Pretendo chamar a atenção para possíveis contrastes, pois se o propósito da educação é formar sujeitos ativos e críticos, capazes de perceber as incoerências e pensar estratégias para superá-las, como pode haver um movimento que se opõe à crítica?
Circulam nas diferentes mídias muitos textos e expressões de leitura rápida, que acabam por chamar a atenção do leitor. Ele verifica sua condição emocional do momento e com um clic, pronto! Está selecionada a postagem do instante. Sim, porque é possível, em cada espiadela nas redes, encontrar várias “mensagens” para “abrilhantar” os diferentes períodos do dia.
Tomamos como ponto de partida, duas frases famosas nas redes sociais para nos ajudar a pensar sobre a educação crítica: “Seja um incentivador de pessoas, o mundo já tem críticos demais” e “Educação sem pensamento crítico não é educação, é adestramento.”
Com a exposição frequente, a oscilação do pensamento e as contradições podem ser observadas sem muito esforço, tamanha a mistura/diversidade de conceitos e concepções postadas. O que chama a atenção é o fato de os temas/assuntos serem divergentes em muitas ocasiões, reflexo da ausência de filtro, de um crivo reflexivo-crítico-consciente.
Durante a manhã, por exemplo, pode ser publicada uma citação impactante da artista Frida Kahlo e mais tarde, outra postagem contra a classe artística ou contra a luta feminina em busca de direitos.
Outra expressão bastante famosa é aquela que professa “pais educam e escola ensina”, como se fosse possível fragmentar a educação do ser humano.
Até é possível, mas a fragmentação da instrução, com métodos que visam a aquisição de habilidades separadas por disciplinas, não alcançam com eficiência nem a apropriação das habilidades, nem o conhecimento de natureza informativa e tampouco o pensamento reflexivo e crítico. Mas, por ora, deixemos este assunto para uma outra oportunidade.
A expressão “Seja um incentivador de pessoas, o mundo já tem críticos demais”, não se sustenta, pois o que temos em nosso cenário é justamente o contrário. Os poucos que se arriscam ao trabalho crítico, na tentativa de chamar a atenção para as discrepâncias da sociedade, muitas vezes são considerados como os oponentes, os adversos, os daninhos que não precisam ser considerados.
O ponto central da discussão é sobre o papel da educação na formação crítica. Tomamos como referência outra frase de impacto, muito compartilhada nas redes sociais: “Educação sem pensamento crítico não é educação, é adestramento”. Esta expressão nos leva a pensar no tipo de educação que está sendo ofertada às gerações, incluindo à infância.
Muitos educadores renomados, propõem o desenvolvimento da criticidade, o que só é possível mediante a participação ativa dos alunos. Nossa base legal confere discurso efervescente em favor da curiosidade, do espírito investigador, da criatividade e criticidade. Inclusive, a educação crítica é elemento central de qualquer Projeto Político Pedagógico escolar. Em maioria, as escolas se revelam bastante contrárias ao ensino verticalizado.
Pretendo chamar a atenção para possíveis contrastes, pois se o propósito da educação é formar sujeitos ativos e críticos, capazes de perceber as incoerências e pensar estratégias para superá-las, como pode haver um movimento que se opõe à crítica? Como ocorre o processo educativo que pretende formar o perfil crítico?
O que temos em nossas escolas é o excesso ou a falta de crítica? O tipo de formação que ocorre é com base na reflexão ou no adestramento?
Muitas vezes, é o estudante quietinho, meigo e passivo considerado como exemplo, enquanto o que tenta qualquer ação ativa e crítica é incompreendido, ou visto como problema. Essa é uma dissonância grave, pois ao mesmo tempo que se tem a pretensão pela crítica, ela não é bem-vinda, porque incomoda e desestabiliza.
Num contexto tão “emburrecido”, ao ponto de se considerar “inimigo” aquele que pensa criticamente e faz proposições com o intuito de contribuir e não prejudicar, não é surpresa nos depararmos com uma crítica direcionada ao excesso de crítica. A expressão “Seja um incentivador de pessoas, o mundo já tem críticos demais” é uma grande ironia, reflexo de fragilidade formativa.
O mais intrigante e perigoso de nossa cultura de não-reflexão é que abrimos mão das responsabilidades para com a gente e para com o mundo. Sem reflexão, não geramos conhecimentos. Já sem os conhecimentos, gerados pela reflexão, não temos maiores compromissos senão com a nossa própria ignorância. (Nei Alberto Pies) Leia mais: https://www.revistamissoes.org.br/2015/10/a-cultura-da-nao-reflexao/
O que é importante referir sobre o pensamento crítico é que ele não implica pensar exclusivamente de forma negativa, embora sejam as situações de um certo contexto que chamam a atenção ao ponto de se elaborar uma crítica. Em contextos problemáticos, há muito o que se criticar. Como ignorar, deixar passar despercebido o que nos afeta?
A crítica também não se reduz a encontrar defeitos e falhas, já que coloca em questão a realidade e analisa situações e cenários. Também não pretende mudar a forma de pensar das pessoas ou substituir os sentimentos e as emoções dos outros, mas isso pode acontecer na medida que se tem o conhecimento da crítica construída sobre determinado aspecto.
O pensamento crítico, princípio em falta atualmente, consiste em analisar e avaliar a consistência dos raciocínios, em especial as afirmações que a sociedade considera verdadeiras no contexto da vida cotidiana, ação que coloca as crenças em questão e análise constantes.
Com a crítica todos aprendem. Sem ela, tenho dúvidas! Aceito críticas.
“A filosofia é um conhecimento rebelde na sua essência e supõe seguidores apaixonados por jogar-se por um mundo mais justo, livre do conformismo, da apatia e da mediocridade. A filosofia procura dar à luz os rebeldes que pensam num mundo melhor e transformá-lo com ações concretas. E nisto, estamos juntos, caros amigos dos “Filósofos da Vida”. (Diego Pereira Ríos) Leia mais: https://www.neipies.com/a-rebeldia-do-filosofar/
Autora: Ana Lúcia Vieira
Edição: Alex Rosset