Leonardo Boff e Marcelo Barros lançam interessantes livros

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LEONARDO BOFF

Acaba de ser lançado pela Editora Vozes de Petrópolis o meu livro: “O Covid-19: um contra-ataque da Terra contra a Humanidade”. Trata-se de uma reflexão sobre o significado da irrupção do coronavírus e quais lições devemos tirar dele. Em primeiro lugar procuro contextualizar o Covid-19. Ele não pode ser visto isoladamente nem ser abordado apenas pela medicina, pela técnica, pelo conjunto dos insumos e pela busca desenfreada de uma vacina eficaz.


Ele não irrompeu aleatoriamente. Ele só pode ser adequadamente entendido a partir da sistemática exploração e devastação que as sociedades humanas levaram a efeito nos últimos três séculos contra a natureza e a Mãe Terra. Esta é, segundo um dado científico contemporâneo, é um Super Ente vivo que, de forma sistêmica, organiza todos os elementos e fatores, químicos, físicos, informacionais e energéticos, numa palavra, ecológicos para continuar viva, auto-reproduzir-se como viva e gerar a diversidade de vidas sobre seu solo.

Ora, esse processo natural foi profundamente afetado com a intrusão dos sistemas produtivos de exploração e de produção, visando mais e mais vantagens materiais para os seres humanas. Especialmente ganhou forma, hoje mundializada, pelo modo de produção capitalista. Este trata a Terra de forma meramente utilitarista, sem nenhum respeito a seu valor intrínseco, apenas como uma espécie de baú cheio de recursos (bens e serviços, bondades na linguagem do andinos) à disposição do ser humano. Essa intrusão foi tão violenta e crescente que encostamos nos limites da Mãe Terra.

Como todo organismo vivo que ela é, sente os golpes e começa a se defender. Envia-nos sinais que devem ser interpretados: o aquecimento global, a erosão da biodiversidade, a escassez de água potável, a desertificação  crescente. E já há anos enviou-nos uma gama de vírus, como a zika, o ebola, a chicungunha, os vários tipos do vírus SARS. O Coronavírus é uma derivação do SARS. Pela primeira vez na história, este vírus afetou todo o planeta. E no planeta apenas os seres humanos, não nossos cães e gatos e outros animais domésticos ou da natureza. O Covid-19 está dizimando duramente vidas humanas, passando já de um milhão e no Brasil mais de 140 mil vítimas.

Atrás destes números se esconde uma via-sacra de sofrimento de milhões de pessoas, maridos, esposas, filhos, filhas, parentes, amigos e conhecidos. Somos atualmente uma humanidade crucificada. E devemos baixá-la da cruz e ressuscitá-la.

O livro mostra que se tivéssemos seguido os mantras do sistema dominante, o industrialista devastador: o lucro, a competição, o individualismo, a primazia do mercado, a diminuição do Estado e a completa falta de cuidado das vidas humanas e da natureza, estaríamos agora sob um grande risco acerca de nosso futuro comum. O que nos está salvando são os valores e princípios ausentes no sistema de produção e de cultura que criou: a centralidade da vida em vez do lucro, a solidariedade em vez da competição, a interdependência de todos em vez do individualismo, o cuidado de uns e de  outros, da natureza e da Mãe Terra em vez da exploração,  o Estado adequadamente abastecido para atender demandas humanas e emergências e não  o mercado puro e simples com sua ferocidade.

O livro aborda estas questões e procura enfatizar o significado do confinamento social e da distância de conglomerações. Seria uma espécie de retiro existencial para perguntarmo-nos: afinal o que conta, a vida ou o lucro, a economia ou a salvaguarda da biodiversidade? Nas resposta a estas questões se oculta a exigência de uma mudança de rumo, a inauguração de uma outro paradigma, vale dizer, de um outro modo de habitar a Casa Comum, amigo da vida, cheio de respeito, de solidariedade e de cuidado.

O pior que nos poderia acontecer, seria voltar ao que era antes e reproduzir a taxa de altíssima iniquidade social e ecológica, exatamente esta que ocasionou um contra-ataque da Mãe Terra contra a humanidade. Ou mudamos ou vamos encontro do pior e eventualmente de vírus ainda mais letais que dizimariam profundamente a espécie humana.

O livro será continuado por outro: “As dores do parto da Mãe Terra: as perspectives de um outro tipo de humanidade” a sair pelo final do ano.

Não anunciamos otimismo mas esperança, aquele motor interno a cada pessoa e aos processos sociais e vitais que nos dá coragem para enfrentar crises e emergências planetárias e encontrar saídas salvadoras.

Animam-nos as palavras da Revelação que nos dizem: “Deus criou todas as coisas com amor…pois Ele é o apaixonado amante da vida”. (Sabedoria 11,26). Um Deus assim apaixonado não permitirá que nossa vida humana, já assumida pelo Verbo e pelo Espírito Santo, tenham um fim trágico. Vamos dar um salto para cima e vamos levar avante o nosso penoso e criativo processo civilizatório e vamos ainda brilhar.


MARCELO BARROS

Heloísa Périssé conversa com os autores Henrique Vieira e Marcelo Barros sobre “O monge e o pastor”, que acaba de chegar às livrarias pela editora Objetiva.

No livro, um monge beneditino e um pastor evangélico trocam mensagens durante a quarentena abordando temas como espiritualidade, fé, engajamento político e o medo da morte. Deste fraterno diálogo surgem preciosas reflexões que apontam caminhos para um futuro mais solidário.

Acesse o link para ter acesso ao debate com os autores:

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