Espiritualidade e sentido de vida nas práticas docentes

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Estamos postos na sala de aula para servir. Como servimos?
Para além das técnicas, e orientações metodológicas,
educamos pelo exemplo, pelo altruísmo, pelo amor.
Isso só acontece pela espiritualidade.


A espiritualidade é uma dimensão muito importante na vida e no bem-estar dos professores e professoras. Mas, para início de conversa, é importante apresentar qual o entendimento que temos de espiritualidade.

Espiritualidade é a necessidade intrínseca que todos temos de continuarmos ligados ao Plano Sagrado. Espiritualidade é como a água que impregna a relva. Espiritualidade está no nosso modo de ser, de viver, de falar e de agir. A espiritualidade contempla, ainda, a busca de sentido para a nossa existência, para dar significado à vida individual e ao relacionamento de abertura para os outros.

Fé sempre é uma experiência pessoal, de relação intima com o Transcendente. A religião sempre é uma experiência de uma comunidade, que reúne e organiza as vivências coletivas das práticas religiosas. Já a espiritualidade está para o Cuidado: de si, dos outros, da natureza e, para quem tem fé religiosa, do Transcendente.

Como já ensinou Fowler (1992): “ao nascer, somos dotados de capacidades inatas para a fé. Ou seja, potencializamos as condições necessárias para construir nossa fé durante o nosso processo de desenvolvimento psicológico.

Os professores e professoras vivem a sua espiritualidade, que sempre está além de suas religiões. A dimensão espiritual/religiosa do educador manifesta-se no seu fazer pedagógico. É a sua motivação que impregna os projetos e o sentido de vida dos professores.

A espiritualidade se manifesta como reconhecimento multidimensional do ser humano. Os professores e professoras demonstram que a sua espiritualidade independe da prática de uma religião.

Leonardo Boff (1994), enfatiza como é necessário refletir sobre o sentido de vida como algo totalmente integrado à realidade humana e, de maneira especial, à prática educativa. Nas práticas docentes, ocorre uma relação de pertença (professor – aluno), visto que ambos são seres humanos em busca de seus próprios objetivos e de sua realização pessoal.

O professor, com autênticos sentimentos religiosos, mesmo que nunca fale de religião com seus estudantes, deixa transparecer naturalmente sua espiritualidade. Esta é uma característica inerente ao ser humano e, quando o estudante percebe a espiritualidade do professor, sente-se encorajado a viver e manifestar também a sua (espiritualidade).

É por meio das práticas pedagógicas empregadas em seu trabalho, o professor pode contribuir para afirmar e reconhecer a sua espiritualidade, inspiradas nas seguintes perspectivas:

  1. Criar! A criatividade é manifestação de um impulso que mora na alma humana.
    É isso que nos distingue dos DEMAIS SERES VIVOS;
  2. Mudar! Os animais estão felizes no mundo, do jeito como ele é. Albert Camus disse que somos os únicos animais que se recusam a ser o que são. A gente quer mudar tudo;
  3. Adaptar-se! Mudanças geram sentimentos de sofrimento e frustração para alcançarmos metas e objetivos. Ostra feliz não faz pérola. Disse Octávio Paz: “coisas e palavras sangram”;
  4. Pensar! O sofrimento nos faz pensar. Pensamento não é uma coisa. O pensamento se faz com algo que não existe: ideias. Ideias são entidades espirituais. O espiritual é um espaço dentro do corpo onde coisas que não existem, existem.

Afirmamos, por fim, que a espiritualidade está precisamente no desejo e no trabalho para fazer com que aquilo que existe apenas dentro da gente se transforme numa coisa, que pode ser gozada por muitos. De acordo com Rubem Alves, o caminho do espírito é esse: da espiritualidade pura e individual, para a coisa, objeto que existe no mundo, para deleite e uso de muitos. Uma canção só existe quando cantada. Um quadro só existe quando visto. Uma comida só existe quando saboreada. Um brinquedo só existe quando brincado. Um filho só existe quando parido. Um aprendente só se constitui quando tem um efetivo ensinante.

Sem um professor, a mente é muito astuta e muito íntima também. Assim, sempre que houver um momento doloroso, ela tende a se afastar.

Eis o papel do professor: guiar; avaliar o quão receptivo é o aluno(a); a sua presença e seus ensinamentos reverbam no(a) aluno(a); é preciso reaprender o sentido da espiritualidade que tem a ver sim com fé, com Deus, mas sobretudo tem relação com altruísmo

Nossa profissão professor e nossa missão educador exige a prática amorosa como fundamento das práticas docentes. Quando decidimos ser professores, havia em nós o desejo de ajudar o outro, amar o outro.

Estamos postos na sala de aula para servir. Como servimos? Para além das técnicas, e orientações metodológicas, educamos pelo exemplo, pelo altruísmo, pelo amor. Isso só acontece pela espiritualidade. Formamos alunos/pessoas para cuidar do mundo no qual nós também vamos viver.

Não podemos abrir mão de nossos valores, trazer o amor, o afeto, a atenção e o cuidado. Trazer o exemplo de uma relação respeitosa, da troca de afeto. Estar completamente disponível aos alunos, para que eles possam se servir. O aluno não pode se levantar e ir embora quando não servimos o amor. Isso, sim é espiritualidade.

Educar é um ato de persistir com delicadeza.



Esta reflexão é fruto de participação em Painel Virtual “Espiritualidade e sentido de vida nas práticas docentes, em tempos de pandemia” realizado pelo CONER Passo Fundo, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Passo Fundo e Sétima Coordenadoria Regional de Educação. Este painel fez parte também da Semana de Formação dos professores da rede municipal de Passo Fundo.




Autor: Vilson Francisco Selch
Bacharel em Filosofia, Licenciatura em Filosofia. Pós-Graduado em Metodologia de Ensino (Feevale). Pós-Graduado em Orientação Educacional (UFRGS). Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas (UNISINOS); Doutorando em Processos e Manifestações Culturais (FEEVALE). Professor da rede municipal de Dois Irmãos, RS.

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