Consumimos. Logo, existimos

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Propagandas, novelas e filmes vendem promessa
de que a felicidade das pessoas está nas coisas e
não nelas próprias. Baseiam-se mais em valores de
consumo materiais do que em valores espirituais,
culturais ou artísticos.


Consciência ambiental não rima com consumismo. As crianças de hoje já estão sensibilizadas para a proteção do ambiente. Mas será que, na era do descartável, elas têm noção dos malefícios do consumo exacerbado?

É em casa que se aprende a conviver com as pressões da sociedade de consumo. Mas o estímulo e o apelo ao consumo produzem magnetismos sociais tão potentes que fica difícil convencer adolescentes e jovens de que não possuir determinados objetos e coisas não interferem em seu reconhecimento e convivência social.

Daí o nosso maior desafio: competir com as sofisticadas estratégias de propaganda e marketing pensadas exclusivamente para a venda de produtos. Isto quando nós também não somos assim considerados produtos, ou para manipular ou mesmo vender.

Os meios de comunicação, como a sociedade em geral, nos últimos anos, reconheceram a gravidade da situação do planeta. Telejornais e reportagens, destacam, incisivamente, a necessidade de mudarmos hábitos e modos de vida para contribuir com a sustentabilidade do planeta, dando-nos a impressão de que estão fazendo um trabalho de relevância social. Contraditoriamente, segundos após, apresentam as mais sofisticadas e elaboradas propagandas que nos apresentam produtos para o consumo, não estabelecendo quaisquer critérios e nem limites para consumir.

Propagandas, novelas e filmes nos vendem a promessa de que a felicidade das pessoas está nas coisas e não nelas próprias. Baseiam-se mais em valores de consumo materiais do que em valores espirituais, culturais ou artísticos.

“A história das coisas” (The Story of Stuff), documentário de apenas 20 minutos que fala sobre o consumo exagerado de bens materiais e o impacto negativo que esse consumo causa no meio ambiente. 



Nossas escolas, por sua vez, há muito tempo, vêm abordando valores e conceitos que buscam a formação de uma consciência crítica do consumo e de posturas de respeito ao meio ambiente. Destacam-se os conceitos do respeito, preservação e sustentabilidade.

Mas será que estes conceitos têm alguma força para se contrapor a uma organização e estrutura de sociedade, que tem no consumo um de seus maiores pilares?

Qual é a validade das ideias, se elas não se transformam em atitudes e hábitos?

A sociedade organiza seus meios de produção, seguindo uma lógica de consumismo. Produtos são criados e lançados no intuito de nos convencer de que consumi-los é como uma condição de participar da vida em sociedade. Não consumir determinados produtos é como “estar fora de”, não participar da dinâmica da comunidade global. Daí a necessidade das propagandas, sempre bem elaboradas, criativas, dizendo sempre aquilo que desejamos ver, ouvir e saber.

O certo é que as novas gerações já têm a consciência da crise ambiental. Contudo, consciência ainda não se traduziu em atitudes e hábitos cotidianos. É que outras ideias, definitivamente, são mais fortes e decisivas. Estas ideias traduzem-se na máxima “Consumo, logo, existo”.

Na filosofia existe a máxima “Penso, logo existo”, do filósofo René Descartes, importante contraponto para inverter a lógica do consumo. No mundo consumista, mecanismo bem eficaz para operar uma venda é justamente não dar muito tempo para o “cliente” pensar, pois quem pensa mais, compra menos. Ou só compra o que é necessário.

A crise ambiental é também uma crise da humanidade e se produziu de forma criativa e engenhosa, sem perceber os limites do planeta. As grandes inovações sempre buscaram elevar a nossa qualidade de vida, mas também criaram um conjunto de necessidades que estão muito além daquilo que realmente precisamos. É por isso que consumimos muito além do que necessitamos.

É importante destacar que todo conhecimento gera compromissos. Estes compromissos já foram assumidos há muito tempo por estudiosos, líderes sociais e ambientalistas, que nem sempre foram bem compreendidos. Precisamos chegar ao limite para reconhecermos que os nossos interesses individuais – econômicos – não podem estar acima dos interesses coletivos.

O que ainda falta acontecer para que mudemos as nossas práticas de consumo a partir das nossas consciências? Até quando continuaremos atribuindo responsabilidade às crianças, adolescentes e jovens que se tornaram seres manipulados pelo sistema para sustentar um sistema social, produtivo e econômico baseado no consumismo sem freios e sem critérios?

Você já reparou que a maioria das propagandas e anúncios tem por alvos sempre as crianças, adolescentes e jovens. Por que será?

De acordo com a própria Constituição Federal, crianças devem ser preservadas de uma influência abusiva da publicidade. Deveríamos conhecer as consequências de deixar as crianças expostas à comerciais quando elas ainda não têm a maturidade para diferenciar as compras necessárias do consumismo desenfreado.

* Publicado em Livro Conviver, educar e participar: nos palcos da vida, 2014.



Proposta de uma atividade pedagógica

Esta atividade pode ser aplicada a estudantes do Nono Ano do Ensino Fundamental ou em turmas do Ensino Médio. No Nono Ano, Unidade temática: Ética. Objeto de Conhecimento: Refletindo sobre temas morais e éticos/Liberdade Habilidades: EF08FL03PF01 Examinar temas e problemas que envolvem a vida cotidiana do adolescente, reconhecendo possibilidade de fazer escolhas e justificá-las.

Questões para pensar:

Após a leitura do texto (individual ou em grupo, na turma), responder:

  1. Consumimos. Logo, existimos. Por que será que o autor pensou neste título? O que você entendeu?
  2. Por que a maioria dos jovens, apesar de terem consciência ambiental, ainda são manipulados na hora de consumir e comprar produtos nem sempre tão urgentes e necessários para a sua vida?
  3. Qual é a principal mensagem do Documentário “A história das coisas”? Por que o consumo exagerado de produtos gera graves impactos no meio ambiente?
  4. Defina, em algumas frases, a “Sociedade do Consumo”.
  5. Por que o consumo tornou-se importante fator de afirmação social, sobretudo para os adolescentes e jovens?
  6. Assista esta reportagem e dê a sua opinião sobre propaganda abusiva das propagandas na vida das crianças, adolescentes e jovens. https://youtu.be/rU6LNVdOAQs?t=40

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