Era uma vez a Feira do Livro mais querida que, todos juntos, pudemos fazer.
Era uma vez uma Academia de Letras, uma prefeitura e suas Secretarias de Cultura e de Educação, uma Biblioteca Municipal, uma Coordenadoria Regional de Educação, um Instituto Histórico e uma unidade do SESC, todos muito encantados com livros, letras e literatura.
Todas as pessoas desse grupo habitavam uma cidade que era Capital Nacional da Literatura e se chamava Passo Fundo.
Nesta cidade havia um espaço muito bonito chamado Roseli Doleski Pretto, onde ficavam os prédios da cultura, bem no centro da cidade.
O grupo que gostava de livros, letras, literatura, começou a montar uma feira pra mostrar quanta coisa maravilhosa estava acontecendo no mundo da literatura e resolveu chamar Roger Castro para ser o MC – o mestre de cerimônia.
Vieram os escritores Antônio Schimeneck, Luciana Marinho, Eleonora Medeiros, Pablo Morenno, Simoni Giehl, e deu uma mistura muito pop, porque veio um tal de Chiquinho Divilas, que era rapper e tinha um lado escritor, assim como os dois músicos Thedy Corrêa e Duca Leindecker, que também transitavam pelo mundo das letras, e pronto, já estava montada uma parte muito, muito importante da feira: os escritores convidados.
E aí começaram a pensar: e os escritores que tem livros pra lançar? E os contadores de histórias? Temos que chamar também. Temos que trazer para a feira o café filosófico, espetáculos teatrais, artesanato literário…
Beleza, então vamos ao check list:
– Lugar para a feira? Positivo.
– Escritores? Tá na mão.
– Contadores de histórias? Fechou.
– Lançamento de livros? Tudo belezinha.
– Espetáculos teatrais? Já é.
– Artesanato literário? Demorô.
Tá, mas e quem é que a gente vai homenagear?
A resposta parecia um jogral: tem que ser de Passo Fundo. Aqui está cheio de gente e instituições que nos enchem de orgulho.
Silêncio, silêncio, e a fumacinha branca apareceu: habemus Amigo do Livro e era a Gráfica e Editora Padre Berthier.
Mais um fumacê branco surgiu no ar e o nome era da professora Josenira Ferreira como Educadora Emérita.
Já tinha gente tossindo com tanta fumaça, quando saiu o nome do Educador Motivador: professor Aleixo da Rosa.
Faltava o Patrono. Ah, o Patrono, quem será o Patrono? E a fumacinha veio ali dos lados da Paissandú. – Que massa, a EENAV, a escola que completava 95 anos, a escola das normalistas, era a Patronesse da feira.
Ah, mas agora sim, a feira do livro estava do balacobaco! Só que, do nada, chegou uma notícia: 18 mil alunos da rede de ensino do município terão 40 Reais, cada um, para comprar livros na feira. Era o vale livro, um programa da Prefeitura de Passo Fundo. E a feira que era do balacobaco ficou do ziriguidum também.
Alguém do grupo parecia o burro do Shrek e perguntava insistente: já dá pra começar a feira? Ainda não. Tá pronta a feira? Não, ainda não. E agora, dá pra começar? Aff…
Estava faltando o tema da feira, claro! Aquela frase pra convidar, pra mostrar o espírito da coisa, e aí foi dureza. Vou contar pra vocês, bem baixinho… De um lado estavam os mano da quebrada e, do outro, aquele pessoal que fala certinho, que usa o ‘s’ quando é plural. Meuuu, que embate rolou. Mas a turma estava de boa e ajeita daqui, arruma dali, entenderam que o tema da feira tinha que ser leve, fácil, bom de dizer e assim nasceu o Bora lá, Bora lê!
Tudo montadinho no Espaço Roseli, chegou o domingo, dia 20 de outubro.
Que dia bonito foi aquele! Finalmente a 36ª Feira do Livro estava acontecendo.
Vieram as autoridades, crianças, amigos.
E quando a feira começou, quando o primeiro ônibus chegou, cheio de crianças, o livreiro fez a primeira venda de um livro, quando a primeira criança escutou uma contação de histórias, o primeiro jovem saiu feliz com o autógrafo e o primeiro adulto ouviu, atento, o escritor, todos entenderam porque feiras do livro não morrem.
Essa história é de 2024, mas poderia ser de 1997, porque tudo sempre se repetirá enquanto alguém encontrar um banco, uma mesa, um cantinho, abrir um livro e criar um mundo.
Era uma vez a Feira do Livro mais querida que, todos juntos, pudemos fazer.
Fotos:Divulgação/Feira do Livro de Passo Fundo
Autora: Miriê Tedesco, secretária municipal de Cultura de Passo Fundo, RS.
Edição: A. R.