Esse mês de outubro tem que ser de alerta,
de espanto, de protesto dos que não renunciam
à educação como processo de humanização!
Hannah Arendt em A banalidade do mal, evidencia que viu no julgamento de Adolf Eichmann – criminoso nazista – um burocrata preocupado em cumprir ordens, para quem as ordens substituíam a reflexão. Foi muito criticada pelos que queriam que ela o julgasse um monstro, mas ela foi além. Apontou o sistema que banalizou o mal.
Para torturar, matar um semelhante, é necessário que não se trate mais de um semelhante, uma pessoa que pensa, chora, ama, sofre. É necessário deixar de ser gente, tornar-se um elemento, um judeu, um negro, um gay, um terrorista, um comunista, um número, um vínculo, uma vaga.
A desumanização do objeto da violência é fundamental pra um sistema voltado para um grupo dispor da vida e do sofrimento dos outros – o totalitarismo. Torturar, matar, tirar direitos de um semelhante se choca com os valores herdados ou aprendidos.
O professor Ladislaw Dowbor em seu artigo sobre o filme Hannah Arendt, cujas reflexões registrei acima, contou que seu torturador – de quando preso na ditadura militar – lhe apresentava relatos de outros prisioneiros para que confirmasse, ganhando rendimento, pois só queria mesmo era ser promovido. Treinado para conseguir resultados e premiado por eles – meritocracia – o que o impedia de ver os torturados como seres humanos iguais a si.
As iniciativas que pautam a educação brasileira seguem nesse sentido perigosíssimo. Números e escalas orientam os discursos, assépticos de gente, cínicos ao comparar realidades bem diversas: público – privado, países ricos – países pobres; perversos ao colocar em suspeita o educador e estimular a filmagem como obtenção de “provas” pelo estudante, suprimindo a ética e a amorosidade da relação educacional.
“A pergunta é: a quem interessa manter a escola pública tão sufocada e tão maltratada? (Nei Alberto Pies)
Lembrem que o fascismo se nutre da destruição do diálogo! Não à toa, se propõe a ordem cívico-militar nas escolas.
Quando professores e estudantes se tornam meros números, “vínculos”, vagas, o fechamento de bibliotecas escolares, de setor pedagógico, de refeitório, por necessidade do sistema de reduzir custos é absorvido.
Não há prurido nenhum em romper processos pedagógicos suprimindo turmas e reenturmando estudantes em qualquer período do ano, mudando os professores, os colegas, as formas de avaliação. Como também não tem em demitir profissionais por adoecerem, subtrair salário e carreira.
“São ordens que recebemos” – repetem as Coordenadoras Regionais de Educação, selecionadas para tal. Ordens que visam o sucesso do sistema do “estado mínimo”, não o sucesso da educação. Ordens substituem a reflexão, afirmava Hannah, lembram?
Esse mês de outubro tem que ser de alerta, de espanto, de protesto dos que não renunciam à educação como processo de humanização! Um salve aos professores e às professoras que lutam. É por todos nós que o fazem!