Pode parecer forçado e desconexo, mas, da mesma forma que vivenciamos os perigos do monopólio privado no fornecimento da água, temos o dever de alertar para os perigos do monopólio na gestão pedagógica das escolas estaduais.
O início do ano de 2025 está marcado em várias cidades do Rio Grande do Sul, com grande repercussão em Passo Fundo, pelas consequências negativas da privatização do fornecimento de água, com longas interrupções no fornecimento, diminuição na qualidade e aumento do custo para o consumidor.
Trata-se de um histórico no qual o Governador Eduardo Leite mudou a Constituição Estadual que impedia a privatização da Corsan, desonrando um compromisso de campanha. Nessa mudança da legislação estadual, o governador foi liberado de realizar um plebiscito escutando a população a respeito da privatização do fornecimento da água.
Para cumprir com seus compromissos com o setor financeiro que o apoiaram, o governador desonrou os compromissos e a população gaúcha mudou a Constituição e começou o processo de privatização, incluindo representantes da empresa Aegea na gestão da Corsan. Outra etapa muito importante no processo de privatização do fornecimento da água foi a negociação e convencimento dos prefeitos a realizarem novos contratos com a Corsan. Esses novos contratos foram feitos sem debate público e, no caso de Passo Fundo, sem a aprovação do Legislativo municipal.
A condição imposta pela Aegea para assumir o monopólio do fornecimento da água era realizar novos contratos com os municípios, especialmente os maiores, que fossem mais favoráveis para o seu objetivo de ampliar o retorno financeiro.
Pode parecer forçado e desconexo, mas, da mesma forma que vivenciamos os perigos do monopólio privado no fornecimento da água, temos o dever de alertar para os perigos do monopólio na gestão pedagógica das escolas estaduais.
A gestão das escolas estaduais do Rio Grande do Sul passa a ser regulada por uma nova lei em 2024, que aumenta a interferência da secretaria estadual e diminui o poder da comunidade escolar, na definição das equipes diretivas da escola. Outro aspecto central na configuração atual das gestões escolares é a desvalorização da coordenação pedagógica e a concentração dos poderes nos supervisores e mentores escolares.
Mesmo sem estar na lei de gestão das escolas, o governo instituiu a figura do mentor escolar, que se apresenta como facilitador para a equipe diretiva, mas assume função central no controle digital da gestão escolar. Mais especificamente, a gestão pedagógica das escolas passou a ser centralizada, definida e controlada por uma “sombra” burocrática e digital, com a instituição de uma infinidade de novas disciplinas, na qual os sujeitos definidores, protagonistas e construtores das mesmas não são os educadores nem os estudantes.
Diante deste contexto, faz-se necessário ampliar o debate sobre as condições atuais da gestão pedagógica das escolas e mais especificamente sobre a gestão pedagógica da sala de aula. Caso contrário, nós professores não seremos mais os gestores da sala de aula e passaremos a ser escravos da função burocrática de executar as determinações impostas pelo monopólio privado das sombras burocráticas digitais.
Autor: Israel Kujawa. Também escreveu e publicou no site “O valor da água para nossas vidas”: www.neipies.com/o-valor-da-agua-para-as-nossas-vidas/
Edição: A.R.