Este é o primeiros texto de Roseméri Lorenz, mestre e doutora em Letras pela UPF- RS. Ela assume que o mesmo é uma brincadeira da professora de português com a própria língua e com as nomenclaturas gramaticais. Bem-vinda ao site e ao time de Convidados: https://www.neipies.com/autores_convidados/
– O que somos eu e você? – um dia perguntei.
– Pronomes! – respondeu-me, com a insensibilidade de um sujeito inexistente.
– Pronomes! – repeti.
A classificação atingiu-me como um objeto direto em meu peito.
EU, pronome pessoal do caso reto. No caso, reto demais. Talvez seja justamente esse o problema.
VOCÊ, pronome de tratamento. Sim, tratamento de deferência. Pelo menos foi desse modo que sempre a tratei: com respeito, consideração, quase idolatria. O pronome VOCÊ provém de VOSSA MERCÊ, forma de tratamento originalmente aplicada a reis e depois estendida a poderosos, que faziam questão de serem assim chamados por seus criados e subalternos, a fim de afagar suas naturais vaidades. Entretanto, sendo a expressão um tanto longa e de difícil pronúncia nas enfadonhas repetições diárias foi, aos poucos, reduzindo-se para VOSMECÊ, VOSSANCÊ até chegar ao VOCÊ. Fechando esse parêntese etimológico, confesso que, em antiquada vassalagem (servidão até) por diversas vezes, sonhei em dizer-lhe:
– Vossa Mercê me dá a honra dessa contradança?
– Em que século você vive? – certamente indagaria, entre risos e cabeça em abano.
Nunca cheguei à informalidade, à proximidade, à intimidade de um TU.
EU e TU: NÓS tão sonhado (e até orado).
Mal sabia EU que em NÓS cabe bem mais que EU e TU. Assim, chegou ELE, um sujeito indeterminado que, sem constrangimentos, instalou-se entre as duas pessoas de meu imaginário discurso. E foi assim que uma não-pessoa, como o bem definiu Benveniste, conseguiu frustrar minhas pretensões “linguisticamorosas”.
“EU fui literalmente atropelado por ELE”. Quer exemplo mais perfeito de agente da passiva? Sim, ELE tornou-se termo essencial, rebaixando-me a sujeito passivo, um mero termo integrante de minha própria oração não atendida.
TU e ELE em NÓS se ataram. ELE ficou conTIgo, com tudo. EU, contudo, sem TI, sem nada.
Autora: Roseméri Lorenz, mestre e doutora em Letras pela UPF- RS. Atua como professora de Língua Portuguesa e Literatura nos ensinos médio e superior. E-mail: rosemerilorenz1@gmail.com
Cê fala bem, diria o mineiro, reduzindo ainda mais o vossa mercê.
Eu… Eu queria ter essa cognição literária para além do trivial que me cerca.
Fico no bom gaúches, baita.
Parabéns.Texto fácil dr ler .Rápido e com.humor e recheado de conhecimentos CONTINUES O MUNDO PRECISA DE QUEM.OS FAÇA REFLETIR E PERCEBER A BELEZA IMPLICITA NA NOSSA LINGUA MATERNA
Parabéns.Texto fácil dr ler .Rápido e com.humor e recheado de conhecimentos dignos de uma mestra. CONTINUES O MUNDO PRECISA DE QUEM.OS FAÇA REFLETIR E PERCEBER A BELEZA IMPLICITA NA NOSSA LINGUA MATERNA
Rose, adorei! Que show de texto! Já o guardei. Parabéns!
Parabéns, Roseméri, uma maravilha de texto!!! Digno dos grandes mestres!!!