Eduardo Galeano resumiu: “os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me disse que somos feitos de histórias”. E eu acredito mais em Manoel de Barros que nos cientistas: “Eu penso renovar o homem usando borboletas”.
O termo “literatura infantil” vem sendo revisado por alguns escritores e críticos. Preferem usar “literatura para crianças” ou “literatura para a infância”. Isso porque o termo “infantil” pode soar pejorativo, como se fosse algo menor ou até não literatura.
De minha parte, prefiro falar de livros para a infância, cuja principal característica é ser uma literatura que se firme por padrões estéticos e se dedique ao diálogo com a infância e suas problemáticas. Esses textos, os bons, podem (e devem) ser lidos por humanos de qualquer idade, porque, ao promoverem o diálogo com a infância, problematizam a vida humana em suas questões fundamentais.
Ler e contar histórias para as crianças é unanimidade entre pedagogos e psicólogos, embora, entre teoria e a vida, pais acalmem os filhos com um celular ou tablet. É muito mais cômodo. Esse segredo simples é um daqueles tantos outros: são óbvios, mas ninguém leva a sério. Contar histórias fica a cargo da escola, isso quando esta não se resume ao cumprimento de programas pedagógicos, o que acontece na maioria das vezes.
A coesão narrativa tem o dom de costurar os fragmentos da vida no mundo, dá unidade, constrói sentido, demonstra as crises dos desejos e os empecilhos aos sonhos. As boas histórias não precisam de enredos magníficos ou peripécias incríveis. Basta um ser humano, ou algo que lhe seja metáfora, em busca da realização de um desejo. Esse desejo pode ser a fuga de uma vida medíocre, como em Madame Bovary, ou o desejo de trazer um peixe para a terra, como em O Velho e o Mar, ou, simplesmente, em destruir gigantes imaginários por amor, como em Dom Quixote. Quanto às histórias infantis, há tantas!
Essa característica da linguagem, pelo que se sabe até hoje, é inerente apenas ao ser humano. Embora se saiba que golfinhos se comunicam, que pinguins resmungam, que os elefantes soltam gritos alertando perigos, não se imagina qualquer desses animais relatando a história da família aos filhotes ou fazendo-os dormir com contos de fadas ou de bruxas.
Uma rede de televisão fez uma reportagem sobre uma experiência médica com prematuros. Um grupo deles foi submetido à contação de histórias por voluntários ou familiares, outro teve apenas o tratamento convencional. A experiência revelou uma melhora significativa naqueles bebês que ouviam histórias, um aumento da resistência às infecções e uma estabilização dos batimentos cardíacos, entre outros benefícios. A voz humana, além do enredo – que seguramente os recém-nascidos não entendem –, transmite emoções. Segundo a médica, esse vínculo afetivo com a voz é que produz os efeitos físicos.
Eduardo Galeano resumiu: “os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me disse que somos feitos de histórias”. E eu acredito mais em Manoel de Barros que nos cientistas: “Eu penso renovar o homem usando borboletas”.
Autor: Pablo Morenno. Também escreveu e publicou no site “Afeto não fere”: www.neipies.com/afeto-nao-fere/
Edição: A. R.