As pessoas opinam sobre assuntos que não conhecem com profundidade, julgam sem empatia, não conseguem se colocar no lugar do outro.
Quem és tu que queres julgar, / com vista que só alcança um palmo, / coisas que estão a mil milhas? A frase de Dante Alighieri em ‘A Divina Comédia’ é um chute na boca do estômago de muita gente, principalmente quem julga de forma crítica (nada construtiva) programas de governo como o Bolsa Família.
Não foi uma nem duas vezes que ouvi por corredores, em grupos fechados da elite passo-fundense ou em encontros das abastadas famílias coronelistas locais e, o pior, de quem nem é tão abastado assim, críticas contundentes ao Programa Federal Bolsa Família. Para quem não sabe, o Bolsa Família é a unificação do Bolsa Escola, criado em abril de 2001, do Bolsa Alimentação, criado em setembro de 2001 e do Auxílio Gás, criado em janeiro de 2002 pelo governo FHC.
Naqueles anos, o governo sofria com alta inflação, que se refletia com muita pobreza e desemprego. Para buscar uma solução, FHC pediu financiamento internacional para o FMI – Fundo Monetário Internacional. Para liberar os recursos, a condição foi que o governo criasse programas sociais onde os recursos fossem diretamente às famílias.
A gente sabe que só assim para o dinheiro chegar no bolso de quem realmente precisa.
E sabe quem são as pessoas mais beneficiadas com isso? As mães. Sim! Quem segura as pontas, quem leva no médico, quem vai no mercado na grande maioria das vezes são as mulheres, mães solo ou não. Para conseguir o benefício, elas tem de comprovar a vacinação em dia dos pequenos, além da frequência escolar, o que traz por si só uma justificativa importante. Milhares de crianças não estariam na escola não fossem os programas sociais. Então eles são ruins?
Claro que muitos dos que estão lendo esse texto já pensaram: mas tem que ter um programa social e recursos para garantir que os pais levem os filhos na escola ou que os vacinem? Sim! Nossa realidade é de um país com graves problemas educacionais/culturais.
Para você que estudou e teve amparo psciológico e estrutura de família parece ser lógico, mas para quem nasceu em lares destruturados, passando fome, conhecendo a dura realidade da vida desde cedo, com muito muito sofrimento – falta de saneamento, moradia precária, sem acesso à saúde – isso não é comum e eles precisam ser estimulados por programas sociais a dar uma contra partida para receber recursos.
Essa é a vida como ela é.
Ah, mais pobre nem tem que ter filho. Quem é você, quem somos nós pra julgar? Será que temos esse direito?
Autora: Rosângela Borges é jornalista, feminista e ativista pelos direitos humanos. Também é Convidada, colaboradora do site.
Edição: A. R.