Juju e o cantinho do pensamento

725

Será que os pensamentos são peraltas, também? Será que eles só fazem o que querem? Era uma coisa que Juju nem eu sei dizer para você, querido leitor. Vamos descobrir juntos, procurando conversar com os nossos pensamentos? Que tal a ideia?

Juju era uma menina feliz. Cheia de energia e saudável corria, pulava, brincava, subia em cima dos móveis da sala, jogava os brinquedos para cima, espalhava as suas roupas no chão do quarto, gritava só por gritar, às vezes achavam que ela queria chamar a atenção.

Ninguém gostava das coisas que Juju aprontava dentro de casa. Era um Deus nos acuda quando ela não ia à escola. O papai não conseguia se concentrar para trabalhar com ela mexendo nos seus papéis e desarrumando tudo e a mamãe nunca via a casa arrumada sempre tropeçando em um ou outro brinquedo que Juju largava por onde passava.

Aquela menina dava muito trabalho, diziam as pessoas. Merece umas palmadas, mas a mamãe não batia nela e nem o papai. Eles não aceitavam educar crianças daquele jeito. Até que um dia ensinaram para os pais de Juju um tal cantinho do pensamento que não dói, não machuca e disciplina criança igual a ela.

E na primeira teimosia de Juju ela foi enviada para o tal cantinho do pensamento que ficava no meio da cozinha entre o armário e o bebedouro. Não tinha nenhum conforto. Era um canto qualquer apenas. Sentada de frente para a parede branca, Juju ficava ali por horas até que seus pais achassem que ela tinha aprendido a lição.

No cantinho do pensamento, a raiva de Juju aumentava e ela ficava pensando em fazer coisa pior quando saísse dali só para se vingar dos pais por colocá-la naquela situação. Ela sofria naquele cantinho sentada em cima de um tapete de pano. Passava todo o tempo maquinando uma coisa terrível para fazer com todos os seus inimigos que a colocaram ali.

Quando saía do cantinho do pensamento, cabisbaixa, a mamãe cheia de orgulho por ter-lhe dado uma boa lição sem machucá-la e nem lhe causar dor física a Juju ia em busca da sua primeira vingança. E aprontava tudo de novo. Mais uma vez voltava para o cantinho do pensamento. Foi assim durante vários dias até seus pais perceberem que aquele tal cantinho estava atrapalhando o desenvolvimento intelectual e emocional de Juju.

Ela estava mais teimosa a cada dia, mais arengueira, mais gritalhona e na escola não conseguiu aprender mais nada apenas brincando e mexendo com as outras crianças. Os pais concluíram que os minutos que Juju passava no cantinho do pensamento não lhe traziam amadurecimento ou experiências boas, mas de certa forma, machucavam o seu pequeno espírito.

Então, eles acabaram com o cantinho do pensamento e Juju pôde finalmente voltar a brincar, gritar, correr, pular e espalhar os brinquedos pela sala. Afinal, era apenas uma criança de quatro anos de idade. Muita nova para ser castigada daquele jeito.

Juju ficou com marcas que levaria para o resto da sua vida, pois quando alguém a convidava para pensar em algo ela logo começava a chorar dizendo que não queria lembrando do tempo em que existia o cantinho do pensamento.

Para tirar aquele trauma foi preciso levar Juju ao psicólogo e conversarem sobre o que ela estava sentindo. Juju tinha medo de pensar, disse a mamãe chorando e o papai preocupado. A psicóloga boazinha conversou com Juju que confirmou que tinha medo de pensar.

Depois de muitas sessões de terapia com a psicóloga e a nova forma como seus pais passaram a educá-la, Juju sentiu-se melhor e começou a ficar um tempo sozinha pensando nas suas coisas, na sua vidinha, nos seus brinquedos. Ela aprendeu que pensar era uma coisa legal e para pensar podia ser em qualquer local. Não precisava de um cantinho de pensamento feio para pensar.

Os pais lhe pediram desculpas e ela ficou toda feliz ao descobrir que pensar era uma coisa maravilhosa! Quando chegava alguém na sua casa ela puxava a pessoa pela perna convidando-a para pensar junto com ela.

Juju gostava de pensar debruçada sobre a janela do seu quarto de dormir com o seu gato ao lado e um vaso de plantinha do outro. Às vezes o pensamento não vinha, ficava com raiva e ia dormir.

Será que os pensamentos são peraltas, também? Será que eles só fazem o que querem? Era uma coisa que Juju nem eu sei dizer para você, querido leitor. Vamos descobrir juntos, procurando conversar com os nossos pensamentos? Que tal a ideia?

FIM

É preciso acabar com todas as formas de castigo que traumatizam as crianças. Pai, mãe, professor, não criem cantinho do pensamento em casa ou na escola. Criem ambientes onde a sua criança possa se sentir segura e confortável. Leia mais: https://www.neipies.com/o-cantinho-do-pensamento-causa-dores-e-traumatiza-a-crianca/

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

DEIXE UMA RESPOSTA