Querendo ou não, há algo novo em nossas vidas. A população gaúcha está passando por um desafio – conviver com alagamentos urbanos. Mas será que a culpa é da chuva?
Parece ser mais simples culpar o visível, ou seja, a chuva, mas é preciso olhar com atenção o que isso revela. Chuvas sempre ocorreram, mas uma das principais razões para a cidade não dar conta da água da chuva é o excesso de impermeabilização do solo, que pode ser exemplificado pelos asfaltos. Em uma equação em que temos cada vez mais asfalto e cada vez menos solo disponível para absorver a água da chuva, a conta da absorção da água está cada dia mais deficitária. O reflexo direto disso corresponde a bocas de lobo sobrecarregadas, ruas e calçadas alagadas, resultando em famílias surpreendidas com água dentro de suas casas.
Experimentamos, na prática, o resultado do direcionamento dos investimentos públicos a iniciativas que reproduzem um modelo de cidade que não funciona mais, já que diminuem o verde e aumentam o cinza.
Mas é possível, a partir de ferramentas de planejamento urbano, contribuir para a redução dos efeitos dos dias chuvosos, entre as quais está a necessidade de os munícipios construírem planos de contingência que irão garantir um alerta mais qualificado, bem como o atendimento de famílias moradoras em áreas de risco.
E não só. Também é possível mitigar os dias quentes. Uma das formas é ampliar áreas verdes, e isso pode ser garantido a partir de inúmeras iniciativas apoiadas nas soluções baseadas na natureza (SBN).
As emergências climáticas devem ser entendidas como um fenômeno que se manterá constante. Esse problema requer uma solução coletiva, que se inicia com uma ação individual: o voto. Em um ano de eleições municipais, é importante perguntar: qual atenção será dada pelos candidatos e candidatas ao enfrentamento da maior emergência da humanidade?
Por Marina Bernardes, arquiteta e urbanista e mestra em arquitetura e urbanismo.
Edição: A. R.