Não basta ser jornalista, tem que ser contra o racismo,
contra o machismo, contra a homofobia, contra o colonialismo.
Tem que ser defensor dos direitos humanos e defensor do povo.
No dia 07 de abril é o Dia dos Jornalistas. Mas, jornalistas, somos todos os dias e o tempo todo.
Há pouco mais de um ano, decidi dar uma pausa na atuação profissional para me dedicar à minha formação. Ainda assim, o jornalismo pulsa em mim, é parte fundamental do que eu sou e de como vejo o mundo.
Jornalista não é uma profissão isenta de culpas e imparcial, por certo. É claro o papel que a mídia e os jornalistas desempenharam, pelo bem ou pelo mal, para que chegássemos aonde estamos, no que se refere à situação política e social do Brasil.
Eu, que sempre acreditei no jornalismo como uma ferramenta de mudança social, me decepciono cada vez que o vejo sendo utilizado para a manutenção de um bloco do poder que perpetua o racismo, o machismo, o colonialismo e tantos outros problemas que estão na estrutura da sociedade.
O jornalismo (e o jornalista) não deve ser romantizado. Aprendi isso pela dor de ver muitos comunicadores prestando desserviços para a sociedade, apresentando opiniões cheias de preconceito, escrevendo manchetes e matérias que culpabilizam as vítimas em casos de estupro, que condenam pessoas pobres, negras e periféricas quando para a justiça são suspeitos.
A linguagem tem poder. Não são apenas palavras.
Ainda assim, acredito que a comunicação livre é um dos pilares da democracia e que o jornalista cumpre papel fundamental nesse processo – por mais que ainda não tenhamos experimentado uma democracia estável no Brasil. Só uma imprensa livre é capaz de garantir que a máxima “poder do povo” seja minimamente efetiva, longe de manipulações.
Em meio a uma pandemia do COVID -19, ver os jornalistas na linha de frente, correndo riscos, sendo atacados pelo (des)governo e pelo protótipo totalmente errado de presidente que temos, e ainda assim mantendo-se firmes na missão de informar a real situação da crise, me faz sentir orgulho da profissão.
“As ruas precisam continuar vazias para que os jornalistas continuem trabalhando por vocês”.
Ver o crescimento dos veículos independentes e a sua luta diária na construção de uma outra narrativa, na produção de um jornalismo contra hegemônico, me faz ter esperança na profissão. É nesse jornalismo que eu acredito e é esse jornalismo que eu quero ajudar a construir.
Rendo homenagem aos jornalistas que fazem jus ao importante papel que assumem. Mas é necessário lembrar: não basta ser jornalista, tem que ser contra o racismo, contra o machismo, contra a homofobia, contra o colonialismo. Tem que ser defensor dos direitos humanos e defensor do povo.
“Hoje, os melhores textos do jornalismo de fôlego, das grandes reportagens, são de mulheres. E a melhor coisa no jornalismo é o “excesso” de mulheres, que fazem hoje o que a repórter Celia Ribeiro já fazia nos anos 60 e 70. Elas já são maioria nas redações”. (Moisés Mendes)