Homo Imprudentis

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Estamos abusando e estressando a Terra ao tirar dela recursos para prover toda a nossa ganância material.

Hoje em dia, parece haver pouca dúvida de que o animal homem e a sua economia de expansão material global estão escrevendo a história dos tempos modernos assinando uma espécie de atestado de autoextermínio, à medida que se potencializa em diversos fronts o sepultamento do mundo verde.

Nessa direção, dado o que é possível conhecer até o momento, pesa-nos constatar que:

(i) cerca de 7,3 milhões de hectares de florestas são destruídas a cada ano no planeta; (ii) cerca de 350 milhões de hectares de florestas em todo o mundo foram destruídos pelo fogo apenas no ano 2000; em cerca de nove de cada dez casos de queimada há o envolvimento humano direta ou indiretamente; (iii) erosão, compactação e perda da matéria orgânica, entre outros, atingem quase um terço das terras do planeta; (iv) em 58% da superfície terrestre a perda da biodiversidade está abaixo do “limite seguro”; (v) entre 1970 e 2006, o número de espécies de vertebrados teve um declínio de 30% em todo o mundo; 40% das espécies de aves e 42% dos anfíbios apresentam população em queda, aponta o Panorama da Diversidade Global; (vi) baseando-se em dados fornecidos pela ONG WWF, notar-se-á que em apenas 40 anos (1970-2000), os sapiens destruíram 52% da fauna do planeta (notadamente, as espécies de mamíferos, pássaros, répteis, anfíbios e peixes); (vii) também nesse mesmo período mencionado, houve uma drástica queda de 76% das populações de espécies de água doce, de acordo com o Índice Planeta Vivo (Living Planet Index).

O preço dessa inconsequência, precisamos admitir, tem sido demasiadamente elevado. Estamos abusando e estressando a Terra ao tirar dela recursos para prover toda a nossa ganância material.

Fato concreto é que, hoje, como outrora, temos nos comportado como uma espécie estúpida (Homo imprudentis) com poder de afetar e desequilibrar a nossa própria qualidade da experiência humana. Justamente por isso se diz, a rigor, que temos configurado a era do Antropoceno – o período de tempo que tem combinado agressiva ação humana com poder econômico.

Para terminar essas pesarosas constatações, convém lançar uma pergunta incômoda que precisa ser prontamente respondida pelos gestores do mundo moderno: as economias contemporâneas podem crescer indefinidamente ou há, de fato, limites físicos e ecológicos para esse crescimento?

Respostas possíveis: diminuir a taxa de consumo material e energético das sociedades industriais; mitigar os efeitos nocivos sobre o meio ambiente; e, como uma espécie de prêmio final à qualidade de vida, construir uma combinação viável entre economia e ecologia, visando superar o confronto entre a produção humana e a natureza.

Da tentativa de consolidar um modo global de produzir que não respeita limites, principalmente os ecológicos (matéria e energia), tem resultado, tout court, num intenso foco de tensão entre o sistema econômico (a tecnosfera, produção humana) e o sistema ecológico (a ecosfera, a natureza). Leia mais!

Autor: Marcus Eduardo de Oliveira, economista e ativista ambiental. Autor de “Civilização em Desajuste com os Limites Planetários” (CRV, 2018), entre outros.

Edição: Alex Rosset

Economista, ativista ambiental e Mestre em Integração da América Latina pelo Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina (PROLAM), da Universidade de São Paulo (USP). Autor de Economia destrutiva (CRV, 2017) e Civilização em desajuste com os limites planetários (CRV, 2018). prof.marcuseduardo@bol.com.br

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