Que tenhamos um olhar mais sensível as coisas que as crianças desenham e possamos junto com elas descobrir seus conceitos. Não sejamos tão adultos com as crianças.
Na sua bela música o cantor Toquinho nos diz em seus versos “Numa folha qualquer / Eu desenho um sol amarelo / E com cinco ou seis retas / É fácil fazer um castelo”.
Assista: https://youtu.be/_atUmJbmrn4?t=2
A arte de desenhar e mostrar-se através dele, mostrar o seu eu mais íntimo, o seu jeito de pensar e entender o mundo. Desenhar um sol, uma lua, uma casa ou uma árvore. Apresentar às crianças desde a tenra idade a arte de sair por aí riscando paredes, papéis, chão e tudo o que encontrar pela frente com rabiscos de gente, bicho e árvore.
Desde os primórdios das civilizações que o homem se comunica através do seu desenho. Sem o alfabeto, o homem das cavernas desenhava o seu cotidiano nas suas paredes. Alguns desenhos são conservados e estudados pelos arqueólogos até hoje. Desenhos que representam o pensamento e registram a vida desses homens muitas vezes caçando comida para as suas famílias.
O filósofo Platão não gostava de imagens. Dizia que elas enganavam o homem no seu mito da caverna. Para ele, as imagens pertenciam a um submundo, ao mundo da ignorância, porque interpretá-las poderia levar ao erro e a falsa opinião. Os homens que vivem acorrentados na sua famosa caverna só viam imagens diante de si o tempo todo e eram elas que lhes passavam uma ideia da existência de outras coisas, as sombras.
No entanto, as imagens foram se adaptando a vida rural e urbana dos homens e surgiram os primeiros pintores, os retratistas, os desenhistas. Aqueles que não conseguem se expressar sem ser através delas. A fotografia tornou a imagem algo mais espetacular e mágico, sem esquecer do desenho realista que é de uma excelência e técnica singular.
Eu, particularmente, sou uma apaixonada pela arte do desenho. Creio que toda criança devia começar a pegar no giz de cera desde os seus primeiros dias de vida. Fazer dele o seu brinquedo. Ter contato com ele. Tornar-se seu amigo íntimo e riscar o que puder.
Tem gente que diz não saber desenhar. Eu não acho ser isso possível. Todos nós temos um pouco dessa arte dentro da gente. Há pessoas que levam a arte muito a sério, e julgam o trabalho alheio como feio, sem técnica, sem emoção e sem maturidade. Existe muita gente chata no mundo que só sabe criticar fazendo com que o precoce artista volte para o seu casulo e nunca mais dele queira sair. Isso é triste. Eu já sofri com críticas desse jeito. Mas, não dei importância para elas. A gente tem que se posicionar, um dia, sobre a melhor forma de representarmos o nosso eu interior e as coisas ao nosso redor.
Claro que há grandes desenhistas ao redor do mundo que usam técnicas maravilhosas e conseguem desenhar de uma forma esplêndida. Porém, devemos respeitar também aqueles que estão começando, dando os seus primeiros passos, despertando para o talento.
É tão difícil alguém criar coragem para mostrar a sua arte ao mundo, muitos artistas nunca serão reconhecidos devido a timidez e o fato de não se acharem tão bons o quanto são. Eu tinha essa dúvida ao meu respeito e ainda trago em mim um pouco de críticas a mim mesma sobre melhorar cada vez mais.
As crianças gostam de desenhar as coisas ao seu redor. Os desenhos mais comuns são de gatos, cachorros, casas, nuvens e o sol. Muitas vezes elas interpretam uma história ouvida através do desenho. Neste momento divagam nos seus pensamentos e criam desenhos os mais diversos.
Há várias maneiras de desenhar que as crianças encontram. Algumas preferem usar apenas um pequeno espaço da folha, às vezes um canto dela, outras escolhem o meio da folha e ainda têm aquelas que desenham ou na parte superior ou na parte inferior. Tem desenho pequeno e desenho grande. Tem criança que só gosta de desenhar e não de pintar. Tem aquelas que levam horas pintando.
Quando se fala em conhecer o objeto ou a pessoa que será desenhada pela criança me vem à mente a necessidade que ela tem de conhecer as árvores para realizarem o Teste da Árvore que será mencionado mais abaixo, ou seja, qual a importância do objeto que se está sendo desenhando para ela e para o mundo, o que esse objeto oferece de bom para ela, o motivo pelo qual ele precisa ser preservado para manter o mundo cada vez melhor, por isso é importante que os pais levem seus filhos para terem contato logo cedo com as árvores. Assim, despertará neles o afeto por elas e a curiosidade de saber o que as fazem tão importantes e singulares às pessoas ao seu redor.
O desenho além de ser uma forma de distração e uma arte também serve como teste psicológico para descobrir a personalidade da criança. Sim, descobri outro dia o Teste da Árvore que consegue identificar a forma como a criança enxerga o mundo e as coisas ao seu redor através do seu desenho de uma árvore. Achei bem interessante este teste e o trago hoje para vocês conhecerem e fazerem com os seus alunos. Claro que o resultado real precisará ser feito através de um profissional de psicologia.
Sabemos que o desenho é um dos meios de expressão através dos quais as crianças expressam seus sentimentos, medos, preocupações e ilusões. A forma como elas desenham pode variar conforme o passar dos anos, assim como a forma que pensam e veem o mundo, então tudo é relativo e nada deve causar espanto ou preocupação, de imediato. O Teste da Árvore serve como uma forma de conhecermos mais detalhadamente as nossas crianças, e passarmos a atendê-las dentro das suas necessidades.
O Teste da Árvore é uma técnica muito fácil de ser aplicada, e pode ser feito com criancinhas ainda na tenra idade, mesmo que ainda não saibam desenhar direito. Ele vai nos indicar o eu da criança e as suas visões do mundo. Talvez com esse teste possamos descobrir melhor o motivo de alguns comportamentos das nossas crianças, de algumas atitudes e palavras que elas dizem ou até mesmo deixam de dizer. Acredito ser um teste importante para pedagogos, pais, responsáveis e aos psicólogos que são os profissionais especializados em aplicar o teste.
Ele pode ser aplicado a partir dos cinco anos de idade, quando a maioria das crianças já domina as habilidades básicas de desenho, para poder delinear melhor os elementos que compõem a árvore. O mais importante é que os adultos não lhe deem nenhuma ideia de como a árvore deve ser, a criança deve se sentir completamente livre para desenhá-la como quiser.
Quanto ao desenho do solo representa o ponto de contato com a realidade; portanto, quando não está presente, pode significar que a criança se sente insegura ou instável. Também pode significar não esteja suficientemente enraizada ou que precisa encontrar seu próprio espaço.
Ao contrário, a presença do terreno indica segurança e autoconfiança, principalmente quando traçadas com linhas retas, que indicam clareza de ideias e estabilidade emocional. Um piso ondulado pode ser um sinal de sensibilidade e tendência a evitar brigas. No entanto, é importante saber que antes dos nove anos de idade, muitas crianças não desenham o chão, e isso não significa que haja um problema.
O desenho das raízes que fornecem à árvore os nutrientes de que ela precisa para crescer, além de apoiá-la. Na teoria psicanalítica, as raízes representam o “ele”, isto é, a parte mais instintiva e oculta da mente. Quando omitido no desenho, pode significar que a criança tem medo do mundo ou se sente vulnerável.
Quando desenhadas em proporção, indicam que há um bom desenvolvimento emocional e que a criança se sente amada e aceita. De fato, uma árvore com muitas raízes é geralmente um sinal de um apego positivo. No entanto, crianças com menos de 9 anos de idade às vezes não desenham as raízes.
O desenho do tronco que é um dos elementos mais significativos da árvore, por isso está diretamente associado à identidade pessoal e a como lidar com o mundo. Se o tronco é muito fino e fraco ou possui linhas irregulares, provavelmente é um indicador de uma personalidade sugestiva e de medo de enfrentar um mundo considerado perigoso. Quando o tronco tem buracos, pode indicar um vazio emocional profundo.
Pelo contrário, um tronco grosso desenhado com linhas firmes indica uma personalidade forte e valores bem definidos, além de ser um sinal de autocontrole e disciplina. No entanto, se o tronco é muito grosso, pode ser um indicador de agressividade, características narcísicas, teimosia e tendência ao autoritarismo.
O desenho da copa e dos galhos que é a parte superior e mais visível da árvore, portanto elas representam os relacionamentos da criança com o resto das pessoas, bem como seus sonhos e aspirações. Antes de analisá-lo, é essencial saber que as crianças mais novas provavelmente não desenharão os galhos, pois não alcançam esse nível de detalhe, o que não significa que haja um problema.
Se os galhos e a copa dão um aspecto raro à árvore, isso pode refletir traços de personalidade, como excentricidade ou desejo de atrair atenção. Se os galhos forem muito pontudos ou com linhas muito retas, é provável que oculte uma tendência a ser agressivo e / ou impulsivo. Quando a copa é muito pequena, pode indicar timidez, introversão e retraimento. Se a criança acrescenta frutos à árvore, geralmente indica uma personalidade sociável e generosa.
A análise do Teste da Árvore deve ser levada a sério se feita por um psicólogo, pois ele saberá como cuidar da sua criança. Como disse acima, não se assuste se obter resultados que não são desejados, pois as crianças tendem a mudar o seu eu interior a partir dos anos e nem sempre pode ser um sinal indicativo de problemas se o desenho da criança apresentar um desses aspectos ditos acima.
Tudo é uma questão de comportamento e de subjetividade. Muitas vezes, a criança pode nem ter problema nenhum emocional e desenhar de uma forma completamente diferente daquela que esperávamos. É preciso saber que a arte se modifica em cada criança e que ao passar dos anos com a experiência adquirida tendemos a melhorar ou não os nossos desenhos.
Este ensaio de hoje teve a colaboração da minha psicóloga que me emprestou um livro falando sobre o Teste da Árvore e me falou um pouco sobre ele. Sou grata a minha psicóloga querida. A análise de desenhos por parte de psicólogos é uma rotina nos seus consultórios porque facilita a identificação do problema emocional da criança e uma forma maravilhosa de descobrir a personalidade daquele serzinho que está começando a conhecer o mundo e as pessoas ao seu redor.
No meu projeto voluntário com crianças que realizo há mais de vinte anos existe uma seção para o desenho. Observo a forma como elas se comportam quando estão desenhando e algumas ficam tão envolvidas com o desenho que se deitam no chão e passam um bom tempo a desenharem seus objetos e pessoas.
As crianças costumam desenhar de forma real os seus cotidianos e de forma imaginária aquilo que escutam. Se a história é bem contada e cheia de detalhes elas passam tudo isso para o papel. As mais pequeninas preferem fazer riscos e depois explicarem o que eles significam. Sempre é algo ou alguém conhecido delas. Guardo na minha casa vários desenhos de crianças desde o ano 2000 quando começou o projeto e sem esquecer de dizer que sou ilustradora e todos os dias faço um desenho, arte que trago desde a minha infância.
Para finalizar este texto trago um fragmento do livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint Exupéry que nos diz “Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes dava medo. Responderam-me “Por que um chapéu daria medo?” Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jiboia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jiboia, a fim de que as pessoas grandes pudessem entender melhor. Elas têm sempre necessidade de explicações detalhadas.”
Que tenhamos um olhar mais sensível as coisas que as crianças desenham e possamos junto com elas descobrir seus conceitos. Não sejamos tão adultos com as crianças.
Este texto foi traduzido livremente e adaptado do site https://www.etapainfantil.com/test-arbol-descubre-personalidad-hijo-dibujo.
Autora: Rosângela Trajano
Edição: Alex Rosset