[quote_box_right]“As universidades foram até aqui o refúgio secular dos medíocres, a renda dos ignorantes, a hospitalização segura dos inválidos e – o que é ainda pior – o lugar onde todas as formas de tiranizar e de insensibilizar acharam a cátedra que as ditasse. As universidades chegaram a ser assim fiel reflexo destas sociedades decadentes que se empenham em oferecer este triste espetáculo de uma imobilidade senil. Por isso é que a ciência frente a essas casas mudas e fechadas, passa silenciosa ou entra mutilada e grotesca no serviço burocrático. Quando em momento fugaz abre suas portas aos altos espíritos é para arrepender-se logo e fazer-lhes impossível a vida em seu recinto. Por isso é que, dentro de semelhante regime, as forças naturais levam a mediocrizar o ensino, e o alargamento vital de organismos universitários não é o fruto do desenvolvimento orgânico, mas o alento da periodicidade revolucionária.”
(Da Juventude Argentina de Córdoba aos Homens Livres da América – Manifesto de Córdoba, 1918)[/quote_box_right]

Há 98 anos, desencadeava-se um dos mais importantes acontecimentos da história universitária Latino-Americana. Os estudantes da Universidade de Córdoba, conhecida neste período como a mais tradicional da Argentina, rebelavam-se contra este modelo de ensino herdado da Europa, adjetivando-o nos termos evidenciados na passagem acima.

O Manifesto de Córdoba ganhou proporções de acontecimento histórico justamente por ter denunciado aquilo que as universidades do seu tempo demonstravam ser: antiquadas, tiranas, insensíveis e senis. A juventude de Córdoba em seu ato de revolta abriu brechas para um projeto de universidade com características próprias, com uma identidade Latino-Americana. O elemento central deste projeto de universidade aos moldes Latino-Americanos se caracterizava pelo desejo de abertura da academia para a sociedade. Para estes estudantes, a universidade deveria abrir-se à realidade, aos problemas sociais, às comunidades locais, dessacralizando os conhecimentos catedráticos desta instituição e colocando-os a serviço do povo.

Neste contexto, a extensão universitária tem sido um espaço potente para estabelecer outros processos de interlocução entre universidade e comunidade. A superação da extensão enquanto prática assistencialista, bem como a ruptura com a lógica da transmissão de conhecimentos dos especialistas para as comunidades supostamente aculturadas, tem sido as premissas básicas desta extensão Latino-Americana. A abertura buscada pela juventude universitária de Córdoba encontrou seu espaço dentro da academia através da proposição de práticas de extensão comprometidas com a promoção da autonomia das comunidades e da valorização de seus saberes.

Desde lá, nós extensionistas temos estabelecido diversas estratégias éticas e políticas de atuação no contexto da interrelação universidade/comunidade, a fim de provocar mudanças em ambos os espaços. Dentre essas estratégias, destacamos as Jornadas de Extensão do Mercosul (JEM) como principal ferramenta de articulação das extensões Latino-Americanas.

As JEM’s tem sido um espaço único de compartilhamento de experiências e inquietações despertadas pelas práticas extensionistas. Essas distintas vivências em extensão tem a sua riqueza expressa nas diferenças culturais, étnicas, políticas e sociais. Ao mesmo tempo, esses espaços de encontro e diálogo demonstram desafios, pautas e afetações comuns entre os sujeitos, grupos e países envolvidos nesses eventos.

Porém, estas características de uma universidade autônoma e enraizada socialmente apesar de estarem muito presentes nas universidades latino-americanas, não necessariamente são hegemônicas nestes espaços. A universidade é fundamentalmente plural, e por isso está permanentemente em disputa. Distintos projetos, com seus respectivos sentidos e objetivos convivem e tensionam-se, compondo uma certa identidade universitária, que varia conforme os saberes estabelecidos, as práticas desenvolvidas e o contexto ao qual esta instituição está inserida. (Retirado)

Em 2011, realizou-se em Olivarría a primeira JEM, a partir de uma parceria entre a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Faculdad de Engenería da Universidad del Centro de la Província de Buenos Aires (UNICEN). Desde então, tem-se realizado edições da JEM com sua sede intercalada entre Brasil e Argentina, sendo que em 2012 a mesma ocorreu nas dependências da UPF e em 2014 em Tandil, cidade sede do campus central da UNICEN. Em 2015, realizou-se na UPF nova edição do evento, sendo deliberado que em 2016, aos dias 19 e 20 de maio, será realizada a V Jornada de Extensão do Mercosul, novamente em Tandil-Argentina.
A Extensão da UPF, comprometida com as práticas pautadas no fazer Com, tem sua presença garantida em Tandil. Alunos, professores e funcionários extensionistas participarão do evento, compartilhando suas experiências e estabelecendo relações de aprendizado mútuo com os demais sujeitos envolvidos na JEM.

 

Referência
BARROS, E. F.; VALDÉS, H.; BORDABEHERE, I. C.; SAYAGO, G.; CASTELLANOS, A.; MÉNDEZ, L. M.; BAZANTE, J. L.; MACEDA, C. G.; MOLINA, J.; PINTO, C. S.; BIAGOSH, E. R.; NIGRO, A. J.; SAIBENE, N. J.; ALLENDE, A. M.; GARZÓN, E. Da Juventude Argentina de Córdoba aos Homens Livres da América: Manifesto de Córdoba. 1918. Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/10/399447.shtml. Acesso em: 05/05/2016.

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