Dia 15 de março eu fui pra rua protesta contra a reforma da previdência.
Em vez de reclamar de um dia sem ônibus,
prefiro reclamar dos 20 anos a mais que terei de contribuir.
Em vez de reclamar do trânsito parado pela manifestação,
agradeço aos que lutam para que eu consiga me aposentar antes dos 70.
Quando a gente é jovem não tende a pensar muito sobre aposentadoria, pois é algo que parece muito distante do que ainda temos para viver. Por sua vez, essa distância está prestes a se tornar ainda maior. A proposta feita pelo governo federal e propagandeada como uma ótima saída para “consertar o rombo da previdência” se mostrou um ataque sem precedentes à classe trabalhadora.
Podemos dizer tranquilamente que a PEC 287/2016 tem como principal objetivo restringir e até impedir a aposentadoria das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. Digo isso porque caso a Reforma passe valer, a idade mínima de aposentadoria aumentará para 65 anos tanto para homens quanto para mulheres.
Quem sentirá ainda mais a nova medida, serão as trabalhadoras mulheres, que enfrentam dupla e até tripla jornada de trabalho. As professoras então, que deixam de contar com aposentadoria especial, podem ter que aumentar em até 20 anos o período trabalhado para poder se aposentar.
Reforma da Previdência impede professor de se aposentar.
O tempo mínimo de contribuição sobe para 25 anos e para conseguir receber uma aposentadoria integral, será preciso trabalhar 49 anos. O governo ainda pretende aumentar a contribuição previdenciária de 11% para 14% no caso dos servidores federais, regra que também deve se estender aos servidores estaduais (conforme acordo fechado entre Temer e governadores).
Sem contar os outros ataques que atingem diretamente os trabalhadores, como o fim do regime especial para professores e policiais civis, o aumento de 65 anos para 70 anos aos idosos e deficientes de baixa renda que contam com benefício do governo.
As mulheres trabalhadoras rurais também serão duramente atingidas pela Reforma da Previdência do Governo Temer. Em uma entrevista, uma mulher agricultora convidou os senhores deputados e senadores para ficarem um mês numa propriedade familiar para experimentar a dura realidade das mulheres trabalhadoras rurais.
Quem recebe pensão por morte ou quem precisar deste benefício também será lesado, já que de acordo com a nova proposta do governo a pensão por morte deixa de se integral, sendo reduzida para metade do valor, mais 10% para cada dependente menor de idade.
Novamente as mais prejudicadas são as mulheres, já que os pensionistas são predominantemente mulheres, que na maioria das vezes sobrevivem somente desta renda. Como se não bastasse, será desvinculada do reajuste do salário-mínimo, que permite ganho real.
No dia 15 de março de 2017 milhares foram às ruas em todo o país para gritar NÃO para essa reforma. Aqui em Passo Fundo, RS, a maioria das pessoas sequer quis ouvir as reivindicações da mobilização. Sequer quiseram se inteirar sobre essa “deforma” que vai interferir na vida de todo trabalhador. Todo mesmo, desde o que ganha o salário-mínimo até o que acha que pertence à elite social. Todo e qualquer trabalhador que depender da previdência será direta e duramente atingido por essa reforma.
A analogia feita nas redes sociais, infelizmente, cai bem quando compara a Reforma com a lei que ficou conhecida como “gargalhada nacional”. Promulgada no tempo da escravidão, libertava os escravos sexagenários e ficou conhecida assim porque quase nenhum escravo sobrevivia aos 65 anos de idade.
Dia 15 eu fui pra rua, em vez de reclamar de um dia sem ônibus, prefiro reclamar dos 20 anos a mais que terei de contribuir. Em vez de reclamar do trânsito parado pela manifestação, agradeço aos que lutam para que eu consiga me aposentar antes dos 70.
Eu sou mulher, sou resistência, contra a reforma da previdência.