Amando e dando valor ao próximo que seremos valorizados, e o que tem valor, ninguém esquece e nem abandona. Como aprendi com uma nobre alma “Só é solitário quem não é solidário.”
A Classificação Internacional de Doenças 11ª edição (CID-XI) foi lançada no mês passado – fevereiro de 2022- pela Organização Mundial de Saúde e comemorada como um excelente instrumento de codificação de doenças e de tendências e estatísticas de saúde em mais de 90 países.
Utilizando-se de mais de 17 mil códigos de lesões, doenças e causas de mortes, os quais, combinados com mais de 120 mil termos codificáveis, torna-a capaz de listar mais de 1,6 milhão de situações clínicas, das quais, destaco a de código Z602.
É sob este número que está o código do diagnóstico VIVER SÓ. Segundo a OMS, esta é uma informação que serve para uso médico, para pesquisas e estatísticas, só não serviu para salvar a vida de Dona Marinela Beretta, uma idosa de 70 anos, moradora da Lombardia (região ao norte da Itália) a qual morreu sentada em uma cadeira de sua casa tendo permanecido sozinha e mumificada por dois anos sem que alguém desse por sua falta. O fato foi descoberto no mês passado, justamente aquele do lançamento da revisão da CID XI. Dona Marinela tornou-se mais um número estatístico numa região onde aproximadamente 70% de idosos moram em iguais condições de solidão.
Pergunto: o que choca mais, a morte solitária ou uma existência na qual, ao findar, Dona Marinela não fez falta alguma? Ela não tinha familiares próximos que pudessem notar sua ausência. Seus vizinhos preocuparam-se, na verdade, com alguns galhos de árvores que caíram sobre a rua e a sua casa, e por isso, somente por isso, chamaram os bombeiros para a remoção. Encontra-la morta foi a consequência.
Que esta desagradável notícia possa nos servir de reflexão: se morrêssemos hoje, sozinhos, quem daria por nossa falta? Quanto tempo depois? Que tipo de importância temos como pais, filhos, vizinhos, amigos…. Fazemos falta?
Não precisamos viver com medo da morte, ela é inexorável, chegará. Porém, é possível vivermos de maneira que nossas vidas tenham sentido nos permitindo a sensação de realização, de maneira tal, que passemos a representar algo na vida dos outros. É amando e dando valor ao próximo que seremos valorizados, e o que tem valor, ninguém esquece e nem abandona.
Como aprendi com uma nobre alma “Só é solitário quem não é solidário.”
Autor: César A R de Oliveira
Edição: Alex Rosset