Era da ignorância

1939

Não é possível que todos saibam muito
sobre tudo e não podemos nos guiar
apenas pelo senso comum,
para isso existem os especialistas,
que dominam determinados assuntos.


Em uma matéria de 2017 na revista Foreign Affairs, o professor americano Tom Nichols fala sobre o fenômeno social da percepção da ignorância como uma virtude. Ele é autor do livro “A Morte da Competência”, sobre esse tema.

Referindo-se à sociedade americana, ele entende que atualmente há uma desconfiança com relação aos especialistas (experts), e uma desvalorização do conhecimento acadêmico e científico. Os leigos tenderiam a considerar a sua opinião e o senso-comum como base suficiente para julgar questões complexas e para questionar os especialistas.

Lendo essa matéria, com algum atraso, tive a impressão de que esse fenômeno também ocorre no Brasil. Parece haver um crescente desprezo pelos intelectuais, cientistas e especialistas, e um questionamento permanente dos fatos comprovados pela ciência.

Desde a relativização de dados e estudos sobre meio ambiente e saúde pública, até a contestação absurda de descobertas científicas, a postura da sociedade tende a enaltecer o senso comum e equiparar opinião pessoal a conhecimento acadêmico e científico.

O autor cita muitos fatores que contribuem para esse comportamento, entre eles os vieses cognitivos, o medo que faz com que as pessoas rejeitem aquilo que não conseguem compreender, e também o ambiente da internet e redes sociais, onde proliferam opiniões e dados falsos misturados a fatos comprovados, favorecendo a confusão.

Há um alerta importante no artigo sobre o risco desse comportamento para a democracia e para o futuro da sociedade. O conhecimento acumulado durante séculos foi o que permitiu que a humanidade evoluísse, e siga evoluindo.

Embora o questionamento seja importante, numa organização social complexa como a nossa, não é possível que todos saibam muito sobre tudo e não podemos nos guiar apenas pelo senso comum, para isso existem os especialistas, que dominam determinados assuntos. Precisamos confiar neles e na ciência, e aceitar a nossa ignorância em certas áreas. Aceitá-la sem enaltece-la.


“Um professor quer ser alguém que ajude a formar opiniões sólidas, não meramente a achologia. Isso exige de mim uma formação continuada que me encanta e me agrada, me coloca o tempo todo no risco de ser alguém em quem as pessoas prestam muita atenção. Isso exige afastar o risco da superficialidade sem deixar de ser simples”. (Mário Sérgio Cortella)

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