A fé é um instrumento valioso que ajuda as pessoas a lidarem com as adversidades da vida, entretanto, neste momento difícil em que tantas vidas já foram perdidas, ficar em casa é uma das melhores formas de prevenção contra o COVID-19.
Desde o início da Pandemia, provocada pelo vírus COVID-19, há uma discussão na sociedade brasileira sobre a abertura e o funcionamento presencial dos templos religiosos. A polêmica tem dividido a opinião pública, assim como setores do judiciário brasileiro.
O debate tem se dado em função da liberação de cultos religiosos pelo ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STF), Kássio Nunes. O referido ministro acatou um pedido da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE), o qual solicitava a liberação de cultos dos templos religiosos durante a Pandemia. A entidade religiosa alega que os prefeitos e os governadores não poderiam proibir um direito individual das pessoas, em razão do Brasil ser um estado laico.
Os que argumentam serem favoráveis defendem a tese de que a prática religiosa in loco é um auxiliar na manutenção da saúde mental do brasileiro em função do conforto espiritual que as igrejas podem ofertar. Sendo assim, os serviços religiosos devem ser considerados atividades essenciais, bem como supermercados, postos de gasolinas, farmácias, etc.
Por outro lado, alguns segmentos entenderam que as entidades religiosas precisam da suspensão de suas atividades para evitar possíveis aglomerações sujeitas à disseminação do vírus. As comunidades cristãs evangélicas e católicas têm por tradição a organização de eventos de massa. Por exemplo, ao longo do ano a Igreja Católica organiza procissões, missas campais, festivais de músicas, acampamentos de orações, festas domiciliares; e as missas costumam aglomerar centenas de pessoas.
Lideranças das religiões evangélica, católica e muçulmana contam como tem mantido as atividades no período de isolamento.
Vale lembrar que de acordo com o censo do IBGE realizado em 2010, o número de católicos no Brasil é de 64% da população. Mesmo com a queda do número de fiéis e muitos não indo às igrejas, a presença semanal de adeptos católicos nos templos é significativa.
Para o segmento evangélico, é interessante pontuar considerações a respeito da abertura dos templos. Os evangélicos têm crescido muito nas últimas décadas, os dados do IBGE de 2010 apontam 22,2% da população brasileira. A fé evangélica é expressada em eventos com grande quantidade de pessoas. São realizados anualmente: show, cultos, passeatas, festas religiosas e outras atividades.
No tocante ao período da pandemia, líderes religiosos evangélicos, conhecidos nacionalmente, posicionam favoravelmente que os templos religiosos são atividades essenciais e não devem ser fechados. Um dos fatores para tal é o simples fato que as atividades religiosas são empreendimentos geradores de quantidades financeiras gigantescas, uma vez que o fiel colabora financeiramente com os produtos vendidos.
Interessante é que o Ministro Kássio Nunes atendeu um pedido de uma instituição que legalmente não poderia solicitar tal questão para o STF. O próprio ministro reconhece isso no parecer para justificar o seu voto. Entretanto, a questão levantada é a de que Kássio Nunes sinalizou por meio do seu voto, apoio aos segmentos da comunidade evangélica e católica, corroborando para o discurso negacionista assumido pelo governo federal desde o início da crise sanitária. Não se pode esquecer que ele foi indicado pelo Bolsonaro ao STF com a aposentadoria do decano Celso de Melo.
O pedido da ANAJURE é reflexo de um pensamento negacionista instalado em algumas ramificações religiosas do Brasil. Aglomerar implica dar chance ao vírus contaminar outras pessoas. Infelizmente, o sistema de saúde está em colapso e o governo federal pouco faz para reverter tal situação.
A fé é um instrumento valioso que ajuda as pessoas a lidarem com as adversidades da vida, entretanto, neste momento difícil em que tantas vidas já foram perdidas, ficar em casa é uma das melhores formas de prevenção contra o COVID-19.
Caminhos da fé: religiões aprendem lições com a pandemia no RS. Assista!
Autor: Marcos Vinicius de Freitas Reis
Edição: Alex Rosset