Não há desculpas.
O país, favorecido pelo clima e pela
distância de 16 mil quilômetros da China,
teve quase dois meses para se preparar
para enfrentar a ameaça da Covid-19.
Na semana em que o Brasil bateu a marca de mais de 100 mil mortes confirmadas pelo Coronavírus, é obrigatória uma reflexão sobre as razões de tal tragédia.
Fica notório que muitas mortes poderiam ser evitadas se houvesse uma política sanitária e social de combate à doença. Basta comparar o impacto da pandemia em outros países. Se a China é a excepcionalidade do sucesso na condução desta crise, a experiência de nossos vizinhos, como Argentina e Paraguai, mostra que o Brasil é um grande fracasso.
Não há desculpas. O país, favorecido pelo clima e pela distância de 16 mil quilômetros da China, teve quase dois meses para se preparar para enfrentar a ameaça da Covid-19. Enquanto o vírus avançava pela Europa, Bolsonaro e seus seguidores, acometidos de aguda dissonância cognitiva, preferiram ignorar a realidade.
Osmar Terra, um dos luminares do negacionismo, disse em abril que “vai morrer menos gente de coronavírus em todo o Brasil do que gente no inverno gaúcho de gripe sazonal”. Já Edir Macedo asseverou: “não se preocupem com o coronavírus. Porque essa é a tática, de Satanás”. Olavo de Carvalho, que se diz filósofo, foi taxativo, “essa epidemia simplesmente não existe”. Ulala!!
Assim, a maior catástrofe sanitária da história brasileira foi ganhando forma, enquanto o ex-capitão dedicava todos os esforços para minimizar a pandemia e sabotar as medidas de isolamento social. Bolsonaro passou a correr o país com uma caixa de remédio inútil e naturalizou os milhares de mortos, como se fosse algo natural.
Enquanto isso, testes não foram feitos e o monitoramento da doença foi desdenhado. Um militar sem nenhuma experiência prévia foi colocado no Ministério da Saúde, depois da troca de dois ministros.
Diante da omissão do governo federal prefeitos e governadores, responsáveis diretos pelos serviços de saúde pública, assumiram então a linha de frente no enfrentamento à pandemia.
Pressionados por empresários e por fiéis da seita messiânica bolsonarista, muitos precipitaram a abertura das economias locais, agravando o quadro e tornando a pandemia foram de controle.
A receita necessária para conter a pandemia é uma só: rígido isolamento social, coordenado pelo poder central, com abertura progressiva e responsável das atividades econômicas. Isto é que países civilizados estão fazendo, algo impensável no Brasil de Bolsonaro.
Para o professor de Direito da USP, Conrado Hubner, o único programa que o governo Bolsonaro se esforça em manter ativo é o “Deixa Morrer”. E daí??