Trata-se de compreender as subjetividades para que as mulheres possam construir uma experiência intersubjetiva, como abertura de espaço comum. Daí o não olhar a mulher como um enigma a ser decifrado, mas sem estranheza, com respeito e reconhecimento.
Ter o seu lugar respeitado, sem dominadores e controladores. Ela quer que seus direitos sejam respeitados, independente das crenças e preconceitos. Apenas se sentir livre para buscar seus caminhos, realizar suas escolhas, sem a preocupação de estar sendo motivo de comentários discriminadores e separatistas. Mulher é busca e caminho.
Há na mitologia grega a Fênix, a ave que renasce das cinzas. O simbolismo da lenda entre tantos significados traz a ideia da esperança, nesse renascer contínuo das cinzas, ou num olhar mais contemporâneo, dá-se o fato de novos saberes que surgem a cada renascer e o aprendizado no enfrentamento das adversidades.
Esta simbologia me faz refletir sobre os desafios enfrentados pelas mulheres, nos diversos lugares onde vivem a atuam, na complexidade de suas experiências de morrer e renascer das cinzas. Há momentos em que parecem sucumbir, que a morte se avizinha definitivamente e eis que surgem das cinzas, expressando novas significações a esse morrer e renascer contínuos.
De que estou falando?
É uma luta incessante essa enfrentada pelas mulheres nos seus cotidianos desde os mais cruéis, até os aparentemente civilizados. A mulher busca sua luz, aparece e se oculta, grita e silencia, canta e chora, reza e blasfema, ultrapassando os seus próprios limites. A mulher é resistência.
Sabe sair de cena, retirar-se e voltar com força, tal como as asas da Fênix, que lembra o voo das águias a dominar céus e terras desconhecidas.
Se pesquisarmos as vidas de nossas ancestrais, temos exemplos belíssimos de coragem, de renascimento, de enfrentamento da morte, porque viver é importante para todas as vidas.
A figura feminina do recato e do encanto desaparece diante de uma guerreira, que sabe o que deseja e busca suas metas nos embates mais difíceis, às vezes quase impossíveis. Há situações em que a mulher retorna, parece voltar a ser subjugada pelas cinzas, respira e alça um novo voo, alcança o espaço e busca seus lugares, realizando seus projetos.
Aqui trata-se de compreender as subjetividades para que as mulheres possam construir uma experiência intersubjetiva, como abertura de espaço comum. Daí o não olhar a mulher como um enigma a ser decifrado, mas sem estranheza, com respeito e reconhecimento.
Autora: Cecilia Pires. Também escreveu e publicou no site “Questões e reflexões sobre o corpo feminino”: www.neipies.com/questoes-e-reflexoes-sobre-o-corpo-feminino/
Edição: A. R.