a consciência humana, o racismo desaparece.” Logo, não faria sentido dedicar um dia do ano à consciência negra.
Será que esta linha de raciocínio está correta? Bastaria parar de falar de um assunto para que ele perdesse a importância e desaparecesse?
Bem, parece que Martin Luther King, o pastor protestante que liderou a luta pelos direitos civis dos negros americanos, discorda veementemente: “Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam. É agradável esperar que as coisas sumam ignorando-as, mas chega um tempo em que se torna necessário dizer “Pare! Isso é inaceitável!”.
Interessante ressaltar que nunca vi ninguém protestando no “DIA DAS CRIANÇAS”, alegando que somos todos HUMANOS, independentemente da idade. Nunca vi ninguém protestando no “DIA INTERNACIONAL DA MULHER”, alegando que independentemente do gênero, somos todos humanos. Então, não entendo a razão que leva alguns a protestar contra o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. De fato, somos todos humanos, mas nenhuma etnia sofreu tanto nos últimos séculos do que a negra. Digo, sofreu e ainda sofre nas mãos de outros pertencentes à mesma raça, a humana.
Morgan Freeman que me perdoe, mas deixar de falar de um assunto não vai fazê-lo desaparecer.
Não precisamos de um dia dedicado à consciência humana, assim como não precisamos celebrar o Dia do Adulto ou o Dia do Homem, ou mesmo o Dia do Orgulho Hétero (sim, não vejo nada de errado em que os homossexuais tenham um dia para celebrar a luta por seus direitos civis). E respaldo meu posicionamento nas Escrituras.
Antes de citar o trecho bíblico no qual me apoio, devo salientar que creio que a igreja de Cristo nada mais é do que o embrião da nova humanidade. Portanto, muitas das regras apostólicas que deveriam ser seguidas pelas igrejas, são igualmente pertinentes na organização social do novo mundo sonhado pelos profetas.
Tomando o corpo humano como analogia, Paulo diz que os membros que têm sido menos honrados, a esses deveríamos honrar muito mais, enquanto que, os que têm sido prestigiados ao longo da história não teriam necessidade disso. Segundo a lógica do apóstolo, isso certamente contribuiria para que não houvesse divisão no corpo, de modo que se corrigisse uma injustiça, e que todos tivessem igual cuidado uns dos outros. “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1 Coríntios 12:26).
À luz disso, alguém ainda insistiria em dizer que precisamos celebrar o DIA DO HOMEM, ou o DIA DA CONSCIÊNCIA BRANCA, ou o DIA DO ADULTO ou do ORGULHO HÉTERO? Chega a ser cômico!
Devemos honrar a quem tem sido desprezado, roubado em sua honra e dignidade, visto que os demais não necessitam disso. Ou você conhece alguém que deixou de ser empregado por ser branco? Ou alguém que teve seu salário reduzido por ser homem? Ou foi privado de algum direito por ser hétero?
Como diz a profecia, “todo vale será exaltado, e todo o monte e todo outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará, e toda a HUMANIDADE juntamente a verá, pois a boca do Senhor o disse” (Isaías 40:4-5). Nosso trabalho é “preparar o caminho do Senhor”, isto é, nivelar o terreno, dar voz aos que não têm voz, tornar visíveis os invisíveis, honrar os que foram desonrados ao longo do processo histórico, corrigindo assim a injustiça cometida pelas gerações que nos antecederam.
Consciência humana é toda e qualquer consciência. Assim, “consciência humana” é uma expressão toda, unificada, em que o “humana” funciona não como adjetivo do substantivo consciência, mas apenas como uma peça reiterativa. Na sociologia, não faz sentido falar em “consciência humana”, pois a ideia de consciência X ou Y está ligada à ideia de identidade social. Há, então, “consciência negra”, “consciência operária”, “consciência feminista” etc. (Filósofo Paulo Ghiraldelli) Leia mais: https://www.neipies.com/existe-consciencia-negra-mas-nao-existe-consciencia-humana/
Autor: Hermes C. Fernandes
Edição: Alex Rosset