Se o pão for repartido, se a solidariedade for multiplicada, se as guerras forem subtraídas e se a justiça social for somada com a paz e o respeito entre todos, estaremos construindo as melhores respostas para as perguntas mais cruciais!
O fato se deu na fila da padaria do supermercado. Enquanto fazia meu pedido, lancei uma pergunta despretensiosa, daquelas que nos vem espontaneamente e que a gente emite, muitas vezes, sem pensar no seu teor e na sua amplitude. A tal pergunta foi: tudo bem? Com um sorriso largo, enquanto ia providenciando a encomenda, a atendente respondeu de forma inusitada: “Acho que sim”. Minha reação foi de um certo espanto. Como alguém pode não saber se está bem! Olhamo-nos e rimos juntos. Eu lhe disse: nossa, que resposta inteligente!
Perguntar se tudo está bem é uma forma cordial de tratar as pessoas. Porém, embora pareça simples, a questão é muito abrangente e pode ser bastante complexa. O que significa mesmo estar bem? E como saber, de fato, se tudo está bem? E mais: como garantir que tudo e todos estejam bem? Estar bem pode não significar exatamente viver bem consigo mesmo e com os outros.
Além do bem estar é importante perguntar-se pelo bem viver, como fazem os povos indígenas andinos. Estar bem pode representar apenas uma sensação ou situação momentânea e individual, ao passo que bem viver implica uma condição coletiva e duradoura. Envolve questões de diversas ordens e de âmbito individual, familiar, comunitário e societário.
Como dizer que tudo está bem quando há várias guerras em pleno andamento ao redor do mundo? Guerras de grande e de pequeno porte, aquelas barulhentas e outras tantas silenciosas, porém todas destrutivas. É forçoso dizer que tudo vai bem e que tudo está certo quando os extremos climáticos produzem tantas tragédias sociais, ambientais e econômicas. De que maneira afirmar que tudo corre normalmente quando há tantas pessoas desempregadas, subempregadas, com fome, morando mal, conflituadas, violentadas, excluídas, deprimidas e adoecidas?
Muitas vezes é difícil saber se nós mesmos estamos bem. Ocorre que há aspectos mais íntimos a nós do que nossa consciência ou capacidade de identificar e tratar alcança. É por isso que perguntamos ao psicólogo: como eu estou? Outras vezes indagamos do médico: como estou eu? Ou ao conselheiro espiritual: pode me ajudar a organizar as desordens que me povoam? E muito desejamos que as respostas dadas por esses e outros profissionais da saúde física, psíquica e espiritual nos sejam boas. Que tudo esteja bem é, sim, nosso desejo mais radical.
O que fazer para ficar bem ou para melhorar das situações e realidades que nos afligem, aterrorizam, aprisionam e destroem enquanto seres humanos e seres sociais?
Em tudo, vale lutar de forma decisiva para mudar o que é possível fazê-lo ou, de outra parte, buscar maneiras de administrar o que é ou se torna impossível de modificar. A sabedoria consiste precisamente em distinguir uma coisa da outra.
No meio das dúvidas, dos conflitos e das turbulências, sempre encontramos respostas. Umas são satisfatórias, outras nem tanto. Quando obtemos respostas como essa dada pela mulher da padaria do supermercado, podemos concluir que somos ilustres desconhecidos de nós mesmos. Há respostas que vêm recobertas de outras dúvidas ou de novas perguntas. Muitas vezes, quando encontramos as respostas, mudam as perguntas. Assim, somos eternos buscadores de respostas para perguntas infinitas, seres sempre incompletos e em permanente processo de construção. Darmo-nos conta disso já é uma grande conclusão.
Há perguntas feitas por multidões na fila da padaria e do supermercado. Elas emergem da exigência vital de satisfazer as necessidades básicas e essenciais de todos os dias. Mas, nem sempre as melhores respostas são aquelas dadas pelo modo capitalista de ser, em que o dinheiro se torna a condição obrigatória e exclusiva para ter o direito de comer e de viver bem.
Para que tudo possa estar bem, há um longo caminho a percorrer. Mas, se o pão for repartido, se a solidariedade for multiplicada, se as guerras forem subtraídas e se a justiça social for somada com a paz e o respeito entre todos, estaremos construindo as melhores respostas para as perguntas mais cruciais!
Viver para pensar ou pensar para viver? Apenas viver por viver ou tão somente pensar por pensar? Se pensar, refletir e imaginar é bom, viver bem é ainda mais importante. Mas, se conseguirmos pensar para viver melhor, será bem mais interessante. Leia mais: https://www.neipies.com/o-bem-viver-depende-do-bem-pensar/
Autor: Dirceu Benincá
Edição: A. R.