Precisamos pensar estratégias harmoniosas entre teoria e prática, entre o que se diz e o que se faz, caso contrário, nossos estudantes não entenderão o propósito e a importância de tratar das causas ambientais, e a forma de agir deles permanecerá inalterada.
Dia destes, escutei uma colocação que transcrevo: “Mas você fazia isso, e agora é contra. Eu me lembro que você fazia”. Eu, então, respondi “Ótimo! Que bom notar que tens boa memória. Você pensava que eu ficaria estagnada? Eu aprendi de outros jeitos, sob novas perspectivas. Mudei!”.
É bastante comum acontecer esse tipo de situação entre colegas de profissão, especialmente quando concepções e entendimentos se modificam para alguns; enquanto que para outros as heranças de uma educação transmissiva permanecem cristalizadas, sendo reveladas em expressões do tipo “sempre fiz assim” e “sempre foi assim”, e materializadas na sala de aula, por condutas, atitudes e exemplos que são contraditórios ou por práticas que se distanciam da vida do aprendiz.
A colocação proferida pela colega suscitou meu pensamento em relação a certas mudanças que atribui, primeiro em minha casa (cuidado de si) e depois na escola (cuidado dos outros).
Muito se escuta, muito se vê e muito se sabe sobre os problemas ambientais. No entanto, ainda é pouco o que se faz, tanto em nível micro (o que cada um pode fazer), quanto macro (projetos, políticas públicas).
É um desafio constante lembrar e cultivar as boas práticas de cuidado com meio ambiente, e quando se pensa no assunto, logo vem à memória a importante questão do lixo e sua reciclagem. Tomo este exemplo como ponto de partida da discussão.
Algumas vezes, ainda acabo misturando os tipos de resíduos, embora a separação esteja ocorrendo há alguns anos aqui em casa. Quando tenho essa atitude, penso na construção do hábito e como nem sempre é fácil o processo de reconstruí-lo. Toda semana, levamos o material ao ponto de coleta que fica no bairro ao lado, ação que provoca a sensação de dever cumprido e de cuidado com o meio natural. Mas, caso não fossem levados ao ponto, esses resíduos seriam recolhidos e misturados no transporte, o que evidencia a falha no sistema, pois ainda não há um esquema organizado para coletar os diferentes tipos de materiais.
O problema do lixo é urgente, mas é só um entre tantos, como o desmatamento e a crise da água, que reflete na crise de energia elétrica.
Mas, o ponto que quero destacar é o da educação, hoje, a educação ambiental, especialmente a que ocorre nas escolas, que almeja cumprir o papel de conscientização, que busca a transformação da prática pelos vieses do cuidado e preservação.
As crianças são extremamente criativas e sensíveis as causas ambientais. Quando falamos com elas sobre cuidados, logo se preocupam em buscarem soluções para o que propomos cuidar. (Rosangela Trajano). Leia mais!
Há alguns aspectos que ainda podem, ou melhor, precisam outro direcionamento. Não tenho a solução, mas tenho os questionamentos e, juntos, quem sabe, podemos buscar alternativas para qualificar certas práticas, tornando-as coerentes. Dito de outro modo, precisamos pensar estratégias harmoniosas entre teoria e prática, entre o que se diz e o que se faz, caso contrário, nossos estudantes não entenderão o propósito, a importância de se tratar das causas ambientais, e a forma de agir deles permanecerá igual.
Apresento as questões: Como os estudantes mostrarão apreço e interesse pelo meio natural se ficam praticamente todo tempo de escola dentro da sala de aula, emparedados? Alguém é capaz de cuidar, sentir afeto e preocupação por algo que lhe é estranho? Como os estudantes entenderão os problemas com o lixo e importância da reciclagem, se observam na rotina da escola o uso ilimitado de descartáveis? Como entenderão sobre a crise da água, se as áreas verdes da escola são substituídas por pisos de pedra e cimento? Como saberão comprar conscientemente e saber escolher os produtos, se no cotidiano escolar fazem uso indiscriminado de EVA, TNT, CELOFANI, ISOPOR, SACOS PLÁSTICOS, etc.
Não é questão de isto ou aquilo, mas sim de escolhas criteriosas, entrelaçadas com o propósito. Neste ponto, acredito na importância da condução do adulto/educador.
Sabemos dos muitos motivos que configuram obstáculos no modo de conduzir o processo educativo, dentre eles as já mencionadas influências da educação transmissiva, que objetiva inculcar conteúdo, sem preocupação com o pensamento crítico; as transformações da sociedade nas dimensões culturais, sociais, políticas e econômicas, que acabam exigindo um novo tipo de ser humano, que dê conta de demandas que se modificam rapidamente e precisa de seres passivos; o tempo escasso, ocupado por completo, tanto do professor, quanto do aluno, em detrimento da formação flexível e adaptável à sociedade do mercado; a fragilidade formativa dos profissionais da educação que não alcançam o conhecimento suficiente para estabelecer a resistência necessária; o descaso e a falta de investimentos, por parte dos governantes.
Mesmo com todas as adversidades, o professor precisa se capacitar! A apropriação refinada de conhecimentos teóricos configura a possibilidade de maior compreensão sobre os motivos pelo quais a ação docente segue determinado curso e não outro; como e quando são feitas certas escolhas e não outras; assim como as possíveis repercussões destas predileções/preferências na vida daqueles que são conduzidos.
O estudo minucioso, neste sentido, parece ser fundamental para que os profissionais da educação compreendam a relação profunda entre a sua função insubstituível enquanto educadores e a realidade que se apresenta repleta de problemas.
A ação docente precisa ser capaz de notar as contradições entre o que se ensina e o que o aluno vivencia/experiência. O professor tem de se incomodar com as desarmonias, incoerências e tentar, junto com os estudantes, encontrar estratégias diferentes. Aí sim a conscientização, o cuidado e o apreço podem se efetivar.
Todos somos frágeis em certas dimensões, o que importa, no entanto, é a abertura e disponibilidade para ultrapassá-las. É necessário, neste sentido, romper com as ideias provenientes de perspectivas doutrinadoras, a exemplo do “sempre fiz assim” e o “sempre foi assim”, sob o risco de continuarmos a dizer uma coisa, embora fazendo outra. Até porque o que se fez em um dado momento, pode não servir para outras ocasiões, e saber quando serve ou não é função do professor.
Será que os materiais que colaboram para o acúmulo de lixo combinam com escolas conscientes, educam para a preservação da natureza? Não podemos continuar como o ensino fingido, vazio de verdade, porque se assim for, o aluno vai fingir que aprende e não terá natureza viva nesse fingimento todo.
“A diferença sempre está entre os que pregam a ética e os que pregam a etiqueta como formas de colaborar com a sobrevida do planeta, entre quem se dispõe a promover mudanças na organização econômica e social e entre aqueles que buscam compensar o planeta com “atitudes politicamente corretas”. (Nei Alberto Pies) Leia mais!
Autora: Ana Lúcia Vieira
Edição: Alex Rosset
Ótima reflexão. Parabéns!
Excelente reflexão! Nossa postura moral precisa ser elevada. É urgente e necessário que nos reconstruamos como educadores. Rever nossos pensamentos, nossos conceitos, provocar nossa vontade criativa a tornar-se ativa. Ser e fazer. Crer e agir. Abrir-se ….
Sempre com questionamentos pertinentes e consistentes👏🏻👏🏻parabéns!
Excelente… Parabéns