Esqueça o dia, qualquer dia meu pobre João!
E que fique assim, o dito pelo não dito.
Pois o que era se para ouvir em silêncio,
não foi dito. E virou grito,
o maldito pito.
Esqueça a noite João, a raiva e o pavor.
Lembre-se! Em um tempo foi bom sonhar.
E ao ver este senhor no andor, em dor,
ninguém veio acudir. Aliás,
viraram o olhar.
Esqueça o fio da fúria! Um dia passará.
Quem se importou ou quem esqueceu.
Sequer um sapé, um rio, uma curva, terão vocês.
Então a foice os podou, depois queimou,
matou e nem doeu.
Esqueça a dor e vire a face, João, a outra.
Saiba que nada mudará neste chão vil:
o insulto, o desprezo, nesta vida ou noutra.
Pois de ódio em ódio,
seu rosto há de brilhar no céu de anil.
(15/08/2023)
Autor: Nelceu A. Zanatta. Também escreveu e publicou no site a crônica “Para pensar no teto de todos nós”: https://www.neipies.com/para-pensar-no-teto-de-todos-nos/
Edição: A. R.