É verdade que menina cresce mais rápido do que menino?

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Deixem que as nossas meninas e meninos cresçam por igual e lhes deem as mesmas oportunidades de estudo e trabalho. Mesmo que o patriarcado e o conservadorismo estejam fortemente voltando aos nossos lares, as mulheres já sabem quais são os seus lugares e meninas, apesar de pequenas, já pensam em seguirem carreiras profissionais que antes eram impossíveis de sonharem.

O patriarcado é uma coisa cruel que machuca as mulheres do mundo inteiro ditando as suas normas, tradições e costumes. De uns tempos para cá tem diminuído um pouco com o empoderamento de algumas mulheres, mas no interior do Brasil e em bairros de periferias ainda vemos muito fortemente a sua presença nas casas de famílias mais pobres.

E começo pelas mulheres das cidades do campo quando os pais não aceitavam que elas estudassem para não aprenderem a escrever bilhetes de amor aos seus namorados, uma das formas do patriarcado maltratar as mulheres e deixá-las de fora da escola.

Eu sou uma feminista e acredito que a mulher é a dona do seu corpo e pode fazer dele o que quiser respeitando as leis de uma sociedade mesquinha e cruel que só dá direitos aos homens. Vamos sair por aí sem esse horrível sutiã, meninas, que machuca nossos seios?

As diversas ondas feministas ao redor do mundo ainda precisam ser consideradas como escolhas das mulheres para não mais serem subestimadas ou criadas para serem donas de casas.

Assim é que Simone de Beauvoir com a sua famosa frase “Ninguém nasce mulher, mas se torna mulher” ela quer nos dizer que nascemos numa sociedade pronta para nos ditar as suas normas, nos impor limites, nos colocar em lugares inferiores aos homens e nos subestimar dizendo que não somos capazes de quase nada a não ser cuidar de casas e de crianças.

Entrando no “paraíso” da infância vemos meninos e meninas da mesma idade morando na mesma casa e sendo filhos dos mesmos pais muitas vezes estudando coisas diferentes e sendo educadas de formas diferentes também. Meninos são educados para jogarem futebol nos fins de semana e meninas para passearem nas praças com os seus bichinhos de estimação.

Como história de mentirinha ainda enganam as mulheres dizendo que as meninas crescem mais rapidamente do que os meninos, o que é mentira e invenção do patriarcado para que as mulheres comecem desde cedo a serem tratadas como senhoras que serão para submissas aos seus maridos. Meninas e meninos crescem no mesmo ritmo. É mentira dizer que a menina cresce assustadoramente mais rápido do que o menino.

Muitas meninas podem ser mais experientes do que os meninos porque foram educadas para isso e sabem cozinhar, lavar, passar e cuidar de uma casa aos dez anos de idade enquanto os meninos com a mesma idade só sabem jogar bola ou assistir televisão.

Meninos são preguiçosos e não querem aprender tarefas domésticas porque desde cedo o patriarcado lhes disse que aquilo é coisa para meninas. E lá se vão as meninas para a cozinha fazer junto com a mãe um bolo de chocolate quando ela queria mesmo era estar no telescópio observando as estrelas.

Se fizermos uma pesquisa de quantas meninas são educadas para serem donas de casa e meninos para trabalharem e manterem uma família financeiramente ficaremos assustados com os resultados porque é isso que acontece ainda. Quase ninguém educa a sua filha para ser uma cientista, médica, juíza ou outra profissão qualquer.

Até um dia desses existia na minha cidade uma escola que ensinava as boas maneiras as meninas, a como cuidar de uma casa e fazer belos pratos para os seus maridos. Homens não podiam estudar nesta escola. Ainda bem que depois das ondas feministas repararam esse erro absurdo na educação.

Nunca vi uma mãe ensinando o seu filho menino a colocar roupas nos varais, a varrer uma casa, a passar roupas, mas sempre vejo a mãe reclamar da menina que passa o tempo todo brincando de médica com as suas bonecas. E se ela não quiser ser uma dona de casa? E se a sua escolha desde a infância sobre a sua vida adulta já estiver traçada?

Meninas e meninos crescem por igual. Os meninos deviam ser educados com os mesmos direitos das meninas. Não vejo pais levarem suas filhas pequenas aos estádios de futebol, mas vejo muitos meninos vestidos com as camisas dos seus times sentados nas arquibancadas. Dizem que o mundo está mudando e que as mulheres estão ficando chatas, será mesmo que estamos chatas ou é porque estamos reivindicando os nossos direitos e como dizia Simone de Beauvoir não existem sexos diferentes.

Para esta mesma pensadora acima enquanto o mito da maternidade e da família não for destruído a mulher será sempre oprimida. Dão bonecas as crianças para lhes dizerem que um dia elas serão mães e precisarão aprender a cuidar dos seus filhos enquanto para os meninos dão carrinhos, bolas, trens.

Nunca vi um menino ganhar uma boneca de presente de aniversário, pois o patriarcado não permite que isso aconteça. Pais machistas que se dizem modernos não os são na verdade. Eles dizem para os seus filhos que devem fazer xixi de pé porque é assim que homem de verdade faz.

Os tempos mudaram, contudo as meninas continuam ganhando bonecas de presente com casinhas e fogões para cozinharem comidas de mentiras e já irem treinando os seus dotes femininos para idade adulta. Continua do mesmo jeito no casamento religioso, pois ainda é o pai quem entrega a filha para o noivo e não a mãe.

Leia também crônica: Coisa de menino/coisa de menina: https://www.neipies.com/coisa-de-menino-e-coisa-de-menina/

São as meninas de dez ou doze anos de idade que devem cuidar dos irmãos menores quando as suas mães solos saem para trabalhar e não têm com quem deixá-los. Os meninos ficam brincando no pátio da casa sem sequer ajudarem as suas irmãzinhas a dobrarem uma roupa, a varrerem uma casa ou olhar o irmão menor. Claro, eles não foram educados para isso. As mães lhes ensinaram que devem brincar de carrinhos e correrem nas ruas. Que devem depois de grandinhos ajudar financeiramente no sustento da casa.

O menino ainda pequenino se sente mais poderoso segundo Freud por ter um pênis e o da menina deve ter sido cortado. Ele fica o tempo todo se perguntando onde está o pênis da menina e com isso vai se formando um amor pela mãe que também não tem pênis mais profundo do que pelo pai que não o interessa, pois ele sabe que o pai tem um pênis. É a mãe quem vai precisar de proteção, de cuidados, de zelo e afeto.

A menina vai menstruar aos onze ou doze anos de idade e vai se tornar uma mocinha pronta para ter filhos, como dizem os machistas e as mães criadas com base no patriarcado. Elas não sabem que aquilo é o começo de um novo ciclo onde as meninas precisam de cuidados para não se submeterem mais ainda aos deveres que os homens vão lhes impor quando souberem que já menstruaram e estão prontas para serem mães.

Houve um avanço na maternidade e as mulheres já não são mais como as nossas avós parindo quinze ou vinte filhos. Agora elas só querem um ou dois filhos. Talvez estejamos no caminho certo e educando as nossas meninas como deveriam ter sido educadas há muito tempo, ou seja, elas nasceram para serem o que quiserem e não para servirem machos ridículos que acham que mulheres são seus objetos de decoração.

Temos visto as meninas brincarem mais de bonecas, só que com um detalhe: elas agora também jogam online, usam tablets, têm smartphones e nas escolas sentam-se ao lado dos meninos e disputam na mesma igualdade as melhores notas. Ainda são os meninos os que se saem melhor nas Olimpíadas de Matemática, mas é porque em casa e na escola lhes são dadas oportunidades que não são oferecidas às meninas como tempo para estudos somente de uma disciplina. Ainda há desigualdades nas escolas e em casa. Os professores de matemática ainda dão mais suportes aos meninos, isso é fato.

Ter mulheres nas ciências é comemorado como algo maravilhoso, o que deveria ser garantido a elas por direitos a escolha das suas profissões. Igualdades salariais do mesmo jeito. As mulheres comemoraram até outro dia este direito aqui no Brasil.

Deixem que as nossas meninas e meninos cresçam por igual e lhes deem as mesmas oportunidades de estudo e trabalho. Sabemos que o patriarcado ainda vai continuar e não tem como acabar, com uma bancada política na Câmara e no Senado conservadora.

As meninas têm medo de falar dos seus sonhos porque os acham difíceis de conquistarem e quando são interpeladas pelo que querem ser quando crescerem titubeiam para não ouvirem risinhos de machistas, preferem inventar uma mentirinha de casamento e mãe de família.

Ainda vamos ter muitas meninas nas ciências e na política. Mesmo que o patriarcado e o conservadorismo estejam fortemente voltando aos nossos lares, as mulheres já sabem quais são os seus lugares e meninas, apesar de pequenas, já pensam em seguirem carreiras profissionais que antes eram impossíveis de sonharem.

Meninos e meninas crescem por igual, somente na sua cabeça é que eles crescem mais rapidamente um do que o outro, se você é um machista desavisado que estamos em pleno século vinte e um.

E para terminar deixo vocês com a grande filósofa americana Judith Butler que nos diz

“Sempre fui feminista. Isso significa que eu me oponho à discriminação das mulheres, a todas as formas de desigualdade baseadas no gênero, mas também significa que exijo uma política que leve em conta as restrições impostas pelo gênero ao desenvolvimento humano.”

O humano é a presença real nas políticas públicas que devem ser tratadas pelas autoridades governamentais dos países desenvolvidos e em desenvolvimento para que as nossas meninas possam ir tão longe o quanto se vai uma estrela cadente.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: A. R.

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