Em média, os usuários no Brasil passam 29,2 horas por mês no TikTok.
Segundo dados recentes da DataReportal, o Brasil conta atualmente com a marca de 82,2 milhões de usuários com 18 anos ou mais na plataforma TikTok. Este número pode ser ainda maior, considerando que a maioria desses usuários está em faixas etárias mais jovens e mentem a idade ao criar conta na rede social.
Diante desse cenário, surge o questionamento sobre como o jornalismo, em especial os grandes veículos impressos do país, como a Folha de São Paulo, Estadão e O Globo, estão lidando com essa plataforma, que, vale ressaltar, foi lançada em 2014.
Inicialmente reconhecido como uma plataforma voltada principalmente para conteúdo musical, o TikTok evoluiu ao longo do tempo, incorporando mecanismos e algoritmos próprios que ampliam o alcance dos conteúdos compartilhados. Hoje, podemos encontrar uma diversidade de conteúdo de todos os tipos, e o TikTok tem se transformado em uma ferramenta de pesquisa quase tão utilizada quanto o Google, pois os resultados não dependem de leitura em texto da web e sim aparecem em segundos nos vídeos hiper editados e atrativos visualmente. A explicação sai na hora em poucos segundos.
No entanto, onde exatamente estão os jornais de maior circulação nacional nessa plataforma? Surpreendentemente, eles parecem estar sendo superados por perfis anônimos que se dedicam a fofocas, de forma informal e descentralizada. Por exemplo, perfis como “Choquei” contam com quase 3 milhões de seguidores e registram milhares de visualizações em cada vídeo diariamente, enquanto os três jornais mencionados anteriormente, juntos, não conseguem alcançar essa marca.
Juntos, os principais “@s” do gênero somam mais de 150 milhões de seguidores. FONTE: METRÓPOLES.
É importante ressaltar que as diferenças entre um perfil focado em fofocas e os jornais que produzem jornalismo sério e consciente são gritantes. No entanto, a reflexão que se impõe é: por que empresas constituídas por profissionais qualificados em comunicação não conseguem atingir o grande público?
Onde está o erro na adaptação das linguagens para cada rede social? Parece existir uma certa falta de compromisso por parte do jornalismo como instituição social em buscar um público mais amplo, visível e nesta faixa etária, especialmente diante da crescente onda de disseminação de fake news nos últimos anos.
A ineficácia na comunicação é evidente, e não parece haver interesse por parte dos usuários do TikTok em acessar conteúdos jornalísticos, visto que muitas vezes são simples réplicas de outras plataformas. Talvez, uma das razões para esse fracasso seja o enxugamento das redações e a alta demanda de desempenho exigida dos profissionais remanescentes, aliada à sobrecarga de tarefas que antes eram mais bem distribuídas. Outro fator pode ser a falta de investimento na capacitação dos profissionais existentes para se adaptarem a essa nova realidade, ou até mesmo o desinteresse desses grupos em alcançar esses usuários.
A preocupação que persiste é: se essa população jovem usuária do TikTok não for orientada a consumir produtos jornalísticos de qualidade, ou se esses produtos não conseguirem alcançá-los, como poderemos combater o problema das fake news e incentivar a busca por informações precisas? São questões para as quais o jornalismo brasileiro ainda parece não ter respostas concretas.
Autor: Anthony Buqui – Jornalista, ativista, produtor cultural, videomaker, fotografo e captador de recursos. Também publicou crônica Ministério da Cultura se destaca no primeiro ano de governo de Lula 3: https://www.neipies.com/ministerio-da-cultura-se-destaca-no-primeiro-ano-de-governo-de-lula-3/
Edição: A. R.