“Fernandão” deixa órfão uma geração de militantes
que aprenderam a viver a política no seu sangue,
que foram capazes de oferecer-se em sacrifício,
para o bem e para as conquistas da coletividade.
De maneira precoce e inesperada, a cidade de Passo Fundo perde um dos seus cidadãos aguerridos na luta por igualdade e inclusão social, através da política.
Fernando César Brandão Pereira era um cidadão engajado na política local, conhecido por muita gente, filiado ao Partido dos Trabalhadores desde o ano de 1996. Gostava de executar tarefas partidárias e sentia-se responsável pelas conduções políticos do seu partido.
Fernandão, como era conhecido, tinha um jeito peculiar de se fazer presente nos grandes movimentos da política local e brasileira. Durante os atos públicos, movimentos de greve ou de resistência por direitos, reuniões políticas abertas à comunidade, reuniões partidárias, encontros de militância e de discussão de temas políticos, sempre fazia manifestações contundentes, chamando atenção para que todos mantivessem o foco das lutas e não esquecessem da luta de classes, conhecimento que aprendeu lendo as obras de Karl Marx, mesmo com suas dificuldades de visão.
Formou uma família bonita, tinha dois filhos e uma esposa que sempre foram parceiros na sua superação. Com dificuldades para enxergar, teve de enfrentar os desafios da mobilidade, numa cidade que ainda está se adaptando para a verdadeira inclusão dos deficientes.
A sua voz, o seu discurso, foram formas mais eficazes de se fazer presente entre a multidão. Gostava muito da política feita nas àgoras (referência às praças gregas), da multidão, das caminhadas, da política das vozes da rua.
“Fernandão” deixa órfão uma geração de militantes que aprenderam a viver a política no seu sangue, que foram capazes de oferecer-se em sacrifício, para o bem e para as conquistas da coletividade.
Seguem alguns testemunhos e depoimentos de pessoas da nossa cidade que conviveram e aprenderam a respeitá-lo e a reconhecê-lo como um grande ser humano.
Ao companheiro Fernandão!
A vida que começa, finda. Mas a finalidade da vida é gerar mais vidas e amizades. A pior nota da vida é partir sem deixar amigos/as. Neste sentido, a vida do Fernandão não foi em vão, pois ele teve a capacidade de agregar muitas pessoas ao seu redor.
Eu gostava pessoalmente dele porque admirava o projeto de sociedade que defendia e sua definição política. Lembro-me muito de seus discursos aguerridos nas assembleias do partido e nos pleitos das campanhas políticas. Sua voz era distinguida no meio de outras vozes.
Eu mesmo tive a oportunidade debater com o Fernandão, entre assuntos, o método de Marx, porque ali tínhamos uma divergência teórica salutar. Jamais irei esquecer dos propósitos políticos do companheiro Fernandão!
Pessoas como o Fernandão nunca morrem; ficam na memória. Mais do que um militante fiel e verdadeiro, Fernandão sempre foi um ser humano de coração, nas suas atitudes. A minha gratidão a ele na sua Páscoa é especial por esta atitude afetivo-humana.
Fernandão, você partiu, mas o que construímos juntos tem força ética e
irá permanecer na História e vai manter a esperança acesa de outro possível. Da
minha parte honrarei seu nome e farei todo o esforço para levar seu legado
adiante.
Fernandão, até breve.
Do companheiro José André da Costa (Caldas Novas – Goiás).
“A passagem do Fernando entre nós deixou marcas em muitas pessoas e dezenas delas foram lhe prestar homenagem desde ontem (dia 02 de julho de 2019).
Para os que não conseguiram acompanhar, cabe destacar que passaram por lá várias gerações de militantes da esquerda na cidade, numa demonstração de carinho por ele de toda esquerda, não só do partido.
O Fernando foi velado com uma bandeira do PT sobre o espaço que lhe servirá de hospedagem a partir de agora e, ao ser enterrado, nosso vice-presidente, Ivan Canal, em nome do PT, lhe prestou agradecimentos e entoou as frases que eram marca registrada dele inicia-las ao final de nossos encontros: *Partido, Partido, é dos Trabalhadores*. Que as coisas boas que ele representou fiquem sempre em nossa lembrança!”.
(Áureo Mesquita)
“Falar do Fernandão não é uma tarefa difícil: ele é único, altivo, espaçoso, voz inconfundível e detentor de um conhecimento invejável. Para mim, uma das poucas pessoas em Passo Fundo, com a marca do PT, tanto que usava o PT como sobrenome. Teria inúmeras histórias para relatar sobre ele, mas fico com aquilo que ele sempre repetia, quando em suas falas dizia: “o PT é o alimento para minha alma”. Isso me basta, como recordação de alguém que marcou várias gerações, com suas defesas firmes e a busca por justiça social e um mundo justo para todos e todas.
(Mariniza dos Santos)
“Fernando foi um militante fiel aos ideais de construção de uma sociedade melhor para todos. Lutava radicalmente na defesa de suas ideias e concepções; sem deixar que as divergências políticas fossem maiores que as amizades. Sempre defendeu seu partido, mesmo nos momentos mais difíceis. Acreditava que a transformação social passava pelo partido criado para ser dos Trabalhadores”. (Rosicler Terezinha Dalchiavon)
“Fernando, mais conhecido por Fernandão do PT, assim o conheci desde que comecei a militância partidária nos idos do início dos anos 1990.
Ele sempre foi presença cotidiana e indelével nos processos de construção das lutas pela justiça e pela igualdade, acreditava com toda a força no socialismo e que esse seria uma construção a ser feita pelos/as trabalhadores/as organizados no seu partido, o Partido dos Trabalhadores/as. Fizemos várias ações conjuntas, muitos debates, muitas convergências, algumas divergências. O fundamental sempre foi poder contar nele um Companheiro, da cepa, de boa cepa.
Obrigado por nos permitir construir relações singulares e sempre de forte presença. Seguiremos inspirados e engajados para lhe fazer justiça e memória. Meu reconhecimento e minha homenagem. Fernandão, Presente!
(Paulo César Carbonari)
“Querido
Fernandão! Poderia lembrar de inúmeras vezes que convivemos juntos, durante o
período da redemocratização em 1984; da formação da frente popular nas eleições
estaduais e municipais; das vezes que me chamavas de “trosko” e eu retribuía
chamando você de “stalinista”; das risadas no pé da janela do Reitor da UPF em
1987, pedindo por eleições democráticas quando você criou a palavra de ordem:
“padre cinderela apareça na janela”; enfim, várias situações cômicas mas que
sempre demonstraram a personalidade forte e
aguerrida dum camarada-amigo-companheiro.
A última lembrança que tenho tua foi a poucas semanas atrás quando nos reunimos em frente ao Fórum para um ato contra o Moro.
Na ocasião, sempre com a marca registrada da voz inconfundível gritava a todo pulmão: “juiz marreco de Maringá”; “Moro corrupto”; “Moro ladrão quebrou uma nação”… enfim, lá pelas tantas passou um carro com dois bolsominions que retrucaram atacando todos com palavrões – que imediatamente foram respondidos por você que desafiou eles a descerem para se tivessem coragem…. clima tenso. Perguntei: “Como vai fazer para enfrentar eles dois Fernandão…você não enxerga…como vai localizar eles??? Respondeu: “Julio Ramos, fica tranquilo, tenho um saco de bolacha aqui comigo…fácil, é só chegarem perto que finco a mão nos fascistas..”
Esse era nosso Fernandão. Solidário. Companheiro. Leal. Amigo. Fica em paz que enquanto estivermos lembrando das coisas que fazia e dos momentos que vivemos juntos contigo, serás eterno. #FernadãoVive
(Júlio Francisco Caetano Ramos)