Crianças degustam alimentos que elas mesmas plantam

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As crianças de uma escola infantil da cidade de Passo Fundo, EMEI Rita Sirotsky, se envolvem num projeto de horta escolar, com o intuito de aprender, através de práticas, sobre nutrição e alimentação saudável. Elas vivenciam desde sua tenra idade a importância de cuidar do solo, de cultivar hortaliças e colher alimentos saudáveis para manter boa saúde, no prato de comida que é servido em sua alimentação.

Cultivar alimentos é uma forma de educar na perspectiva da formação integral do ser humano, educando para a necessidade e importância de uma boa alimentação. O ser humano deve ser pensado em sua totalidade, contemplando todas as suas dimensões que fazem parte da sua essência e existência.

Este projeto iniciou em agosto de 2019, a partir de uma palestra de outro projeto – Escola de Pais – sobre nutrição junto à comunidade escolar. Escola de Pais é um projeto onde a Escola forma os pais, com palestras sobre temas de importância para os pais, como limites na educação infantil, alimentação, auto estima, o olhar do adulto para a criança.

Como na escola havia uma área de terra com uma horta abandonada, um pai se dispôs a fazer uma primeira limpeza e também o primeiro plantio de mudinhas para as crianças. De lá para cá, esta horta escolar vem sendo importante referência para outras escolas e para outras iniciativas de alimentação escolar, envolvendo crianças e adolescentes. Esta importância é demonstrada através de uma matéria feita pela UPF TV no ano de 2020. 

Confira! https://fb.watch/khgc5releG/?mibextid=2Rb1fB

Rudimar Gomes, diretor da Escola, fala um pouco mais para a gente sobre esta iniciativa que revolucionou a educação infantil e a relação de toda comunidade escolar (pais e mães, crianças, funcionárias e professoras).

Professor Rudimar, como, ao longo dos últimos anos, a Horta escolar se integrou ao Projeto Político e Pedagógico deste educandário de Educação Infantil?

Rudimar: A horta nasceu naturalmente, não foi pensada como um grande projeto, ela simplesmente nasceu aos poucos. E, como tudo que nasce naturalmente, sem ser imposto, ela se integrou ao projeto da escola, onde as atividades começaram a se integrar com o fazer pedagógico. Muitas aprendizagens são vivenciadas na horta escolar, formas, cores, tamanhos, sabores, enfim um universo de descobertas.

Vejam o antes e o depois do terreno onde foi implantada a horta.

Qual é a finalidade deste tipo de projeto numa escola de ensino fundamental, a partir da educação infantil?

Rudimar: O projeto horta no Ensino Fundamental visa uma continuidade dessa vivência e das aprendizagens que as crianças têm também em contato com natureza. O produzir não está somente ligado a tecnologias e outros projetos impostos, mas pode-se e deve-se produzir a partir da natureza, produzir e poder experimentar o resultado dessa produção.

Além disso, cria-se a prática das hortas nas casas, onde um simples projeto tem resultados econômicos, didáticos e inspirando uma alimentação saudável em nossos alunos.

Como a comunidade escolar, sobretudo os pais e mães, estão envolvidos na horta escolar?

Rudimar: Quem cuida de nossa horta escolar é um pai da escola, ele ajuda as crianças no plantio, a regar as plantas e também na colheita dos produtos. Importante lembrar que a criança, filha desse pai, já não faz mais parte da nossa escola, mas, mesmo assim, o seu amor pelas crianças e pela escola faz com que ele dê continuidade a esse projeto. As mudinhas que são plantadas, vem em forma de doação da Strapasson Comércio de Mudas, uma empresa parceira de nossa escola desde o início da horta.

Estudos apontam a necessidade de relacionarmos formação integral às crianças a partir da relação delas com a natureza. Quais são os indicativos que esta experiência que relaciona educação e natureza já suscita com as crianças atendidas nesta escola?

Rudimar: As crianças começam a compreender de onde vem as coisas, muitas delas não imaginavam que a terra era a responsável por produzir os alimentos. Além disso, é comum o relato dos pais informando o desejo das crianças em criar uma horta em casa. Elas começam a compreender a importância da natureza, o cuidado ao plantar, o compromisso em regar todos os dias e por fim o sabor da colheita dos resultados.

A natureza não é vista como algo distante, até então presente apenas nas florestas e filmes, mas a percepção de que ela está ali, bem próxima e que precisa ser cuidada e protegida é apenas um dos diversos fatores interiorizados.

Quais as orientações ou os cuidados que o senhor recomendaria para escolas que queiram iniciar uma horta escolar?

Rudimar: O cuidado em qualquer projeto a ser iniciado em uma escola é a realidade da escola e o desejo da mesma ante o desafio. Ou seja, tem que ser algo prazeroso, algo que nasce espontaneamente e que não uma obrigação imposta ou uma competição a ser vencida, pois logo ali na frente, se for imposto, as pessoas cansarão e ele se tornará um fardo e, se for uma competição, assim que terminar o jogo, projeto será abandonado.

Quando as coisas surgem naturalmente, elas não são abortadas pelo tempo. Esse projeto nasceu de uma simples palestra, não foi algo criado na cabeça de um e imposto a outros, foi do coletivo e quando o “filho é seu, você cuida”.

Projetos que nascem querendo enaltecer o próprio ego à custas de outros, estão destinados ao fracasso. O projeto deve nascer de uma necessidade, de um momento de reflexão, onde todas as pessoas tenham voz e vez de decidir quando e como fazer.

Qual sua mensagem final aos educadores e educadoras, pais e mães, professores e professoras?

Rudimar: Minha mensagem que fica é que projetos grandiosos nascem da simplicidade. As obras faraônicas do Egito, erigidas para mostrar o poder do líder que se achava um deus, estão lá simplesmente como ruínas de um poder passageiro, pois foram impostas, não houve diálogo e nem empatia com os envolvidos.

Já a democracia dos gregos permanece até hoje, pois foi algo construído em conjunto, que tem como objetivo principal a participação de todos e não apenas o enaltecimento de uma pessoa. Aquilo que é construído por muitas mãos, permanece por mais tempo.

Que todos os envolvidos na educação saibam da minha admiração e respeito, pois são eles que estão todos os dias com a mão na massa, mudando vidas, ampliando horizontes e escrevendo novas histórias através da educação. São eles os protagonistas, são eles os verdadeiros pensadores da era atual.

Conheça também a experiência associativa de dois vizinhos que juntos trabalham uma horta domiciliar. https://www.neipies.com/uma-experiencia-associativa-de-horta-domiciliar-na-cidade/

Fotos: Divulgação/Arquivo pessoal Rudimar Gomes

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns pela iniciativa dessa escola e da concepção norteadora da direção acerca de implantação de projetos. Implantação de projetos padrões por obrigação, nem sempre se traduz em resultados esperados. Vida longa ao projeto!

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