Nunca houve interesse de se inteirar do assunto
antes de sair pegando microfone para passar vergonha.
Eram pessoas com total desconhecimento de um assunto
opinando sobre algo que simplesmente não conhecem.
Não sabem do que se trata. Com um conhecimento
quase nulo vociferam que é “cuidar de bandido”.
Talvez não saibam que existam documentos construídos
mundialmente para garantir tais direitos para TODOS os humanos.
Vi um registro fotográfico feito em Passo Fundo, cidade na qual nasci e vivi por toda a minha vida e pela qual tenho um carinho imenso, que me despertou um misto absurdo de emoções e sentimentos. Primeiro, senti vontade de chorar. Depois, repulsa e até um pouco de raiva. Por fim, ânsia de vômito e medo.
A foto foi feita em um protesto e um par de mãos masculinas, brancas e de meia idade, ostentavam um porrete de madeira com letras garrafais que diziam: direitos humanos.
Senti vontade de chorar ao ver um ser (que se diz) humano explicando que os iguais a ele (incluindo ele será?) não merecem direitos, mas sim apanhar com aquele porrete. O interessante era que tal protesto clamava por mais (pasme) segurança e contra (oi?) a violência. E nem vou entrar na discussão que tal ato teve como alvo pessoas que não são responsáveis de fato pela sua segurança. Deixo isso para outras pessoas comentarem.
Vou me ater no porrete destruidor de direitos humanos.
Aquele, empunhado por um (?) ser-humano.
Senti um pouquinho de raiva sim, não posso negar, ao ver aquelas dezenas de senhores que ali protestavam deixarem de lado sua principal demanda, o pedido por mais segurança no seu meio, a denúncia do descaso do estado para com os seus, para babar seu ódio ao que não entendem.
Não entendem porque nunca houve interesse de se inteirar do assunto antes de sair pegando microfone para passar vergonha. Eram pessoas com total desconhecimento de um assunto opinando sobre algo que simplesmente não conhecem. Não sabem do que se trata. Com um conhecimento quase nulo vociferam que é “cuidar de bandido”. Talvez não saibam que existam documentos construídos mundialmente para garantir tais direitos para TODOS os humanos.
Duas coisas impossibilitam avanços nos direitos humanos: a imbecilidade e o egoísmo. Defender os direitos humanos significa defender os humanos, todos os humanos, mas, sobretudo, os que são mais vulneráveis e mais propensos a serem tratados como fora do círculo dos direitos. (Gilmar Zampieri)
Isso tudo depois de uma (absurdamente) rasa discussão sobre os tais direitos humanos (aqui não o porrete, mas os direitos em si). Mesmo sem saber quais direitos são esses. Os donos de opiniões profeririam, sem qualquer medo de passar vergonha e cheinhos de razão, que respeitar os direitos humanos de um (veja só) ser humano é errado.
É urgente que se fale em direitos humanos. Mas que se fale mesmo, além da frase pronta e carregada de senso comum que diz que direitos humanos é para humanos direitos.
Não.
Direitos humanos é, veja só, para todos os seres humanos. Todinhos, quer você concorde com isso ou não. São direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.
Independente da sua ‘opinião’.
Os direitos humanos servem para proteger todo e qualquer cidadão do mundo. E mesmo assim diariamente perdemos as contas dos casos de desrespeito a esses direitos. São incontáveis pessoas passando, todo dia, por situações de intolerância, abuso, discriminação, opressão e até a morte.
Quem se diz defensor da democracia e contra os direitos humanos precisa começar a estudar o assunto, já que a promoção dos direitos humanos é indispensável para o pleno funcionamento de uma sociedade democrática. Ninguém é obrigado a saber de tudo, mas hoje temos mil meios de aprender as coisas antes de argumentar qualquer coisa com “minha opinião”.
Ao ver a foto do tal porrete, senti tristeza e medo dessa onda de ódio ao diferente, ódio ao próximo, ódio ao pobre, ao excluído socialmente. Pessoas que querem ser imunes à violência, mas praticamente pregam o código de Hamurabi.
Pessoas que são contra a violência que as atinge, mas favoráveis a usar violência com o próximo baseados em argumentações em um looping infinito de incoerência.
Sinto medo que esse porrete não seja usado só para botar banca e tirar foto.
Depois dessa coluna estou com medo, bem na verdade, é que esse porrete sobre até pra mim.
Segue reportagem sobre a referida manifestação de agricultores em frente ao Fórum de Passo Fundo.
Veja mais aqui.