Podemos estar em rede,
mas desconectados uns dos outros,
desprovidos do nó que amarra e junta
um ser humano a outros seres humanos.
Vivemos conectados, estamos em rede. A internet, através das redes sociais, possibilita interação em escala global. Essa partilha de informações traz em seu bojo algumas revelações que precisam ser refletidas e consideradas pela filosofia pedagogia, sociologia, psicologia, isso para citar algumas áreas do conhecimento, pois ninguém está isento dos efeitos positivos e negativos desta “onda” que se constitui para muitas pessoas em um “modus vivendi”.
Papa Francisco sobre as redes sociais.
Se leste até aqui, deve estar se perguntando onde desejo chegar: se és um crítico, suspeito que a essa altura já se questionou: qual é o problema? Onde se encontra a hipótese? Que argumentos já foram introduzidos?
Não prometo uma resposta que satisfaça sua curiosidade e seu espírito investigativo, mas me empenharei em oferecer justificativas para a validade deste escrito.
Sou usuário das “redes sociais”, acompanho o que pessoas próximas e distantes publicam em seus perfis, interajo com alguns post, “curto”, “comento” “compartilho”, mas também fico irritado, perplexo indignado diante de outros. Pensado sobre essas duas atitudes, surgiu a necessidade deste texto que, mesmo que pessoal, nasceu para permitir reflexão.
O acontecimento gerador deste texto se deu quando acessei um grupo criado para troca, compra e venda de mercadorias, onde um anúncio diferente chamou minha atenção. Tratava-se de um pedido de ajuda.
Uma pessoa que ainda possui capacidade de sentir com o outro pedia: roupas, calçados, alimentos para uma mulher e seu filho. Abaixo do pedido estava a foto de uma mulher segurando a mão de uma criança, ao fundo uma barraca de lona preta. A mulher com expressões tristes, de poucas esperanças, como muitas imagens disponíveis na “rede”, traz presente uma sensação de desarmonia e uma certeza: a humanidade tem enveredado por caminhos tortos, pois a exuberância de grifes, o excesso de luxo esnobado por famosos, a concentração da renda nas mãos de poucos, a “despolitização” do nosso país contrasta com a pobreza, o descuido e as carências de muitos.
O pedido de ajuda foi feito, alguns se solidarizaram nos mostrando que o ser humano é bom, que o ser é junto com os outros, mas outras manifestações revelaram o que há de pior na humanidade, o preconceito, a indiferença, a atitude de Pilatos.
As manifestações contrárias ao amor, desvinculadas do sentido do humano, no mínimo, expõem que a educação tem falhado na sua tarefa de educar de acordo com os pilares sugeridos por Jacques Delors no livro intitulado “Educação: um tesouro a se descobrir” (1998). Conforme o pensador citado, educar significa formar humanos comprometidos com a justiça social, solidários com os outros, abertos para a perspectiva de cuidado com o planeta, é tarefa política que não pode ficar alheia as evoluções técnicas e as realidades sociais.
Analisar o conteúdo dos “post”, a repercussão das mensagens e dos comentários desperta para a necessidade da crítica constante.
Se por um lado existem iniciativas e conteúdos que precisam ser potencializados, por outro cresce o número daqueles que dão vazão a suas concepções egoístas, individualistas, preconceituosas e por isso desvinculada dos direitos humanos, assegurados pela constituição de 1988.
Exemplos de violações cometidas na rede não faltam, o preconceito de gênero, de etnia, os rótulos colocados em pessoas que cometem erros, o preconceito circula na rede, pulsa em muitas veias e precisa ser combatido com urgência.
Enfim, mas sem a pretensão de esgotar o assunto, enquanto a técnica se desvincular da ciência humana. estaremos em um mundo que evolui caminhando a passos largos para a desumanização.
Essa “rede de relações”, esse emaranhado de nós e fios que formam a sociedade complexa, precisa se converter em ferramenta para a educação dos afetos, para a potencialização da compaixão, para a vivência da solidariedade.
Tecnologia desprovida de uma educação adequada resulta na evolução dos projetos que fortalecem a desumanização, porque crescimento tecnológico e interação virtual nem sempre significam evolução da humanidade. Podemos estar em rede, mas desconectados uns dos outros, desprovidos do nó que amarra e junta um ser humano a outros seres humanos.