A crise assola o país
como a crase aflige a escrita.
O kraquen não está nos mares,
mas o craque está em campo,
o crack está na rua!
Por trás das cortinas do teatro abandonado
mofa um espetáculo que nunca foi censurado.
A vida só ganha um pouco de graça
quando de graça é a cachaça.
Os dias estão cada vez mais longos
e o dinheiro diário já não quita as 24 horas.
A vida passa feito um curta-metragem
girando eternamente no rolo da rotina…
A TV não te vê, mas te hipnotiza!
É o espelho da beleza
que não reflete o que agoniza.
O céu escuro não leva chuva para o sertão.
E o ser, tão frágil, acha que fumaça é nuvem.
Nu vem o saldo,
nu vem o prato…
Talvez uma prece
ou o apreço de um deputado.
Talvez um desvio
ou um dinheirinho roubado…
A fé,
a febre do ouro.
O suor frio que escorre no couro
e desejo de ter
que supera o de ser
Lutamos com espadas cegas,
sem fio.
Como esses olhos que já não enxergam,
mas que tapam os buracos
de um crânio
vazio…