Filosofia para dar sentido à vida

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O que significa viver bem? Podemos viver bem sem que os que estão próximos também tenham uma vida boa?

“Uma vida não examinada não merece ser vivida!”. Foi com essa frase que Sócrates, um dos mais importantes e reconhecidos filósofos da Grécia Antiga, confrontou seus acusadores e juízes no tribunal de Atenas no ano de 399 a.C. Acusado de profanar os deuses da cidade ao propor novas divindades e corromper os jovens atenienses, ao defender-se Sócrates identifica-se com a filosofia. Considera a acusação contra ele uma acusação contra a própria filosofia.

Ele mostra que a filosofia e a política do seu tempo são incompatíveis, pois esta última, uma vez instituída, sabe tudo, sacraliza o banal e descuida o mais importante. A filosofia, por sua vez, ao contrário, pergunta, reconhece os limites, destrói o aparente, dessacraliza os valores instituídos e impostos socialmente, cuida de si e dos outros, resiste à ordem imposta e continua fazendo perguntas.

Mesmo condenado, Sócrates ironiza os acusadores e os poderosos do seu tempo que o condenaram, pois estes valorizam o menos importante, cuidam e zelam de tudo, menos de si mesmos, de sua alma, de sua interioridade, de suas virtudes. Estão tão preocupados com o poder e com o dinheiro que esquecem de perguntar sobre o que significa viver bem; estão cegos sobre si mesmos e não conseguem distinguir o caminho da virtude do caminho da vício; gastam sua vida acumulando riquezas, mas não são capazes de educar virtuosamente seus próprios filhos; por isso tem uma morte infeliz, desesperadora, pois tardiamente percebem que escolheram os caminhos errados por não examinarem a própria vida.

Com Sócrates, a filosofia se torna uma atitude de vida que visa cuidar de si, da alma, da virtude, do bem viver.

Por isso a ideia de que “uma vida não examinada não merece ser vivida”. Mas o que significa examinar a vida? Por que examinar o modo como estamos vivendo é tão importante?

Primeiramente, examinar a vida significa pensar sobre como estamos vivendo, quais são as escolhas que estamos fazendo. Para fazer isso é necessário pensar, pensar bem, pensar com qualidade. Algo difícil de ser feito em dias como os nossos em que tudo parece andar de forma muito rápida.

O corre-corre diário e o excesso de atividades faz com que a grande maioria das pessoas não tenham tempo de pensar sobre o tipo de vida que escolheram para viver. Assim, a vida vai passando e os acontecimentos sequer são questionados. Exemplo disso é que muitos acreditam que a vida se resume em ganhar dinheiro, de preferência muito, para poderem comprar tudo que desejarem. E dessa forma, gastam sua vida, seu tempo, sua saúde, sua juventude, sua convivência numa frenética luta pelo dinheiro.

Muitos comprometem sua qualidade de vida em função disso.

Alguns, somente na velhice se dão conta que deixaram a vida passar e esqueceram de viver as pequenas coisas, os momentos que não tem preço, a convivência com os filhos, com os amigos, com os vizinhos; Outros nem conseguem chegar na velhice, pois perdem sua vida num acidente, numa doença física ou num acontecimento banal; outros ainda desenvolvem alguma forma de doença psíquica (depressão, esquizofrenia, distúrbios mentais) e passam a vida tentando recuperar a saúde psíquica com complicados e conturbados tratamentos.

Dar sentido à vida significa que precisamos dar significado aquilo que fazemos e dar direção no nosso próprio existir. Nossa vida não pode ser um barco sem leme que navega para qualquer direção.

Tampouco, pode ser uma vida pobre de sentido que se limita a acumulação de dinheiro ou de vaidades pessoais. Neste aspecto o apelo de Sócrates, mesmo sendo dito a mais de 25 séculos, continua atual e necessário para pensarmos a forma como estamos vivendo e o modo como educamos as próximas gerações.

Enfim, resta a pergunta fundamental: o que significa viver bem? Podemos viver bem sem que os que estão próximos também tenham uma vida boa?

Não vivemos mais em uma civilização em que se trabalhava para viver, onde as questões econômicas – como trabalho, consumo e acumulação – estavam subordinadas à finalidade de viver bem; mas em uma civilização onde vivemos para trabalhar, gastar mais dinheiro e consumir mais; e o viver bem foi identificado com o sucesso profissional ou a capacidade de consumo.

Quando o sentido da vida não está mais nela mesma, a educação também perde o seu sentido original de possibilitar uma vida boa e formar uma pessoa “de bem” e se concentra em capacitar tecnicamente os jovens para o sucesso econômico. Assim, o valor e o sentido de vida e da educação passam a ser medidos e julgados através do cálculo econômico”. (Jung Mo Sung, pg.12, Livro Educar para reencantar a vida).

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: Alexsandro Rosset

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