Filosofia para enfrentar os medos

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O pensamento racional filosófico, cuidadoso, abrangente e crítico nos ajuda a enfrentar o medo e construir espaços de socialização condizentes com uma vida saudável e de qualidade.

 

O medo é uma das emoções ou um dos sentimentos primordiais do ser humano. Desde as origens da espécie humana, o medo tem sido uma das reações fundamentais para viver e conviver. Os estudiosos mostram que o medo está na raiz das grandes motivações humanas. Os mitos, as religiões, as ciências, as filosofias, as diversas culturas, enfim todas as criações e realizações humanas não deixam de ser uma forma antropológica de reagir e enfrentar os medos da existência.

Biologicamente, o medo constitui uma reação natural de preservação da vida. Sem o dispositivo do medo estaríamos expostos ao perigo constante. A ausência do medo faz com que não tenhamos a noção de perigo e com isso estaríamos expostos à condição de risco.

No entanto, o excesso de medo e o medo constante pode nos paralisar, causar patologias incuráveis. As diversas fobias que fazem parte dos estudos da psicologia e das ciências da mente são evidências que mostram o quanto o medo pode se tornar destrutivo na condução da vida e atrapalhar a construção de uma personalidade saudável.

A sociedade brasileira de inteligência emocional (SBIE) divulgou recentemente um estudo que indica os 12 principais tipos de medo (fobias). São eles: acrofobia (medo de altura), agorafobia (medo de espaços abertos ou de multidões), aracnofobia (medo de aranhas), catastrofobia (medo de catástrofes ambientais), claustrofobia (medo de lugares fechados), fobia social (medo de pessoas), glossofobia (medo de falar em público), hematofobia (medo de sangue, injeções ou feridas), monofobia (medo de ficar sozinho), nictofobia (medo da noite ou do escuro), tanatofobia (medo da morte) e zoofobia (medo de animais).

A fobia é definida pela SBIE como sendo um medo irracional e neurótico diante de uma situação ou objeto que não apresenta qualquer perigo imediato. As pessoas neuróticas sentem tanto medo que evitam determinadas situações e acabam num certo isolamento social que prejudica a convivência e uma vida saudável e de qualidade.

A lista sobre os medos (fobias) poderia ser infinita e certamente nos próximos anos surgirão novos nomes para identificar os novos medos que surgem diante das transformações culturais ­­­e da evolução tecnológica. O mesmo estudo realizado pela SBIE mostra que as fobias atingem cerca de 10% da população mundial, e qualquer pessoa pode ser acometida por uma em algum momento de sua vida.

As fobias podem surgir de experiências traumáticas ou pela convivência com pessoas que são portadoras de algum tipo de fobia. “A melhor forma de tratar uma fobia”, indica o estudo, “é por meio da alteração emocional entre o indivíduo e o objeto ou situação que provoca o medo”.

Processos terapêuticos que promovem o reprocessamento emocional das situações relacionadas ao medo são os mais indicados para reprogramar os sentimentos e enfrentar os objetos ou situações que desencadeiam a fobia. Dependendo da gravidade e intensidade da fobia, se faz necessário o uso de medicação para equilibrar e ajustar as disfunções neurológicas.

Para além dos casos patológicos que precisam na maioria das vezes de ajuda profissional, há certos medos que precisam ser enfrentados. Me refiro aos medos cotidianos, banais, comuns, aparentemente inocentes, que muitas vezes se transformam em algo destrutivo para a boa convivência entre as pessoas.

A título de exemplos, menciono aqui aos medos provenientes dos preconceitos, da ignorância, da insensibilidade e da falta de caráter que impulsiona comportamentos doentios de discriminação, de racismo, de ódio, de violência, de apartação social.

Nesse sentido, o pensamento racional filosófico, cuidadoso, abrangente e crítico nos ajuda a enfrentar o medo e construir espaços de socialização condizentes com uma vida saudável e de qualidade.  

Leia também “A filosofia em busca de si mesmo”: O que me define, minhas origens, meu futuro não pode ser expresso com um nome, ou com uma explicação biológica, ou com a projeção de algo que hipoteticamente pode acontecer. Na tradição filosófica não faltaram definições sobre o humano, sobre a gênese, sobre a finalidade do existir”. Leia mais: https://www.neipies.com/a-filosofia-enquanto-busca-de-si-mesmo/

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: Alexsandro Rosset

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