As mulheres evoluíram e evoluirão muito mais,
porque elas não deixam de usar e ocupar
o espaço social a cada dia. Espero que mais homens
percebam esta evolução, acheguem-se ao mundo feminino
para dividir responsabilidades e, ao mesmo tempo,
aprender com elas.

 

 

Por mais que em certos momentos se pense que a evolução feminina tenha conquistado o mais alto lugar no pódio social, o avanço ainda é pouco perante a realidade apresentada diante de nossos olhos. E, para observar com nitidez e realismo, precisa-se esboçar uma trajetória na história.

Mesmo considerando avanços e conquistas das mulheres, será que todo mundo gostaria de ser mulher?

Todo mundo quer ser mulher?

Ao longo da história a mulher sofreu discriminação profunda e, para tanto, façamos um feedback histórico, sobretudo para destacar que a submissão era unicamente se calar. Dito de outra forma, elas nem tinham o direito de opinar.

Outra questão que intriga quem vive num processo de respeito ao sexo feminino, é o desrespeito ao corpo. A mulher sequer tinha direito de se posicionar quanto a quantidade de filhos que deveria ou poderia ter, era apenas ter “todos aqueles que Deus lhes dava”. Neste sentido, dá para imaginar o grau de prazer sexual que sentiam, até porque era extremamente proibida qualquer manifestação sexual. Por outro lado, ao homem, sim, poderia sentir prazer e até mesmo anunciar este.

Hoje tudo mudou a mulher pode e tem o direito de sentir prazer sexual, ou até mesmo, manifestar disposição ou não ao sexo. Com essa ideia muitas revistas trazem orientações para que cada vez mais a mulher sinta orgasmo e satisfação em suas relações íntimas.

No passado, cabia a mulher apenas um “direito:” obedecer ao que os homens mandavam e desmandavam. Experiência sexual para mulheres era coisa de mulher mal falada. Para os homens não tinha fazer sexo pela primeira vez com a gatinha da mesma idade, isso acontecia com a empregada ou em um bordel. Essa triste história vem mudando com o passar dos tempos. “Graças a Deus!”, não claro que não, graças à fibra, luta e resistência de mulheres guerreiras que enfrentaram “a chuva e o temporal”.

Pode-se confirmar isso, no livro A Revolução Feminina de MOURA, 1989:

Pela primeira vez na história estamos na vanguarda e eles na retaguarda. Às vezes chegam até a reclamar de que os temos transformado em objetos sexuais, por aí se vê machões. Nós os queremos , os compreendemos, tanto que já assimilamos o caos. Claro, sabemos muito bem como muito mais fácil renunciar a uma emoção do que a um hábito e vamos fazer tudo para que não tenham medo do nosso governo: o governo do coração.

A autora é otimista no seu discurso, mas ainda muita coisa tem de mudar para que se possa realmente dizer que os homens obedecem ao governo feminino. Se observarmos a questão da autonomia da sexualidade feminina, a evolução é bem grande, sem dúvida.

Em 1960, renasce o marco de movimentos de libertação das mulheres por todo o mundo, mas em anos anteriores a este, muitos movimentos isolados se deram. Neste período, inclusive, se institui o dia reservado às mulheres. No Brasil, em plena Ditadura, as mulheres de fibra se organizam e lutam por seus direitos. Esta luta foi constante para se chegar ao Século XXI com muitas conquistas em prática. Segundo Caderno BRASIL/MEC, 2007, apresenta a seguinte afirmação:

Em reconhecimento dessas lutas, o dia 08 de março foi instituído pela ONU, em 1977, como Dia Internacional da Mulher o que nos dá a oportunidade de fazer um balanço dos progressos e conquistas a respeito do lugar ocupado pelas mulheres e dos obstáculos à sua cidadania e levar o conjunto da sociedade e dos governos a refletirem sobre as formas de enfrentar as desigualdades de gênero.

As questões de gênero vão muito além do âmbito da sexualidade, elas perpassam o direito à educação, entendida há anos atrás como algo sem importância, até porque mulher era vista como mera dona de casa e objeto de satisfação masculina. E ainda, direito ao voto e de ser votada que, ao mesmo tempo em que não precisava estudar, tão pouco, opinar para escolher quem representava as esferas governamentais.

A cada dia, 13 mulheres são mortas de forma violenta no Brasil — ou uma a cada duas horas. Grande parte dessas mortes, comumente tipificadas como homicídios, devem ser enquadradas em uma categoria específica, a do feminicídio. É o que afirma a juíza Adriana Mello, titular do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

Quanto vale uma mulher? | Radis

Olhando no retrovisor da história, percebe-se que não só se conquistou o direito de voto, mas o espaço de ocupar cadeiras parlamentares e de expor seus pensamentos políticos calcados na sensibilidade e visão feminina. A busca pelo emprego foi e é outra luta constante, pois mulher que saía trabalhar fora não era bem vista. O homem era quem sustentava a família e a administrava.

Sigamos com a reflexão. Os hábitos foram mudando diariamente e não só a rotina feminina, mas o próprio homem que se via como o centro do pódio começou a derrubar a máscara na adaptação rotineira. Porque em vez de encontrar em casa uma mulher pronta para servir, por exemplo: alcançar a toalha e cuecas e o cuidado com os filhos, o homem começou se deparar com um mundo totalmente novo.

As mulheres não são propriedade de legisladores, nem de religiões, nem de instituições, nem de maridos e companheiros, mas são sagradas em sua dignidade. Há que pedir licença, há que amar, há que respeitar de uma vez por todas aquelas que trazem em si a sabedoria do mundo.

O que esperam das mulheres?

Pensa-se que é mais difícil a adaptação da figura masculina, mais do que a feminina. A mulher, por natureza, sempre soube se virar, por mais submissa que fosse. A mulher cuida dos filhos, educa-os e entende os sentimentos de choro e antes de tudo isso, carrega o peso de uma gravidez por nove meses, sente dores que nunca um homem ousaria sentir. Dessa forma, a mulher não esmoreceu na luta, pois nunca fugiu dos desafios.

A sociedade machista impregnada quer sufocar as mulheres tentando calar essas guerreiras até mesmo, com a injustiça de pagar salários bem mais baixos pelos mesmos cargos ocupados pelos homens. Como retrata BRASIL/MEC, 2007:“Um outro aspecto importante, que evidencia as desigualdades entre gêneros, são as ocupações exercidas como assalariados por ambos os sexos.”

O que me intriga até hoje é perceber que muitos especialistas afirmavam com convicção de que as mulheres não se adaptariam no mundo do trabalho, pois este espaço era exclusivo para homens que tinham competência e força. Hoje a prova aparece nitidamente demonstrando o contrário, deixando claro que as mulheres não são mais jeitosas para este mundo, como este espaço ficou muito mais agradável do que era com um toque feminino.

Nisso tudo, um fator em desvantagem para o mundo feminino é que com sua saída do ambiente familiar, cabe desempenhar sua função externa com muita competência, ela não se desvinculou das responsabilidades e das preocupações da casa, dos filhos. Mesmo no mundo do trabalho ela não perde a vigilância da casa. A mulher, mesmo com toda jornada pesada e dupla, não perdeu a sensibilidade e humanidade que sempre teve. Realidade comprovada nas palavras de Madre Teresa de Calcutá, apud BRASIL/MEC, 2007: “if we really want to love we must lern how to forgive”.

Não condeno e nem questiono os apaixonados que usam dia 08 de março – Dia Internacional das Mulheres – para prestar-lhes justas e bonitas reverências e homenagens. Mas prefiro entender este dia como uma oportunidade de reflexão que toda sociedade deveria fazer neste dia que foi instituído como um dia de memória às lutas de tantas mulheres que se desafiaram a lutar por mais condições de igualdade.

Em homenagem às mulheres, assumamos: somos machistas!

As questões postas me fizeram lembrar que, alguns anos, desempenhava a função de diretor, rodeado de mulheres que a todo o momento me mostravam a capacidade, sensibilidade, agilidade e compreensão, sem falar da sensatez com que resolviam os obstáculos diários. Elas, em momento algum, esqueciam da casa e dos filhos.

Espero que, com o passar dos tempos, mais homens percebam esta evolução e, cada vez mais, acheguem-se ao mundo feminino para dividir responsabilidades e, ao mesmo tempo, aprender. Como falei anteriormente, as mulheres evoluíram e, com certeza, evoluirão muito mais, porque elas não deixam de usar e ocupar o espaço social a cada dia.

Ao menino, jogos, carrinhos, livros. Quem fez de tais coisas objetos de varão? A cultura. Um quarto azul para ele, um rosa para ela. Jogos para o cérebro. Carrinhos de tecnologia. Livros para os saberes.

Como se faz uma mulher

 

 

REFERÊNCIAS

MOURA, Márcia. A revolução feminina. Rio de Janeiro: Erregê, 1989.

BRASIL, MEC. Mulher e trabalho.Brasília: Ministério da Educação, 2007.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília:MEC/SEF, 1998.

BEMFAM, Sociedade Civil Bem Estar Familiar no Brasil. Cidadão adolescente. Rio de Janeiro: BEMFAM/DEMEC,2000.

Foto: Espaço Mulher

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