Filosofia para Viver Intensamente o Presente

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O futuro depende da forma como conduzimos nossas escolhas no presente. Viver a falsa esperança de que o universo conspirará para que no futuro as coisas estejam sintonizadas com o que gostaríamos de ter é alimentar um modo conformista de enfrentar a vida, é esperar que o destino se encarregue de ajustar os caminhos para termos uma vida melhor.

Em seu livro Aprendendo a viver, Luc Ferry nos adverte sabiamente que os filósofos gregos pensavam no passado e no futuro como dois males que pesam sobre a vida humana, dois centros de todas as angústias que vêm estragar a única e exclusiva dimensão da existência que vale a pena ser vivida, simplesmente porque o Instante Presente é o único tempo real que podemos vivenciar com intensidade. O passado não existe mais, e o futuro ainda não existe e talvez não existirá para muitos de nós. No entanto, paradoxalmente, vivemos quase toda nossa vida entre “lembranças” e “projetos”, entre nostalgia e esperança.

Neste processo paradoxal de lembranças e projetos ou de nostalgia e esperança, ficamos imaginando que seríamos muito mais felizes se tivéssemos algo que não possuímos, ou se tivéssemos muito dinheiro para comprar o que quiséssemos, um carro novo, sapatos de marca, casa num bairro nobre, viagem para lugares lindos, férias no Caribe e assim vai ….

Ao mesmo tempo, ficamos lembrando de decisões tomadas lá atrás que poderiam ter mudado nossa vida e assim nos sentimos infelizes por estar vivendo algo que poderia ser diferente se a escolha fosse outra. De tanto lamentar o passado ou de esperar por um futuro que talvez nem aconteça, esquecemos de viver intensamente o presente e a oportunidade de dar qualidade a essa vida que é única e real.

Assim, enquanto estamos presos a lembranças ou projetos, perdemos a oportunidade de conversar com nossos amigos, degustar uma boa comida, realizar aprendizagens interessantes e importantes, conviver com pessoas, amar intensamente os que estão próximos.

Muitas vezes, abraçamos uma ideia de uma falsa esperança que as “coisas” serão diferentes no futuro. Assim, ficamos na expectativa que o próximo ano será melhor, que nas próximas eleições o povo irá escolher o candidato certo, que o próximo emprego nos trará realizações e uma vida melhor. Mas tudo isso pode ser ilusório se não temos a coragem de viver o tempo presente.

O futuro depende da forma como conduzimos nossas escolhas no presente. Viver a falsa esperança de que o universo conspirará para que no futuro as coisas estejam sintonizadas com o que gostaríamos de ter é alimentar um modo conformista de enfrentar a vida, é esperar que o destino se encarregue de ajustar os caminhos para termos uma vida melhor.

Talvez deveríamos esperar um pouco menos e amar um pouco mais, porque quando vivemos continuamente na dimensão de projetos, correndo atrás de objetivos postos no futuro e pensando que nossa felicidade depende da realização completa de finalidades medíocres ou grandiosas, estamos fadados a esquecer que a vida depende das escolhas que fazemos o tempo todo.

Quando colocamos como meta de vida comprar algo e condicionamos isso como projeto de uma vida feliz, estamos fatalmente condenados a miragem da felicidade, pois quando o objetivo é alcançado, quase sempre temos a experiência dolorosa da decepção. Igual a criança que se desinteressa do brinquedo no dia seguinte ao Natal, a posse de bens tão ardentemente desejados não nos torna nem melhores nem mais felizes do que antes. Sobre isso tem razão o filósofo Sêneca quando dizia que “enquanto se espera viver, a vida passa”.

Isso reforça o provérbio budista de que “é preciso aprender a viver como se o instante mais importante da vida fosse aquele que você está vivendo no exato momento, e as pessoas que mais contassem fossem as que estão diante de você”. Um bom assunto para filosofar.

Uma das novidades do Novo Ensino Médio é o componente curricular Projeto de Vida. Entenda: “Trazer o projeto de vida como competência na dinâmica escolar é um dos desafios propostos pelo novo ensino médio. Existem diversas abordagens a serem exploradas por professores e instituições de ensino, desde que o foco esteja no reconhecimento das potencialidades dos alunos. Avaliações contínuas devem ser adotadas a fim de mensurar a evolução de competências que fogem do currículo tradicional. Interação, comunicação, escuta, cooperação, partilha e realização devem ser estimulados pela abordagem da escola”. Leia mais: https://www.intersaberes.com/blog/novo-ensino-medio-o-que-e-projeto-de-vida/

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: Alex Rosset

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