Isolamento social pode estar afetando desenvolvimento da fala das crianças

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Fonoaudióloga e professora da UPF esclarece a respeito da linguagem e orienta sobre a estimulação para o desenvolvimento da fala

A pandemia da Covid-19 transformou o mundo no âmbito econômico, social, educacional e de desenvolvimento.

Os reflexos disso ainda estão sendo sentidos e conforme especialistas há muito a ser estudado. Mas quando se fala em desenvolvimento, lembramos de uma geração de crianças que nasceram durante a pandemia e que não conhecem outro mundo que não o do isolamento social. Dessa forma, as interações voltaram-se para pais e familiares mais próximos, cerceada pelos “muros” dos cuidados para evitar o contágio da doença. Contudo, muitos pais têm se preocupado com o desenvolvimento da linguagem das crianças que parecem estar mais lentos no período.


Conforme a coordenadora do curso de Fonoaudiologia da Universidade de Passo Fundo (UPF), a professora Dra. Luciana Grolli Ardenghi, a linguagem começa a desenvolver-se desde o nascimento. “A criança inicialmente está plenamente engajada em uma interação social com o adulto. Entretanto, suas habilidades primeiramente estão direcionadas para a compreensão da linguagem e posteriormente, com a maturação neurológica, a linguagem começa a ser produzida por meio de vocalizações, balbucios, palavras e frases”, explica.

 Para Luciana, a linguagem é uma função social que precisa de interação e os exemplos em casa são fundamentais. “Os pais e irmãos são excelentes modelos para as crianças, entretanto o isolamento social vivenciado durante a pandemia da Covid-19 criou situações atípicas para as famílias. Pais que, apesar de estarem juntos fisicamente, não estavam disponíveis para a interação e, dessa forma, temos observado dificuldades na interação linguística da criança. Trata-se de mais um efeito negativo da pandemia”, comenta.

Ainda conforme a professora, pelo tempo extenso de distanciamento social, as experiências interativas das crianças foram alteradas. “Ainda estamos avaliando a repercussão desses fatores no desenvolvimento global, mas é certo que produzirão efeitos a longo prazo de forma mais ou menos intensa. Por isso, os profissionais precisam estar mais atentos aos critérios diagnósticos das patologias da linguagem”, destacou.

Marcos de desenvolvimento

De acordo com Luciana, há marcos no desenvolvimento das crianças em que os pais devem ficar atentos. Aos 6 meses, as crianças devem estar engajadas em jogos vocais com os adultos, caracterizados pelos balbucios (mamama, papapa, entre outros). Por volta de 12 aos 18 meses de idade, surgem as primeiras palavras e a velocidade de aquisição aumenta muito nesse período. “Chamamos essa fase de ‘explosão de vocabulário’, pois os pais relatam literalmente que ‘a criança está aprendendo muito rápido’. Em função desse repertório variado de palavras que a criança adquiriu, ela começa a juntar essas palavras em frases que inicialmente são compostas por duas palavras (‘nenê mamá’, ‘qué papá’) e ampliam-se até os 36 meses, quando produzem frases relativamente completas”, afirma.

Ainda conforme Luciana, é importante respeitar o ritmo de cada criança e, em caso de dúvidas, buscar o auxílio de um fonoaudiólogo, pois nessa fase é muito comum a família ter dúvidas sobre o desenvolvimento da linguagem da criança.

Estimulação
O ambiente no qual a criança está inserida é fundamental para a estimulação. Pais, mães, irmãos e avós são excelentes exemplos e modelos linguísticos e cada membro da família tem um papel importante nessa relação. “Essa troca se faz por meio de uma grande variabilidade de estímulos. A dica principal é variar os estímulos, acolher a linguagem da criança, apesar de suas dificuldades, questionar quando não compreender, proporcionar um ambiente seguro e desafiador ao mesmo tempo”, disse.

Dicas
Atitudes estimuladoras
: aguarde, espere, fique atento ao que a criança quer expressar. Brinque e divirta-se com jogos que a criança goste e desafie seu filho em novas brincadeiras.

Evite: ficar pedindo para a criança repetir, usar diminutivos (casinha, bonequinha, etc), falar em excesso sem dar tempo para a criança pensar.

Fique atento: quando as necessidades da criança são atendidas muito rapidamente e quando não há desafios adequados a sua idade no meio ambiente.
Importante: Crianças com distúrbios de linguagem têm a tendência de desistir facilmente ou frustram-se quando não são compreendidas. Por isso, crie um ambiente de acolhimento e carinho nessas situações. Além disso, as crianças não perdem habilidades adquiridas. O desenvolvimento é um processo contínuo. Por isso, quando a criança “esquece palavras” ou “para de falar” são sinais de grande risco para o desenvolvimento.

Clínica de Fonoaudiologia da UPF

A Clínica de Fonoaudiologia da UPF possui um conjunto de ações nas quais a comunidade pode beneficiar-se por meio de programas que realizam avaliação, tratamento e orientação às famílias.

Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: (54) 3316-8498, nos horários das 16h às 21h.

Foto: Arquivo/UPF  

Edição: Alex Rosset

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