Escola, planos e planejamentos para quem?

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O planejamento da aula faz parte do exercício docente. Planejar é necessário. E não vejo problemas nisso! Um bom planejamento faz toda diferença na vida do aprendiz. Planos matam ou salvam!

Hoje fiz planos sobre o que escrever. Resolvi escrever sobre planos. Planos que matam e planos que salvam. Planejamentos de aulas! Porque certamente há milhares de professores elaborando suas aulas neste momento. Ou os fizeram no período da tarde, ou de manhã, ou na madrugada. Sei que o fizeram, porque o planejamento da aula faz parte do exercício docente. Planejar é necessário. E não vejo problemas nisso! Um bom planejamento faz toda diferença na vida do aprendiz. Planos matam ou salvam!

O que chama atenção é o fato de que milhares de professores estão a planejar seguindo determinações de secretarias e coordenações, sem poder ao menos escutar e dialogar com seus estudantes. Isso mata! Parece que é conduta, prática frequente, normalizada. É o planejamento antecipado! Ou, planejamento adultocêntrico, meu termo preferido. Isso mata!

Estou me referindo ao planejamento para fins de documentação, que serve para provar que alguém dedicou tempo para compô-lo; aquele que serve para encher folhas e planilhas que comprovam algo. Nasce em detrimento de um programa. Nasce sob a ótica do professor, sem o olhar do aluno. Nasce do pensamento (exausto) do professor, sem o pensar do aluno. Nasce sem a escuta e a voz daqueles aos quais o planejamento se destina: os estudantes! O planejamento que nasce assim, mata!

O que inquieta e incomoda muito os professores está relacionado com a contradição entre o que se estuda e o que se faz, ou seja, entre teoria e prática. De que adiantam tantas formações, momentos em que se discute sobre a necessidade de se perceber e entender o ser humano que está a aprender. Estudos que dão ênfase para protagonismo do estudante, compreendido como ser único, potente, capaz; e ainda, que precisa de uma formação criativa e crítica, que possibilite o exercício democrático.

Lindo! Lindo e falso! Mas, por que é falso? Porque o planejamento adultocêntrico não oportuniza a participação do estudante, assim não existe protagonismo, nem criatividade, nem criticidade, tampouco se aprende democracia, embora se fale muito nela.

Não se trata de afirmar que são os estudantes que decidem o planejamento, mas sim de momentos de interação entre eles e o professor. Por meio do diálogo, com escuta atenta e sensível, seria possível perceber interesses, pensamentos, sentimentos, experiências, opiniões, reivindicações, preferências, além das diferentes realidades de vida. Com isso seria possível traçar o planejamento, um percurso formativo verdadeiro.

Milhares de professores fazem planos de aula para cumprir protocolos. Aulas para o mês inteiro, traçadas para o perfil passivo de estudante, embora o discurso seja o de estudante ativo. Com o planejamento feito antecipadamente, o professor pode até morrer. Mas seus planos ficam. Isso que é eternizar!

Milhares de professores estão fazendo planos, preenchendo tabelas, planilhas! Quando estão com os estudantes, o semblante é de preocupação com a papelada. Todos sabem que faz parte do seu trabalho. O problema é que a ordem está invertida, o certo é primeiro o ser humano, depois a burocracia.

Se assim continuar, é pertinente informar que, por esta perspectiva não se vê preocupação com o estudante e a sua formação. A preocupação tem a ver basicamente com exigências legais, bem contraditórias, inclusive. Tem a ver com o mundo adulto e tudo que é mais fácil e confortável para ele.

Quem inventa isso? O adulto. Para contemplar o que ele precisa, não o estudante. Alguma coisa o aluno tira de proveito nisso, alguma coisinha. Mas talvez seja por isso que em determinado momento da vida estudantil, seja bem ruim cumprir certos afazeres escolares. Talvez o estudante perceba que é invisível, inaudível, incomunicável. Talvez a escola se torne o lugar onde ele não queira estar.

Agora vejam!

Como é possível elaborar planejamentos que contemplem espaço, tempo e interações, a partir do que expressa a criança, com planejamento adultocêntrico?; Como é possível oportunizar a participação das famílias e pensar na documentação pedagógica, partir do que expressa a criança, com planejamento adultocêntrico?

Como é possível considerar o papel da natureza, partir do que expressa a criança, com planejamento adultocêntrico? Como é possível contemplar a cultura, partir do que expressa a criança, com planejamento adultocêntrico? Como é possível o aprendizado em companhia, que tanto é mencionado, com planejamento adultocêntrico?

Como é possível o protagonismo do estudante, a formação criativa e crítica e o exercício democrático com planejamento adultocêntrico, elaborado com antecedência para cumprir protocolos, oriundos de determinações que desconsideram o professor?  Não é possível. Ponto.

Tenho dó, pena de mim (sou professora) por ter de seguir certas normas, porque elas são tolas, e ter consciência da tolice causa sofrimento, adoece! Lamento que os meus colegas também tenham de se sujeitar a cumprir atribuições que se contradizem. Entendo o adoecimento de muitos. Lamento porque somos passivos! É triste! E não é surpresa que tornemos nossas crianças assim. Embora a papelada diga o contrário.

É importante que saibamos que é impossível a participação ativa do estudante, se os planos forem elaborados somente pelo professor/adulto e do jeito como está sendo feito. A participação do aprendente inexiste. Ele está ficando de fora do processo. Ele só vai desenvolver o que o professor solicitar, portanto, de modo passivo. E isso é muito ruim, especialmente se pretendemos salvar a sociedade.

Muitos vão dizer: mas eu deixei que conversassem! Mas eu deixei que participassem. (Fake! Aceita! É fake!)

Milhares de professores estão fazendo planos, preenchendo tabelas e planilhas, agindo passivamente, seguindo as normas. É muito ruim. É quase insuportável.  Então, pensem para o estudante o que é: Muito ruim. Quase insuportável! Mas ele não é o propósito, só não querem deixar evidente!

Agora, veja um exemplo que salva! É de Educação Infantil, que pode tornar-se prática em outros níveis também. A imagem mostra uma parte de uma reunião de planejamento: Dando voz à Criança.

Segue o breve relato:

Nas últimas semanas, os grupos de crianças participaram de fóruns para expressar as suas opiniões sobre a sua vida infantil; o que poderia ser melhorado na escola; e que novas ideias poderiam implementar para melhorar as suas experiências escolares. E claro, qualquer reunião criativa precisa de…lanche! Aqui estão apenas alguns dos pontos levantados por algumas crianças.

′′Eu AMO a escola e quero cozinhar mais! (E)

′′Gostaria que tivéssemos um barco no parque!” (A)

′′Quero que o papai leia uma história para todos os meus amigos”. (B)

′′Precisamos brincar mais de moto.” (A)

Após os fóruns, o planejamento foi construído. Não sei quantos pedidos foram atendidos (sei sim, mas não vou contar). O que sei é que muito do que propõe a nossa base legal pode ser contemplada a partir do que elas disseram. O que muda? Tudo!

O adulto sai do centro, embora sua função seja essencial. Toda papelada que tanto pedem também será contemplada, no momento certo. Aqui temos um exemplo de exercício democrático. Isso salva!

Mas afinal, você tem planos para o quê?

Se esta crônica incomodou, tirou você da passividade intelectual por um momento, certamente podes rever seus planos e mudar de alguma maneira o percurso!

O que menos importa é o aluno agora. A aprendizagem não é o foco. O planejamento de uma boa aula que foque em estratégias para o desenvolvimento reflexivo através da linguagem, é o que menos importa. (Laércio Fernandes dos Santos) Leia mais!

Autora: Ana Lúcia Vieira

Professora da rede municipal de Passo Fundo

Edição: Alex Rosset

2 COMENTÁRIOS

  1. Concordo em partes com a Professora Ana Lúcia, qdo ela fala das Formações que na maioria das vezes estão distantes da nossa realidade. Ninguém melhor do que o PROFESSOR para conhecer as dificuldades do educando. Sou a favor sim de um bom PLANEJAMENTO que favoreça as necessidades dos alunos (leitura, escri ta e interpretação). Infelizmente, nosso s coordenadores preferem um planejamento enfeitado , muito conteúdo e sem rendimento/ aprendizagem

  2. “Muitos vão dizer: mas eu deixei que conversassem! Mas eu deixei que participassem. (Fake! Aceita! É fake!)” Professora Ana Lucia, isso não é fake, pare de pensar dentro da sua bolha, porque a educação é muito mais do que uma ideia que agora “SALVA A EDUCAÇÃO” . Pergunto: Como você chegou até aqui? Com qual modelo de educação você fez parte? Não jogue fora (se baseando em “salvadora da educação” ) um projeto de educação que pode avançar, mas nunca jogado na lata do lixo, como você pretende.

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