Temos, necessariamente, visões destoantes em variadas coisas. Em contrapartida, não é difícil encontrarmos pontos em comum. Há desejo de superar o conflito e recompor a relação? Se não há, melhor manter distância, pois um encontro cara a cara aumentará ainda mais a ruptura.
Dependendo, sim; dependendo, não.
Há desejo de superar o conflito e recompor a relação? Se não há, melhor manter distância, pois um encontro cara a cara aumentará ainda mais a ruptura.
Mas não basta desejar recompor a relação, é necessário observar se os rompidos são capazes de ouvir, de calar, de encontrar pontos em comum, de se colocar no lugar do outro.
Reconheço que ouvir não é tarefa fácil. Prova é que livros foram escritos a respeito. A começar pela obra “como ouvir”, de plutarco (46-120 d.c.), escrita no ano 100 d.c. sim, há mais de mil e novecentos anos!
Calar também não é fácil. Em 1771, um livro foi escrito por Dinouart com o sugestivo título “a arte de calar”. Diz ele que, contra a febre de falar e falar (em política, por exemplo), é necessário que se cultive o “tempo do silêncio”. O silêncio pode ser mais que um simples silêncio. Pode ser uma maneira de fazer alguma coisa boa aos seus familiares e amigos.
Se a pessoa se considera capaz de ouvir e de calar, poderá observar outra qualidade muito útil para se ter um bom encontro. Refiro-me aos pontos em comum.
É fato que há pessoas que vivem procurando um ponto de discórdia em todas as suas relações. E encontram. Afinal, somos seres que fazemos trajetórias únicas, diferentes das dos demais.
Temos, necessariamente, visões destoantes em variadas coisas. Em contrapartida, não é difícil encontrarmos pontos em comum. Afinal, somos todos exemplares da mesma espécie viva. Basta querer. E nem a diferença de idade impede.
Meu avô e eu, por exemplo, conversávamos quase todos os dias na área envidraçada de sua casa. Assunto: viagens. As minhas, imaginárias. As dele, reais: inclusive, morara em paris no início do século XX.
O tema nos unia tanto que só acidente com passarinho nos calava. De vez em quando, algum pardal distraído chocava-se contra a vidraça. Interrompíamos nossa fala para reanimá-lo. Tínhamos exatos setenta anos de diferença e, mesmo assim, nossos encontros eram estimulantes para nós dois porque compartilhávamos um ponto em comum.
Colocar-se no lugar do outro e “andar em imaginação com as suas sandálias” é tarefa possível.
Eu sempre digo que o voto, por exemplo, tem a ver com a história de vida da pessoa. Colocando-me no lugar dela, na sua trajetória, consigo entender as suas razões, mesmo não concordando com elas.
Portanto, vale a pena realizar um jantar de natal com a família se esses quesitos forem preenchidos. Repito-os: ouvir, calar, ponto em comum, colocar-se no lugar do outro.
Caso contrário, é mais inteligente não se reunir. E que cada um passe o Natal do jeito que julgar melhor. Até mesmo sozinho pode ser bom.
Enfim, são modestas sugestões a todos que estão tendo a paciência e a bondade de ler as crônicas que escrevo e publico, sempre às quintas-feiras.
Um abração,
Boas festas,
Autor: Jorge Alberto Salton