Essas balas não podem matar as nossas ideias.
Elas não podem matar o sentimento de mudança que
brotou em milhares após calarem essa
representação de luta.
No dia 14 de março de 2018 fui surpreendida com a terrível notícia de que a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco foi brutalmente assassinada. Executada no centro do Rio de Janeiro após nove tiros serem disparados contra o seu carro. Anderson Pedro Gomes, motorista da vereadora no dia do crime, estava na linha de tiro e também teve a vida ceifada neste episódio.
Marielle representava uma grande parcela da população carioca, foi a quinta mais votada da cidade. Representava um conjunto de ideias que defende as minorias (sociais), que busca igualdade e justiça. Era mulher, negra, lésbica e favelada. Estava ocupando um espaço de poder que há séculos tentam deixar o mais distante possível desta parcela da população.
Marielle era socióloga. Em sua dissertação de mestrado estudou as Unidades de Polícia Pacificadora no Rio, as UPPs. Ela se preocupava com o fato de o Brasil ser o país em que a polícia mais mata e mais morre. Era militante de Direitos Humanos e atuava diretamente com as famílias de policias assassinados na guerra carioca. Se preocupava com os outros seres humanos, com a sociedade, com o próximo.
Gritava bem alto que nem todo favelado é bandido e que nem todo bandido é favelado. Na atual conjuntura, por exemplo, o país está toda essa bagunça por planos orquestrados por bandidos moradores de condomínios chiques e pele clara, bem diferente da realidade na comunidade.
Defendia o direito das mulheres. Levou a discussão de gênero para a favela, empoderou aquelas mulheres. Discutiu com elas a maternidade da mulher trabalhadora. Não baixava a cabeça e não admitia que interrompessem sua fala, prática comum na sociedade machista que a gente vive.
Marielle me representa, muito. Lutava por tudo que eu acredito, se elegeu após uma campanha popular, sem compromisso com empreiteira, com grandes corporações, para ter que pagar a conta depois. O único compromisso de Marielle era com o povo que ela representava e que a elegeu. Seu único compromisso era com as pautas que acreditava.
Ao denunciar o abuso das Forças Armadas no Rio e a violência desnecessária utilizada contra os moradores da favela, Marielle cutucou um sistema podre. Logo após questionar o desempenho de um serviço público, que não estava cumprindo seu papel de maneira adequada e sem gerar qualquer resultado positivo, foi alvejada com balas de calibre 9mm.
A morte de Marielle, assim como outras mortes políticas na história, é um recado daqueles que sempre mandaram para aqueles que sempre obedeceram no país. Um recado dizendo que estes lugares não são para nós e que se chegarmos lá devemos ficar de boca fechada.Não foi um incidente, foi um assassinato e aguardamos que se descubram os culpados.
A morte de Marielle foi uma perda irreparável. Mas Marielle não era um único ser a defender estas pautas, estas pessoas. Essas balas não mataram suas ideias. Essas balas não podem matar as nossas ideias.Elas não podem matar o sentimento de mudança que brotou em milhares após calarem essa representação de luta.
Eu sou porque nós somos, ela dizia o tempo todo. E mesmo sem ela, nós seguimos daqui.
Marielle, presente! Anderson, presente!