A História, tal como Medéia,
sabe ser uma deusa terrível e vingativa.
No maior momento de poder, pode vir o revés.
Um fenômeno novo tomou forma na breve história da democracia brasileira, com a recente introdução das mídias sociais.
“Se de um lado ele gerou uma certa democratização de informações e lugares plurais de fala, de outro acabou contribuindo para a consolidação de um novo tipo de líder carismático e de uma nova forma de fazer política, nem por isso menos autoritários”, assevera Lilia Moritz Schwarcz, no livro “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”.
A professora da USP se refere ao político populista digital, que prega o ódio e a intolerância, acusa a imprensa e os intelectuais, e se proclama novo ao se dirigir sem mediação alguma à população.
O bolsonarismo vem se notabilizando nesta prática desde as eleições de 2018. Uma verdadeira fábrica de mentiras foi, com muita competência, montada e, para alguns, decisiva para a vitória de Bolsonaro.
Nota-se que milícias virtuais continuam atuando e ficando mais violentas conforme a popularidade do “mito” despenca. Chafurdando nos grupos de bolsonaristas, é possível encontrar um tsunami de ódio, preconceito e notícias falsas.
Neste universo paralelo, Jair Bolsonaro é o estadista incorruptível. Sérgio Moro, antes herói caçador de corruptos, é agora o mais mortal exterminador de bandidos.
O Papa Francisco, a rede Globo, a ONU , o Greenpeace, a igreja são “comunistas”. Olavo de Carvalho e Enéas Carneiro são apresentados como dois dos maiores pensadores que o mundo já produziu nos últimos 5 séculos.
Fotos de “propriedades” de Lula, o que incluía uma indústria de grande porte e vista aérea de um pasto de centenas de cabeças de gado já foram postadas pela fábrica de fakes. Artistas do porte de Chico Buarque e Caeano Veloso, igualmente, são alvos das milícias digitais bolsonarianas.
O conteúdo de um grupo é rapidamente replicado em outro. Antes que seja tarde demais, os incautos precisam ser esclarecidos via “verdades” espalhadas por grupos como o MG MILITANTES B17 e o BRASIL BOLSONARISTA RO, de Rondônia, segundo matéria publicada na revista Carta Capital (16/10).
“Os grupos serão extremamente focados e com o único objetivo de espalhar pela internet as notícias que a extrema imprensa não mostra”. Leia mais: https://www.cartacapital.com.br/politica/reporter-mostra-como-opera-o-exercito-de-bolsonaro-no-whatsapp/
Agora, quando a loucura tomou conta do laranjal, muita coisa sobre a milícia digital virá à tona de parte de bolsonaristas descontentes, como a deputada Joice Hasselman, que ameaçou o clã Bolsonaro de contar o que ela sabe sobre o que os mesmos “fizeram no verão passado”.
Na CPI, criada para apurar as denúncias de que adversários políticos usaram notícias falsas para influenciar o resultado das eleições de 2018, começou a fase de depoimentos. Descobrirá a Comissão o que “eles fizeram no verão passado?”
A História, tal como Medéia, sabe ser uma deusa terrível e vingativa. No maior momento de poder, pode vir o revés. É o que poderá acontecer com o clã Bolsonaro e seus milicianos.