Cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza enquanto expressão de valor da vida: propostas de atividades pedagógicas

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Existe na literatura, independe do gênero, um potencial humanizador do qual a educação não pode abrir mão. Essa é uma convicção nascida de projetos de leitura que tive a alegria de vivenciar no segundo e terceiro trimestre deste ano letivo na escola em que trabalho.

A reflexão a seguir, bem como a proposta de atividades que a partir dela se iniciam, nasceram de leituras do livro de Nelceu Alberto Zanata, intitulado “A Planta, Suas Folhas e Um Sino, uma pequena história sobre rejeição, empatia e amizade”.

Nesta obra, com muita propriedade e sensibilidade, o autor nos ajuda a pensar na importância de construirmos o “nós” desde a experiência do cuidado e do amor, cujo poder de desconstruir barrerias é ilimitado. Este conto é profundo, recheado de lições, e, sem abrir mão do bom humor, o autor nos conduz para uma viagem interior, cujo trajeto, contribui com o autoconhecimento e aprimoramento de nossa humana condição. 

No conto, Zanatta coloca como protagonista uma planta chamada Jamelão e um Sino nomeado por um estranho, simpático, solidário e humano cuidador, como João do Limão. 

Antes de ser uma planta grande, frondosa e bela, o Jamelão era uma mudinha enraízada em um vaso, cujo comprimento não suportaria o crescer das raízes. 

Em sentido metafórico pensemos na nossa identidade, quem somos e de onde viemos?

Em que circunstâncias sócio-históricas se deu a nossa concepção e nascimento, qual era o ano?

O que acontecia no mundo daquela época?

Qual era o custo de vida?

As fontes de renda dos nossos genitores, vizinhos, familiares?

Será que a vida era como nos dias de hoje? 

É importante sabermos “de que barro” somos feitos para não esquecermos o essencial de nossa identidade, para avaliarmos quais barreiras / quais vasos rompemos para chegar a sermos o que somos hoje. Fundamental é percebermos, que existimos na interdependência com os outros seres humanos, com a natureza, o ambiente todo que nos cerca, do qual depende nossa subsistência de cada dia.

Tendo realizado uma visita as suas experiências pessoais e constatadas as circunstâncias históricas de sua própria existência, é preciso desenvolver a gratidão. Outras pessoas empenharam esforços em prol de nossa vida, pois somos os seres que mais necessitam dos outros para viver.

Analise o reino animal, pergunte aos professores de ciências e biologia sobre esse tema. É muito provável que você se descubra como o ser que mais necessita dos outros para sobreviver. Esta necessidade inicia pelos cuidados, sem os quais a vida de um bebê não se sustenta e que, na mesma medida, estende-se para todo o contexto da sociedade.

O ser humano precisa da convivência com outros seres humanos para construir identidade, saber-se um outro.

Se vivêssemos isolados do convívio com os demais, não iríamos desenvolver a linguagem e tampouco a cultura da qual somos resultado. O cinema conta a história de Mogli, o Menino Lobo, mas existem casos reais, onde crianças que sobreviveram em ambientes desprovidos da interação humana, assimilaram características de animais com os quais interagiram. São as chamadas “crianças selvagens”.  Para conhecer mais sobre esse conteúdo acesse aqui: https://youtu.be/C5cYyMN-M8E?t=6

Neste momento outro conceito pode ser introduzido tendo em vista promover uma educação ética e cidadã. Trata-se do conceito alteridade, durante o conto o autor nos apresenta como se dá a relação com a diferença, uma planta, um frei, um sino e um outro, cujos adjetivos estão sublinhados no segundo parágrafo desse texto.

Essa relação entre os personagens é exemplo do principio ético da alteridade nos momentos em que há consideração e valorização da diferença, visto que alteridade pode ser compreendida como direito que o outro tem de existir com sua identidade própria. Garantir a cada pessoa o direito de ser com a identidade que lhe é própria e na relação com outros diferentes modos de ser é uma premissa básica dos Direitos Humanos. 

A carta Magna assinada pela ONU aos dez dias do mês de novembro de mil noventos e quarenta e oito, dois anos depois da segunda guerra mundial, defende o direito a vida de todos e de cada um.  Isto porque em nome da hegemonia a guerra negou O OUTRO promovendo o genocídio em massa das alteridades.  

Notemos: o sino não exige que o Jamelão deixe de ser árvore, embora em certo momento reclame de suas folhas e de seus galhos, não existe o desejo do extermínio, tampouco a vontade de aniquilação das características que fazem cada um ser o que é. Da mesma forma, o Jamelão não quer mudar as características que fazem a identidade do sino, ser feito de ferro ou aço, produzir som. Existem diferenças que, embora possam incomodar, são valorizadas, repeitadas e fazem nascer amizade, empatia e amor.

O amor é a força mais poderosa do universo, ela faz vibrar sentido, energias e desejos de vida, a falta dessa força dá a luz a monstros e sistemas que promovem as guerras. E o que são as guerras?  São a prova maior de que a humanidade está falindo abrindo mão da alteridade, da empatia e do sentido de ser gente.

Conheça mais sobre o livro:  https://www.neipies.com/uma-potente-pegada-por-empatia-em-livro/

Considerações finais para educadores

Existe na literatura, independe do gênero, um potencial humanizador do qual a educação não pode abrir mão.  Essa é uma convicção nascida de projetos de leitura que tive a alegria de vivenciar no segundo e terceiro trimestre deste ano letivo na escola em que trabalho.

É nítido que um ensino pautado no protagonismo das crianças e adolescentes que lêem, interpretam, fazem releituras e dão asas a imaginação tem o poder de transformar a realidade. Isto porque construir conhecimento a partir de projetos desperta para a necessidade urgente do pensar, refletir, imaginar e construir um outro mundo possível.

O mundo, a princípio, se limita à realidade familiar, ao contexto da comunidade ou do bairro, e se amplia conforme se amplia o nosso conhecimento cultural.  E a partir da educação aprendemos que limitar-se é abrir mão da condição antropológica que nos acena pra um horizonte a ser buscando. A consciência do que Paulo Freire chamou “inconclusão, inacabamento, incompletude” deve nos colocar em movimentos intencionados para o crescimento, para o rompimento dos ciclos que nos encerram em “mundos” que não dignificam nosso ser.

Um ensino pautado no protagonismo das crianças e adolescentes que lêem, interpretam, fazem releituras e dão asas a imaginação tem o poder de transformar a realidade. Isto porque construir conhecimento a partir de projetos desperta para a necessidade urgente do pensar, refletir, imaginar e construir um outro mundo possível. Mundo que a princípio se limita à realidade familiar, ao contexto da comunidade ou do bairro, e se amplia conforme crescemos e, a partir da educação, aprendemos que limitar-se é abrir mão de nossa condição antropológica que nos acena pra um horizonte a ser buscando.

ATIVIDADE – PROJETO DE LEITURA.

Ensino religioso 9º ano

Habilidades:

(EF09ER06) Reconhecer a coexistência como uma atitude ética de respeito à vida e à dignidade humana.

(EF09ER07) Identificar princípios éticos (familiares, religiosos e culturais) que possam alicerçar a construção de projetos de vida.

(EF09ER08) Construir projetos de vida assentados em princípios e valores éticos.

Competências:

3. Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza, enquanto expressão de valor da vida.

6.Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo a assegurar os direitos humanos no constante exercício da cidadania e da cultura de paz.

ROTEIRO DE ATIVIDADES.

1. Promover um momento especial para leitura do livro “a Planta, Suas Folhas e Um Sino, uma pequena história sobre rejeição, empatia e amizade”. Os estudantes recebem o livro com antecedência, fazem uma leitura prévia e em aula, durante o café com histórialêem em conjunto.

2. Após a leitura os estudantes precisam identificar no texto os personagens, suas características e papeis que desempenham no conto (protagonista, coadjuvante, antagonista).

3. Agora que você identificou os personagens do conto, busque respostas para as questões do segundo parágrafo do texto: (talvez para essa tarefa seja necessário que os estudantes entrevistem seus familiares, mas também podem perguntar para professores e ou adultos). 

a) quem somos e de onde viemos?

b) em que circunstâncias sócio-históricas se deu a nossa concepção e nascimento, qual era o ano? 

c) o que acontecia no mundo daquela época?  

d) qual era o custo de vida, as fontes de renda dos nossos genitores, vizinhos, familiares.

4.Faça um desenho com personagens do texto e relacione características destes com as suas e de pessoas que conhece.

5. Assista ao vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=3D4cE4FDcZg&t=7s (caso sua turma tenha estudantes com deficiência visual, utilize a versão com audiodescrição: https://www.youtube.com/watch?v=HIOeocKzh_o). Agora relacione o conteúdo do vídeo com a relação estabelecida entre o Jamelão e o Sino.

6. Quanto aos personagens: Sino, Jamelão, o estranho cuidador, crianças. Quais valores precisam compor o nosso projeto de vida?  Mencione e explique a importância delas.

7.Considerando a leitura da reflexão que antecipa essa atividade, responda: o que você entendeu por alteridade?

8. Cite exemplos de afirmação e de negação da alteridade.

9. Proponha soluções para os exemplos de negação da alteridade.

10. Reveja o vídeo sobre as crianças selvagens e em seguida elabore uma carta e ou cartão de agradecimento às pessoas que cuidaram e cuidam de você.

OBS: os professores podem ampliar as atividades de acordo com os contextos onde ela for aplicada. Sugere-se que esse projeto resulte em mostra de trabalhos que podem ser afixados na escola, compartilhado nas redes sociais da instituição e ou em momento especial. Que tal convidar a família para o encerramento do projeto e promover a contação da história e entrega do cartão feito na atividade 10.

A presença do escritor, física ou on-line podia abrilhantar e encher de significado esse momento.

Autor: Marciano Pereira

Edição: A. R.

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito agradecido Marciano, por suas reflexões e sua proposta de atividades. Procura-se a essência do aprendizado e suas relações na complexidade de fórmulas inacessíveis a muitos, na tecnologia, em exemplos criados em laboratórios.
    E a natureza nos fornece o tempo todo, em todo lugar, propostas de regeneração e empatia como jamais imaginamos.
    Estarei sempre a disposição.
    Um abraço.

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