A medicina necessita pessoas capazes de produzir ou estimular a saúde através de um talento muito especial, que dificilmente pode ser medido por provas ou testes de QI.
Um portal de notícias publicou que um garoto superdotado de 14 anos havia passado nos vestibulares para medicina e para aeronáutica. Escrevi abaixo da notícia que esperava que sua escolha fosse para a aeronáutica. Expliquei que essa “genialidade” se aplicava muito mais às ciências exatas, e muito menos às demandas múltiplas e complexas que produzem um bom médico.
O meu ponto de argumentação é que a medicina não precisa de gênios; ela precisa de sujeitos dedicados e compassivos. A medicina necessita pessoas capazes de produzir ou estimular a saúde através de um talento muito especial, que dificilmente pode ser medido por provas ou testes de QI. Um gênio atuando na Medicina tende a reproduzir um “Dr. House”, tão genial quanto péssimo médico; cruel, desrespeitoso, insensível e desumano…. mas com diagnósticos brilhantes.
Todavia, a medicina não é a arte de “descobrir mistérios”, “tatuar diagnósticos” na testa dos pacientes ou “estabelecer prognósticos” baseados em estatísticas frias. Não, a medicina é “L’art de guérir”, “Ars Curandi”, a arte de curar.
A medicina é uma arte complexa que demanda inúmeros talentos, e que faz uso das outras ciências – como a bioquímica, a biologia, a anatomia, a fisiologia, a patologia, etc – para se expressar.
Quando todas as tecnologias forem usadas e todas as máquinas calcularem sua saúde e seus riscos, ainda assim desejaremos que a receita nos seja entregue por alguém tão humano quanto nós, alguém capaz de entender o sofrimento alheio olhando no fundo dos olhos de quem lhe procura.
A medicina não é para os gênios que gabaritam provas ou que se alfabetizam aos 3 anos de idade. Medicina é arte, é dedicação, é a capacidade de sentir em si a dor do outro que sofre; é oferecer a mão a quem precisa de uma esperança.
Para os gênios, sobra a especial tarefa de trabalhar na pesquisa, na compreensão última do que nos adoece e nas formas de intervir nas doenças. Estes serão sempre um ótimo suporte para os médicos, aqueles que, na ponta da atenção, amparam os enfermos e os que sentem as dores do corpo e da alma.
“A comunicação é essencial em todos os sentidos. Para comunicar sentimentos, emoções. Como a população de rua comunica a dor? A dor não é só física, é uma dor existencial. Se eu vou a um médico com dor de estômago, ele só pergunta do meu estômago, mas não investiga por que será que meu estômago não vai bem”. (Padre Júlio Lancelotti) Leia mais: https://www.neipies.com/nao-e-possivel-cuidar-da-saude-em-um-mundo-doente/
Autor: Ricardo Herbert Jones
Edição: Alexsandro Rosset