Quando vier a Primavera, / Se eu já estiver morto, / As flores florirão da mesma maneira/ E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada/ A realidade não precisa de mim. (Fernando Pessoa)
Durante o inverno Brado Retumbante hibernou em sua caverna. Baixou as cortinas, fechou portas e janelas, desligou telefones, computador e não recebeu quaisquer tipos de visitas. Aproveitou também economizar nos banhos, na feitura da barba e no corte dos cabelos. Avisou o porteiro que só voltaria no início da primavera. Para o senso comum, Werther que só andava pelas beiradas das coisas, tornou-se um Nonada, no sentido de Grande Sertão Veredas.
Finda a estação, Brado Retumbante sacudiu-se todo para derrubar seus parasitas interiores e exteriores com chás e banhos de imersão, esfregando-se até gastar sua pele embrutecida. Um novo homem haveria de impressionar positivamente o gado que estava retido nas cercas de um mundo com suas eternas contradições.
Avisou a imprensa sobre a experiência de três meses no interior da bolha da caverna. Ao dar suas primeiras voltas na Pólis, estranhou que ninguém o reconheceu e nem sequer lhe cumprimentou. Talvez pelos óculos escuros para fim de adaptar-se à claridade ofuscante da luz do sol. Despreparado fisicamente, retornou à caverna doméstica cansado e ofegante. Pediu água e recolheu-se ao ninho caótico e mofado até o novo dia cinzento com sol avermelhado. Deu-lhe náuseas e tosses intermitentes o ar com cheiro de cinzas.
Contaram-lhe que uma parte do Brasil estava em chamas: a Amazônia Legal, o Pantanal, os cafezais e os canaviais. A outra parte mais ao sul estava sofrendo com as intempéries: enchentes, temporais, ventanias, raios. Pensou:
– Até parece o Juízo Final. Ou é o tal do Aquecimento Global sobre o qual tanto falam?
– Isso mesmo! Mas não só no Brasil. Aonde olhares, podes verificar o derretimento das geleiras, o aumento da temperatura global, as secas e as enchentes, dentre outras movimentações verificadas na natureza. Porém não é só isso, Brado Retumbante.
– Certas criaturas do planeta Terra parecem que estar em transe. Reinventaram as guerras, novas armas de destruição em massa, venenos que estão causando novas doenças. Em que mundo estiveste e em qual estás, Brado Retumbante?! E tem mais, caro vivente:
– A pior invenção da humanidade, as guerras, retornaram com tudo. Veja o que acontece entre a Rússia e a Ucrânia e entre Israel e Palestina/Líbano! Dá a impressão de que retornamos aos tempos bárbaros!
– É, pois é, exclamou Brado!
Em todo o Brasil vemos Organizações criminosas promovendo chacinas, dominando bairros e vilas, mantendo famílias reféns dos seus interesses. E, o pior, certos aspirantes ao poder pregam exemplarmente a violência com socos e cadeiraços nos debates eleitorais. Há, inclusive, sugestão de pancadaços nos centros urbanos.
– Não acredito! A que nível chegamos… Dá até vontade de me recolher definitivamente à caverna! Mas não! Sou resiliente e confiante, pois nada melhor do que apreciar o riso espontâneo e puro de uma criança. Admirar o desabrochar das flores dos ipês e ver assegurados os direitos humanos entre as pessoas e os países. Preservar os mares, os rios, a terra e o ar é, sobretudo, preservar a vida que pulsa em tudo.
Vai com tudo, Brado Retumbante!
Autor: Eládio Vilmar Weschenfelder. Também escreveu e publicou no site crônica “Rios do céu e da terra”: www.neipies.com/rios-do-ceu-e-da-terra/
Edição: A. R.
Precisamos em primeiro lugar pensar a preparação de nossos professores! Quem oferece condições para que haja uma preparação para haver um magistério capaz de elevar a qualidade do ensino sejam quais forem as disciplinas do conhecimento? Repensar o ensino e as condições de oferta da preparação de professores! Quem vai para uma universidade para receber um ensino qualificado? Quem vai se depois vai competir seu salário com uma empregada doméstica?