O algoritmo escraviza a massa formada por
milhares de profissionais sem qualquer expectativa.
São os descartáveis que se submetem,
por absoluta falta de opção, a tal situação.
O discurso atual é o mesmo que se apresenta em toda a crise: emprego, só em uma relação próxima da informalidade. É o que está acontecendo. Jovens que, com muita dificuldade conseguiam adiar a entrada no mercado de trabalho para estudar, agora são obrigados a buscar novas alternativas.
Onde elas estão? Em atividades degradantes, na condição de entregadores por aplicativo ou como empregadas domésticas. Aos poucos, estes “empreendedores”, como segmentos da direita insistem em chamar, são empurrados para informalidade.
Hoje, o Brasil tem quase 13 milhões de desempregados. Se somar o contingente daqueles que desejam trabalhar, mas não estão procurando emprego no momento, estamos falando de mais de 30 milhões de brasileiros, segundo o economista e professor da Unicamp, José Dari Krein.
Se isto não bastasse, Paulo Guedes, aposta todas as fichas em uma flexibilização ainda maior da legislação trabalhista. Isto é, nos planos do governo figura até a liberação de contratos por hora, em recolhimento de FGTS nem do INSS. É a precarização total das garantias trabalhistas.
As relações trabalhistas passam por uma total desumanização. Departamento de recursos humanos vai aos poucos desaparecendo. O patrão de carne e osso, idem. Agora, tudo é através de plataformas: Uber, Ifood, Rappi.
O algoritmo escraviza a massa formada por milhares de profissionais sem qualquer expectativa. São os descartáveis que se submetem, por absoluta fata de opção, a tal situação.
Um estudo identificou as jornadas de trabalho maiores e a queda nos rendimentos de 58,9% dos entregadores. Segundo a pesquisa, cerca de metade recebia até 520 reais por semana antes da pandemia.
Depois, 71,9% declararam receber até 520 reais, e 83,7% até 650 reais. O relatório ainda acrescenta que as empresas estão promovendo uma redução do valor da hora de trabalho dos entregadores em plena pandemia.
Na visão de muitos, o entregador é um microempresário, empreendedor. Trata-se de sucesso individual, jamais de pobreza. Os entregadores são “parceiros” das plataformas, não são trabalhadores.
Logo, não precisam de nenhuma garantia, nenhuma cobertura ocial. Fazendo jornadas de mais de dez horas diárias eles se enquadram no discurso da “meritocracia”, embora vítimas da exploração mais descarada que os leva a um tratamento caracterizado pela indignidade.