A humanidade se salva,
graças a um Deus que não
abandonou o homem em suas noites.
Deus disse: “Faça-se a luz” (Gn 1,3).
Tudo se transformou em plenitude de vida e amor.
A humanidade não era. Tudo era um caos, vazio, não existência, um nada. Só Deus havia. Só Deus era, existia. Deus disse: “Faça-se a luz”(Gn 1,3). E houve luz, estrelas, firmamento, natureza… Pelo poder de Deus, tudo se fez. A primeira noite da existência se fez dia. O vazio se fez preenchimento… no ar, na água, na terra.
E o homem se fez pela potência do Criador. Perdendo o homem a luz, o reflexo e a semelhança de Deus, o Criador quis aniquilar sua criatura disforme. Fez-se segunda noite na humanidade: houve tempestade, chuva por 40 dias e noites, um dilúvio…voltou o caos primordial. Tudo vendaval, morte, trevas.
Uma pomba e um arco-íris anunciava o porvir de um novo dia da trégua de Deus aos parcos sobreviventes que restaram. A família de Noé eram oito na Arca. Deus prometeu nunca mais destruir o ser humano pelas águas. As águas seriam então instrumentos de salvação, promessas que se cumprirão no decorrer dos dias e das noites da humanidade.
Aquele peregrino Abraão contemplava outra noite dessa história humana.
Deus prometera a ele uma posteridade maior que as estrelas do céu que admirava, incontável como os grãos de areia na praia que pisava. Seria pai de um povo infindável. Preencheria o Criador seu vazio, esterilidade e fracasso com inúmeros filhos. Não tinha nenhum. Confiou no hálito de Deus.
O Deus da esperança disse e cumpriu. E assim a luz de novo se fez. E Abraão riu o seu riso, contemplando, no seu filho, a promessa do Messias, que um dia haveria de chegar.
Uma terceira noite a humanidade atravessou. A vida era trevas no Egito. Tudo morte, choro e escravidão por 400 anos. Deus ouviu o clamor e grito do povo escolhido e oprimido. Convocou o gago Moisés para tirar o povo desse inferno, desde vazio e caos. Foi numa noite que o povo saiu de lá…num grande triunfo da mão operosa de Deus. A travessia noturna do mar vermelho foi assombrosa.
Foi uma verdadeira Páscoa da morte para a vida, da escravidão para a liberdade, das trevas para a luz. Jamais esse povo hebreu se esqueceria dessa narrativa, transmitida de pai para filho, a cada liturgia solene do cordeiro pascal, que rememorava essa noite solene. Na grande noite que se transformou em dia, celebrariam no dia 14 de Nissan, como memorial perpétuo.
História da Páscoa na versão das crianças.
Mas a mão de Deus não secou a não parou de se manifestar como sol da justiça. Haveria uma outra noite a ser vencida: as trevas do coração do homem. Não conseguindo sucesso no envio de profetas para arrumar a casa, endireitar o ser humano, Deus mandaria o seu ungido (do grego: Cristós). Ele mesmo viria pessoalmente resgatar nosso duro coração. E assim se fez.
O Verbo Eterno de Deus se fez carne, humanidade, e fez cabana em nosso meio (cf. Jo 1,14). Mas não foi aceito pelo coração malvado, vazio e sem piedade. Foi morto no madeiro de uma cruz, no lugar do crânio. A humanidade matou a vida, a luz, a promessa da alegria. Fez-se noite e treva novamente. O homem aniquilava quem proclamava ser Deus. O caos voltou novamente ao planeta.
Mas Deus não morreu e não está morto. Nunca estará. Houve uma noite definitiva que se transformou em dia sem ocaso. Na noite das noites, o Verbo ressuscitou, numa manhã radiosa. E a Páscoa Judaica se transformou em Páscoa cristã.
O Cristo ressurgiu dos infernos, do sheol, da morte, dos abismos das sombras. Tudo ressurge com nova cor e luz. A vitória de Deus foi vitória do homem, porque Deus se fez gente, carne e se fez humano. Então no planeta se fez claridade perfeita, verdadeira e multiforme, mais que na criação, quando a noite se fez dia, mais que em qualquer outra treva-luz da história. Tudo se transformou em plenitude de vida e amor.
A humanidade se salva, graças a um Deus que não abandonou o homem em suas noites. No coração humano reinou a esperança diante do abismo da morte. Ainda podemos crer no amor. Cristo Ressuscitou em nós, aleluia. Celebremos, pois, a Páscoa!