Se quer viver de maneira agradável a Deus, ame mais e não perca seu tempo julgando. Viva e deixe viver.
Nunca vi um povo tão obcecado com o pecado do que aqueles que deveriam fazer do perdão a sua bandeira. Para os tais, pregar o evangelho seria sinônimo de falar contra o pecado. E assim, sem que percebam, fazem coro com aquele que é chamado nas Escrituras de “o acusador dos nossos irmãos”, o arquiadversário do amor, o diabo.
É claro que não dá para falar de perdão sem falar daquilo que está sendo perdoado, isto é, o pecado. Porém, temos que entender de uma vez por todas o que é ou não pecado.
Etimologicamente, pecar é errar a alvo. Fomos criados com um propósito, e viver de maneira contrária a ele constitui-se pecado. Que propósito seria este, afinal? Fomos criados para o amor. E o Deus revelado nas páginas dos evangelhos escolheu ser amado no outro. Amar ao próximo não é um mandamento abaixo do amor a Deus. Trata-se da única maneira de amar ao Criador.
À luz desta verdade, podemos definir o pecado como todo sentimento, atitude ou postura que promova o mal de nossos semelhantes. O pecado é o antônimo do amor. Pecar não é viver alheio a um código moral, ainda que imposto por uma divindade.
Pecar é não amar, vivendo exclusivamente em função de seus próprios prazeres, sem considerar a dor que possa causar ao outro. Pecado é uma vida autocentrada, egoísta, interesseira, preconceituosa, acumuladora, abusiva, traiçoeira, arrogante, invejosa.
Quando se vive em pecado, o sofrimento do outro não nos causa qualquer incômodo. Só pensamos em nós mesmos. Por isso, ofendemos, difamamos, espalhamos fake news, sabotamos e inviabilizamos a existência do outro.
Tem muita gente travestida de santidade e piedade, mas que destila ódio. E por incrível que pareça, usa sua fé para justificar o seu ódio sem o menor constrangimento.
Há quem use a verdade para enganar. Sem que profira uma única mentira, articula-se a verdade com o objetivo de oprimir e explorar o seu semelhante. Os tais se esquecem que a verdade deve ser seguida em amor. Sem amor ela pode ser tão destrutiva quanto à própria mentira.
Há quem se gabe de sua própria honestidade enquanto segue acumulando riquezas, sem jamais se preocupar em atenuar a miséria de tantos à sua volta. Ainda que honestos aos olhos dos homens, seguem gananciosos e presunçosos.
Há quem viva em adultério mesmo sendo fiel ao seu cônjuge, pois em vez de amá-lo, usá-o como se fosse um mero objeto. A maior parte dos estupros ocorre dentro do matrimônio. Qualquer relação sexual que não seja consensual é um estupro. O que legitima uma relação aos olhos de Deus é o amor e não um contrato ou uma cerimônia. Sem amor, um casamento não passa de um embuste.
É pecado ser conivente com uma agenda governamental negacionista da ciência, e por conseguinte, genocida. É pecado julgar e discriminar alguém pela cor de sua pele, por sua orientação sexual ou mesmo por seu credo religioso.
Homofobia é pecado!
Racismo é pecado!
Xenofobia é pecado!
Misoginia e machismo são pecados!
Explorar o trabalhador, privando-lhe de seus direitos é pecado.
Humilhar o seu próximo por sua condição material é pecado.
Tentar disfarçar seus próprios pecados ao apontar os pecados alheios também é pecado.
Pecado também é viver de maneira inautêntica, escondendo-se atrás da máscara da religiosidade ou da moral e dos bons costumes.
Pecado é tudo aquilo que desumaniza o outro, transformando-o num trampolim para alcançar nossos mais sórdidos objetivos.
Se quer viver de maneira agradável a Deus, ame mais e não perca seu tempo julgando. Viva e deixe viver. Só não se cale diante da injustiça. Seja um cordeiro em causa própria, mas um leão pela causa do seu semelhante.
Autor: Hermes C. Fernandes
Edição: Alex Rosset